terça-feira, fevereiro 24, 2004

Cantos e recantos


A imagem foi retirada daqui


Sobrou a cadeira de baloiço. Sobraram as tardes. As árvores e as cores que faziam deste recanto, o nosso cantinho. Mesmo quando ainda só havia esta cadeira de baloiço, o colchão, o fogareiro de campismo e duas canecas azuis pintadas por ti. As canecas partiram-se na nossa primeira discussão. O fogareiro foi para o lixo. Sobrou a cadeira de baloiço. Sobrou a terra húmida em que enterrávamos as mãos para a cultivar. Sobraram as árvores ardidas que morreram de pé num desses Verões quentes que ainda acontecem por aí. Ainda sobrou muita coisa. Sobrei sobretudo eu. Sobraram as memórias de momentos perenes que os instantes não deixaram durar.

domingo, fevereiro 22, 2004

Previsões metereológicas

Céu nublado. Cheia de nuvens. Carregadas de energia e prontas a explodir numa magnífica trovoada colorida de relâmpagos. E chuva. Que em mim são lágrimas tuas.

sábado, fevereiro 21, 2004

Labirinto


Ando um pouco mais. Perco-me. Vislumbro um novo caminho e volto a andar um pouco mais. Perco-me. E sem saber como nem porquê, sei que estás do outro lado deste labirinto. Volto a andar com a esperança renovada de todos os viajantes perante mais uma encruzilhada. Ultrapasso as armadilhas. Por uma única recompensa. Tu. Agora perdi-me novamente. De ti. E tantas mais vezes de mim mesma.

terça-feira, fevereiro 17, 2004

O vestido



A preto e branco. Como nos filmes. Que deveriam terminar com um beijo longo e apaixonado. Cheio de magia, de cores e sabores. Em que eu deveria conhecer a tua boca e saber de cor o seu sabor, a textura dos teus lábios, de olhos fechados. Mas não há beijo, há apenas o regresso de uma viagem ao Porto que não cheguei a fazer. E há o vestido de noite que não chegou a acontecer. E há o resto. O inexplicavél que já nem sequer vale a pena falar. Sem pausas. Porque tinha que ser assim.

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Pausas



uma pausa...justa, merecida e sobretudo muito necessitada. Vou de férias. Para o Porto. Eu porque preciso e o blog por acrescento. Vou esvaziar a cabeça. Tentar não pensar em nada e sobretudo tentar não sentir nada. Nada mesmo. Não é uma fuga. Porque mesmo que quissese fugir de ti, nunca poderia fugir de mim mesma.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

de veludo

em pequenos toques que me acariciam a pele. O beijo pequeno dado no canto da boca à espera de mil promessas, as mãos entrelaçadas numa troca sempre silenciosa. O filme na Tv. As palavras que saiem agarradas sempre umas às outras agrafadas a ternuras e aventuras. A minha pele na tua pele, deslizando e arrancando-te a alma. O som, o silêncio. Eu e tu. Enterrados em veludo. A sabermos tudo sobre nós. A esquecer-nos de dizer o essencial. A lembramo-nos de nós mesmos quando a pele toca a pele. Quando o prazer acontece. Quando és quase quase quase meu. E eu sou tão tua que me esqueço por vezes de ser minha.

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Tantas e tantas histórias

fazem este blog. Dão corpo às palavras. Dão-me alma a mim. Devolvem-me sorrisos. E são minhas. Rasgadas, queimadas, filtradas. Esquecidas. Requentadas uns tempos depois. Quentes ou arrefecidas. Leves ou carregadas com o peso do caminho. Do passado. E do futuro. Do que ainda não se fez. São as minhas histórias. Quase tão vossas como minhas. Porque são reinventadas por vocês...

Garrafinhas d'água

Ainda te lembras da expressão? E da descoberta? Das palavras à voz, da voz à imagem? Foi apenas um único instante num naufrágio aparente de ideias, ilusões e sentimentos. De palavras que se colaram umas às outras e que se fizeram desaparecer. Mergulharam num azul profundo e esqueceram-se de ser palavras. De unir pessoas. De suprimir distâncias. Flutuam apenas. Como garrafinhas d'água que alguém quis largar em mar alto. Aqui bem perto de nós...

Anoitece

como se fosse possivél o dia acabar entre nós. Como se a luz da noite quissese enfranquecer o nosso brilho. Como se o silêncio pesado das madrugadas se pudesse substituir as nossas palavras. Como se fosse possivél cristalizar sentimentos e estes pudessem ficar suspensos num único dia. Como se fosse possivél que a noite nos intimide e nos faça esvanecer. Em fragmentos. Que são estrelas. E que se avistam ao fundo. Inertes.
Anoiteces. Ainda que nos meus braços. Mas já tão distante...

terça-feira, fevereiro 03, 2004

E poderia ter sido tudo tão diferente...

Não poderia? Deixa-me acreditar que sim. Que eu poderia ter outro corpo. Que tu me poderias ter amado. Que poderias ter entrelaçados as tuas mãos com as mãos e que no fim dia poderíamos ter sido felizes. Eu poderia ter outro corpo que tu descobrisses lentamente. Com os olhos, mãos e língua em movimentos totais e absolutos. Como poderia ter sido o teu amor por mim. Absoluto. Como poderia ter sido amor, em vez dessa outra coisa qualquer indefinivél que sentias por mim. Que me fez agarrar-me a ti, enquanto me acabava a separar de mim mesma. Poderia ter sido tudo tão diferente, se tivesses amado o meu corpo ou seu pudesse ter outro. Poderia ter evitado as lágrimas e os cortes na pele. O sangue a alagar o meu corpo que já pede redenção depois de tantas dores. Poderia ter sido tudo tão diferente. Até me poderias ter amado. E eu assim poderia ter uma boa razão para viver.

Assim foi...

o esgaçar da nossa pulseira. O inicio de algo que pretendíamos duradouro. Que pudesse iludir a solidão de dois corpos habituados a resistir sozinhos às intempéries. Assim foi numa noite, numa cama vazia de si, que ela se desprendeu de mim. Há sempre um tempo para tudo. Até para o fim. Para o o fim destes elos que pensámos inquebráveis assim que nos comprometemos a existir no leve espaço de um beijo ou de uma palavra. Assim foi o esgaçar da nossa pulseira. Do nosso elo. Assim foi o nosso fim, numa cama vazia de ti e de mim.