quinta-feira, abril 26, 2007

um novo mundo

amanhecer é isto. espreguiçar-me perante a janela. desvendar um novo mundo agarrada às paredes carregadas de telas. que me falam de ti. cruzar o olhar com o céu. descobrir nele as cores de sempre. e ficar feliz por isso. por estar aqui. a perscrutar com o meu divino olhar a massa de mundo que se estende à minha frente. sempre nova. porque há uma racha nova no vaso que se esconde no parapeito da janela. porque a cadeira onde me sento, para tomar o café, é tão antiga, reparo só hoje. e sempre sentei aqui desde sempre. a parede é azul. azul a imatar o céu lá fora. amanhecer é dizer-te bom dia. novo mundo. meu. tão meu. que fecho as portadas das janelas e vou para a rua. à procura de outros mundos, espreguiçando-me por outras janelas de onde se avistam outras telas.

quarta-feira, abril 25, 2007


porque foram as primeiras flores que recebi de um homem. o meu pai. porque são as flores que cultivo desde sempre dentro de mim. são as flores da liberdade. da minha e da dos outros. são o sangue que me corre nas veias. as flores do meu pensamento. porque hoje é 25 de abril.

sexta-feira, abril 20, 2007

porque hoje

por ti, para ti


porque hoje acordei e senti a falta de tudo. do ponto exacto no mapa onde era possível nos encontrarmos. há dias em que esse ponto não existe. como hoje. falta-me a praia. as falésias embrutecidas pelo toque violento do mar. falta-me o fio de prumo que tornava o céu tão certo e tão nosso. faltam-me os teus braços que me fazem rodopiar. e lembrar-me de ser pequena. faltam-me os teus olhos gritantes de sonho. falta-me o corpo que aqueça o tom pálido da minha carne. falta-me tudo hoje. faltas-me tu. falta-me o beijo quente do destino pelo qual anseio desde sempre. desde que te tornaste o passaporte para os meus sonhos. de menina. ainda. para ti.

quarta-feira, abril 18, 2007

assim...

Assim... de ombros nus, abraçada a mim mesma. porque ainda é o único abraço que me consola e me isola do mundo. das dores. e dos outros. que não me conseguem agarrar. nem suster o meu medo, as minhas lágrimas ou a minha emoção no seu abraço. assim abraçada a mim. ainda mais sozinha. ainda mais eu. comigo mesma. agarrando-me. suspensa na corda bamba. assim de ombros descobertos, abraçada. entre o afecto e o desespero. embalada pela nostalgia das coisas que passam sempre. hoje dói mais apenas. o quê? tudo. hoje dói mais tudo. numa dor aguda quase física. onde? por todo o corpo. dentro do corpo. por dentro de mim. assim abraço-me. para passar o tempo.

segunda-feira, abril 02, 2007

ela...

Ele há rostos que nos tocam. Nos ficam. E nos perseguem. É assim o rosto desta mulher. A preto e branco. Porque sim. Porque só conheço duas cores. Estas duas. Tudo o resto são derivações. Mas ela é única. E vejo-a. Sentada na cadeira de balouço. À espera que lhe pousem as borboletas na mão. Ninguém sabe o que espera. Ou sequer se vai voltar a falar. Há vozes como a dela, doces e ternas, que nos fazem voltar ao início de tudo. Ao algodão doce na extinta feira popular. Ás histórias de encantar. Ela é uma princesa ainda. De voz adormecida e rosto calado. A mão estendida. À espera da borboleta. Do amor que a toque. A levante e lhe fale baixinho ao ouvido. Só para a ouvir de novo cantar.



(ela não fala há quase dez anos. habita um mundo de silêncio. só seu. e meu que a espio na vã tentativa de a ouvir novamente. como há quase dez anos. em que era tudo tão mais fácil)