sábado, dezembro 27, 2003

O nosso amor

Não sei se é amor. Nem sei se é nosso ou se é tão somente meu. Ou se aconteceu ou se fez acontecer com o decorrer do tempo que passou ao largo das nossos cigarros e cafés. Não sei se é amor. Não ouvi sinos, nem vi estrelas, não tive pétalas de rosa para enfeitar os meus sonhos. Por isso não sei se é um amor nosso. Advinho nos fins simples e desprovidos de emoção dos nossos encontros que é apenas um amor meu. Que o seja. Mesmo se não for amor. Mesmo que seja só meu. Sem estrelas ou sinos, sem rosas ou luares.

quarta-feira, dezembro 24, 2003

Natal

Agora é tudo diferente. Falta a magia, o encanto das luzes e das músicas, a excitação das prendas e a consequente desilusão com algumas delas, agora falta tudo isso... as dietas não permitem abusar das delícias da cozinha e o dinheiro não estica para as prendas que fazem brilhar os olhinhos.
Agora é tudo diferente, continuam-me a dizer. E eu faço de conta que não ouço. Porque mesmo sendo diferente este Natal, é ainda Natal porque ainda existe o mais importante : as pessoas. As que trago em forma de recordação dentro de mim e as outras a quem dou um abraço cheio de carinho.
Bom Natal para todos. Sejam reais ou virtuais. Não importa.

Para sempre

- “Se te tive, não dei fé. Se me tiveste, foi um engano. Conclusão: não existes para mim”
Foi assim, só assim com esta frase, numa esplanada a abarrotar de pessoas que te despediste de mim. Lembro-me bem: Algarve; nós os dois sozinhos, nas nossas férias de sonho, uma lua-de-mel antecipada porque casar era ainda cedo demais, primeiro o curso, depois o casamento e mais tarde os filhos. Estava tudo planeado até que de repente, entre um beijo e outro....
- “Se te tive, não dei fé. Se me tiveste, foi um engano. Conclusão: não existes para mim”
Pedi-te explicações, motivos. Estavas doida só podias estar! Sete anos de namoro para que me dissesses essa maldita frase sem qualquer sentido, mas na qual se lia claramente a palavra Fim. Perguntei-te se querias tempo para pensares melhor, afinal eram sete anos de planos, de sonhos, de descobertas. Nada. Só aquela maldita frase. Depois o silêncio. Voltaste para Lisboa nessa mesma tarde, de comboio, presumo eu, porque o carro era meu e tu não sabias conduzir.
No caminho, que fiz a toda a velocidade, sem sequer pensar nos perigos que estava a correr, só pensava no único perigo óbvio que se estendia à minha frente: ficar sem ti. Tentei arranjar desculpas para o indesculpável, a pressão dos exames que se aproximavam, o Diogo que andava sempre à tua roda, tentando-te seduzir com as manias de menino rico ou ainda quem sabe o período! Aventurei-me até pensar numa gravidez não desejada. Sem respostas. Só a maldita frase que até hoje ainda sei de cor, embora continue sem saber o seu significado.
Não respondeste aos emails e mensagens escritas, recusaste-me as chamadas, até que eu por fim desisti.
Anos mais tarde, voltei ao Algarve, àquela mesma esplanada e vi-te a despachar um homem (quem sabe se com a mesma frase?!). Tomado por uma súbita curiosidade, aproximei-me de ti e segredei-te ao ouvido...
- “Se te tive, não dei fé. Se me tiveste, foi um engano. Conclusão: não existes para mim”
Soltaste uma sonante gargalhada e obrigaste-me a sentar ao pé de ti. Falámos dos velhos tempos da faculdade e não chegámos sequer a tocar nessa enigmática frase até que à despedida tu...
Tive-te. Tiveste-me. Como nunca. Como ninguém. Para sempre.
Fechaste os olhos e beijaste-me os lábios. O sabor dos teus lábios era ainda o mesmo. Tenho-te. Tens-me. Para sempre.

domingo, dezembro 21, 2003

Rostos, confissões e melancolias...

