segunda-feira, abril 14, 2008

Lasanha

Poderia ser o meu prato favorito. A receita mais saborosa das minhas habilidades de dona de casa. É a recordação do sabor, do odor intenso do tomate temperado com oregãos e vinho branco a cozinhar lentamente, da textura da carne picada sabiamente picada e refogada na cebola e no alho. É a lembrança do meu comer na tua boca. É a lembrança da tua boca. De tu em mim. As natas aveludadas manchando os lábios. E o queijo pequeno aos bocados derretendo-se na língua. fundindo-se em nós. Na mágica alegria dos imprevistos.
Por graça quase parecíamos uma colagem de algum artista perversamente intelectual. Quem nos imaginaria colados? Quem nos poria na mesma tela? Ou até na mesma vida?
Só quem não resiste às tentações. Do espírito da carne. Tudo a nu. Por nós.

Lasanha ainda. Apesar de tudo.

3 comentários:

delusions disse...

uma receita que não me consegue deixar indiferente...


Sofia*

c.bruno disse...

pequena-grande maria, haverá alguma coisa que tu escrevas que não seja perfeita? :)

Anónimo disse...

Ah! Por favor, não me falem de lasagna!
Quantas recordações!
Uma garrafa de vinho imperfeitamente arrefecido (digamos: deliciosamente descomposto na sua lenta, curva, branda tepidez); dois corpos seminus bebendo a haustos a própria transpirada imobilidade, como (literalmente!) suspensos (pendurados?) do silêncio, a sala que parece inspirar (inchar?) suavemente (brandamente inclinada sobre a própria, sombria cor) a intimidade assim criada; a embriaguez da sombra bebida, ângulo a ângulo, frio a frio, ruga a ruga, a compasso com a excepcional mas indecifrável tensão que sobe do plano inclinado da mesa também ela bela, indecorosa, incondicionalmente rendida à própria lenhosa quase mineral nudez.
A claridade não!
Quem precisa de claridade com uma sombra bela e feliz assim?...

a) Um não-alexandre onírico