estás sentada à minha frente e desenrolas uma história. a tua história. entre a dúvida se devo sorrir ou deixar que a lágrima teimosa desça sobre mim, paro apenas. sustenho a respiração enquanto suspendo o mundo e ouço-te. mulher agora. miúda há tempos atrás porque não te vi crescer. e no entanto estás aqui frente a mim a desenrolar uma história cheia de gritos que se cristalizaram dentro de ti, cheia feridas invisiveis que os outros teimam em não reparar, cheia de esconderijos secretos, os quais te permitiram sempre fugir. até hoje. porque me contas finalmente a tua história. de silêncios que se queriam, em algum momento, gritos. de sorrisos que foram máscaras de lágrimas, de palavras que se atentamente lidas eram pedidos de socorro. és jovem e forte. como são todos aqueles que acreditam no amanhã que ainda está por construir. como são todos aqueles que amam apesar de...
sou a tua ouvinte passiva porque me pediste. pagaste à recepcionista o preço da consulta. tiveste de começar a telefonar para casa das pessoas, a tentares vender a banha da cobra, para poderes falar. para eu te poder ouvir. devia ser de graça ouvir-te, penso. ninguém deveria ter de pagar para poder gritar tudo o que se acumula. tu pagaste. e agora estás aqui. eu de frente para a história. a tua.
calas-te. apetece-me pegar na tua mão e acreditar contigo. como tu acreditas apesar de tanta coisa, amar como tu amas apesar de...
os ponteiros do relógio marcam o fim. não sei ainda se voltas. ou se a tua história voltará contigo.
2 comentários:
É difícil saber, resta arriscar.
Uau... Fizeste-me lembrar parte do meu trabalho também...
Bjs*
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