quinta-feira, julho 26, 2007

last dance

Espero por ti se me concederes a honra da última dança. A última de todas. Quando todos já tiverem partido e já não haja ninguém para nos ver. para aplaudir os nossos movimentos desejeitados de tão tímidos e ternos. podes entrar à sucapa a meio do baile ou optar por me espreitar de quando em vez. saberei sempre onde estás. é lá o meu mundo. como poderia simplesmente não te reconhecer? Sente o toque suave da fita de cetim que me prende os cabelos ou do azul do veludo do meu corpete. Sei que sabes, que por debaixo da renda da minha saia se esconde a pele branca torneada das minhas pernas. sabes tanta coisa e no entanto...
Espero por ti se me concederes a honra da última dança. Não importa a idade. se calhar estaremos de bengala os dois e seremos avós. será a derradeira dança entre parufusos que prendem os ossos ao corpo e óculos a derraparem no declive do nariz. serão dois velhos tontos a descobrirem o amor. será a última dança. a mesma que não dançámos quando tínhamos vinte anos e éramos ainda mais tontos.

3 comentários:

Anónimo disse...

I

Estive aqui sorrateiramente como inúmeras vezes antes.
"Espreitei".
Li.
Pigarreei.
Vi. Flecti
os músculos---alguns daqueles que o tempo me permitiu que conservasse ainda um pouco mais comigo.
Junto a mim.
Respirei fundo.
A medo, ensaiei uns passos de valsa.
De tango.
De tempo.
De tengo.
De rock.

De rocha.

II

A medo, o corpo respondeu: "Bom dia! Sou o teu corpo... chamaste?"

Olhei-me em silêncio: ERA o meu corpo!
"Chamei!"

E isso tudo.


Como um velho gato sonolento, começou a mexer-se. A desenrolar-se. To unravel itself.

Numa espécie de deliciosa angústia que me consumia o rosto e, no fundo, todo o resto, comecei eu próprio, dentro dele a tomar assento em cada um dos movimentos que fazia.

Era talvez a Vida!
Era---disse-me---talvez a Vida que.

Uma última identidade?
Um último Tempo.
Uma última prata, uma última Primavera.

Um último rio, uma última memória,

uma última
dança?...

K. disse...

Sorte tem quem conseguir essa dança, que tantas vezes não é a nossa última nem a primeira, mas é a dança em que ficaremos para sempre, algures no espaço e no tempo, na espiral da memória do que foram os dias... beijo.

Sophia Paixão disse...

Simples.Bonito.Mágico.Como em muitas outras vezes.

À medida que nos tornamos mais pequenos com a idade, crescemos no amor. No amor, esse estranho lugar onde ainda, tontos, somos capazes de rodopiar.

Há muito que passo por cá e semre gostei do espaço.Parabéns.

beijo*