Há tempo para tudo, disseste-me um dia. Até tempo para me esqueceres, continuaste tu, numa conversa parecida com um monólogo que não quis escutar. Nem nesse dia, nem nos outros que se seguiram a esse. Passaram anos. Casámos. E sempre que me dizias isso, eu negava-me a ouvir-te. Não poderia haver esse tipo de tempo entre nós. O tempo não poderia apagar as marcas, o brilho do olhares, ou os meus sorrisos idiotas quando falava de ti. Para isso não haveria tempo. Nunca seria suficiente. Talvez noutra vida eu te pudesse esquecer. Nesta não.
Enganei-me. Como me enganei a pensar que seria eu a cuidar de ti, quando chegássemos à velhice. Esqueci-te. Olho, vejo-te e não te reconheço. E nos poucos momentos de lucidez que ainda tenho, juro-te que não te volto a esquecer. A memória trái-me. Esqueço-me de ti a cada segundo que passa. Este é talvez o tempo de que falavas, o tempo inopurtuno de uma morte lenta, em que não há vida dentro de mim. Os órgãos vitais ainda funcionam. Mas eu esqueci-te. Ainda te amo. No silêncio da minha doença. Num segredo íntimo que nem mesmo eu conheço.
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