sexta-feira, agosto 29, 2003

Odeio despedidas...

As lágrimas, os sorrisos forçados, os acenos contínuos até se perder de vista. Depois o vazio, a garganta presa com as palavras que não se disseram, o frio, o medo de que tenha sido mesmo a última vez. Por isso não me despeço de ti. Não quero ajuda com a bagagem, nem quero abraços na estação. Mas parto. Despeço-me de ti com um daqueles beijos longos que dávamos e repetíamos vezes sem conta à ombreira da porta.
Talvez esta partida doa mais do que a última. A minha bagagem é mais pesada. Levo comigo a cor dos nossos sorrisos e o sabor dos teus lábios.
Ao longo desta viagem quero me desfazer do que é acessório. Por isso em cada lugar que visitar, quero-te esquecer aos bocadinhos. Deixar que o sal faça arder todas as feridas e as comece a cicatrizar
Quando voltar quero ter pouco de ti, em mim. Só o essencial. Para que não me esqueça que não és meu, que não me pertences. Que os teu voos nunca serão comigo. Sei-o desde do primeiro dia. Talvez desde do primeiro olhar. Acho que soube sempre isso. E por isso mesmo permiti que me descobrisses. Por isso mesmo deixei-me a descoberto. Porque sei. Ou pelo menos é nisso que quero acreditar. Adivinho nos teus olhos de sonho, que não vais ficar tempo suficiente para te desiludires comigo. Quando partires vais-me levar no coração com um sorriso. Não te prendo. Não posso. És livre. E não és meu. Mas acredito que vais ser de alguém. Por isso parto. Sem despedidas.

Maria da Lua

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