Natal. Apenas mais um. A minha lenda é já imortal. Sou o avô dos mais pequenos e o pai daqueles que nunca crescem. O Pai Natal. Este ano estou cansado, velho e triste. Melancólico também. Os anos passam por mim. As coisas transformam-se. E as pessoas que amo morrem. Eu não. Continuo bonacheirão, gordo e sentado junto de um pinheiro. Já distribui as minhas prendas e desta vez não esqueci ninguém, nem sequer as minhas renas que trabalham imenso nestes dias. Por isso e porque a idade permite estes pequenos luxos, deixo-me ficar sentado, junto da lareira, contemplando o meu pinheiro engalanado com os rostos de todos aqueles que por mim já passaram. Não quero saber de bolas esplendorosas, sinos pomposos ou mesmo de estrelas prateadas. Olho estas estrelas (as verdadeiras estrelas que brilham para sempre) e sei que elas são o meu verdadeiro céu. Na maioria, crianças. De sorrisos mágicos. Olhos cheios de sonhos e rostos repletos de histórias que ficarão por contar. São tantas... Ser uma lenda imortal tem destas coisas. Perde-se a noção de quanto tempo passou e quanto ainda falta passar. Continuo sentado no meu sofá. Desejando de novo mais um Natal. Mais sorrisos. Mais crianças. Apago a lareira e todas as luzes. É quase meia-noite. Espero silenciosamente. Bem-vindo Pai- Natal...

quarta-feira, dezembro 17, 2003

Dezembro

Passou a corrrer e não dei por ele. Apanhou-me desprevenida à noite. Dei por mim a olhar para as montras e as luzes e disseram-me "Bom Natal". Pois é, hoje, é Dezembro. O meu mês. O mês dos meus anos. E o mês em que revejo as minhas memórias num trabalho de revisão apressada das matérias em falta. Em que guardo e queimo cadernos cheios de palavras que nunca se disseram e que não deveriam ter sido sentidas. O mês em que normalmente páro, olho e escuto-me a mim mesma. Este ano não dei por ele. Ou então foi ele que não me encontrou.
Por isso este ano, não vou perder tempo a rever a matéria, em considerações lentas sobre um passado que se quer encerrar. Este ano vou apenas terminar o ano. Fazer anos e recomeçar tudo em Janeiro. Sem pausas para pensar e para dar azo à solidão desses dias que passaram e desses outros que ainda estarão para acontecer. Dezembro, em mim. Só por hoje.

terça-feira, dezembro 16, 2003

Em linha com o tempo

Há tempo para tudo, disseste-me um dia. Até tempo para me esqueceres, continuaste tu, numa conversa parecida com um monólogo que não quis escutar. Nem nesse dia, nem nos outros que se seguiram a esse. Passaram anos. Casámos. E sempre que me dizias isso, eu negava-me a ouvir-te. Não poderia haver esse tipo de tempo entre nós. O tempo não poderia apagar as marcas, o brilho do olhares, ou os meus sorrisos idiotas quando falava de ti. Para isso não haveria tempo. Nunca seria suficiente. Talvez noutra vida eu te pudesse esquecer. Nesta não.
Enganei-me. Como me enganei a pensar que seria eu a cuidar de ti, quando chegássemos à velhice. Esqueci-te. Olho, vejo-te e não te reconheço. E nos poucos momentos de lucidez que ainda tenho, juro-te que não te volto a esquecer. A memória trái-me. Esqueço-me de ti a cada segundo que passa. Este é talvez o tempo de que falavas, o tempo inopurtuno de uma morte lenta, em que não há vida dentro de mim. Os órgãos vitais ainda funcionam. Mas eu esqueci-te. Ainda te amo. No silêncio da minha doença. Num segredo íntimo que nem mesmo eu conheço.

Ausência em mim

Ausentei-me do blog, das palavras e das emoções. Não, porque não as sinta, mas porque as ignoro e tento contorná-las. Ausentei-me também de mim, das pessoas que convivem comigo diariamente e de todos os outros que me visitam aqui neste Luar. Ainda não tenho dia certo para o regresso. Nem sei se voltarei ou como voltarei até mim. Sei-me apenas perdida e muito baralhada. Quase sem palavras para vos dar.

quinta-feira, dezembro 11, 2003

E

porque não me ouves, porque não entendes o que te digo, quando digo que quero o teu corpo junto ao meu. e porque tens medo. das consequências, dos arrependimentos, dos sentimentos e das ilusões. e porque tens medo do futuro. porque tens medo que não fale a sério. mas falo. e porque eu tenho medo do presente do como vai ser quando... e porque... vai ficar tanta coisa por te dizer e por te sussurar ao ouvido quando eu já não conseguir falar, silenciada por um beijo ou uma emoção mais forte, digo-te já aqui: quero-te.

"Não te amo; quero-te"- Almeida Garret

quarta-feira, dezembro 10, 2003

Novo blog

Nasceu o blog do estado de sítio pela mão de alguns estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa.
Este blog dá sequência á edição on-line do jornal e á de papel que saiu em Maio deste ano. Espero que gostem deste projecto, no qual me integro e escrevo de um modo muito diferente do que aqui estão habituados a ler.
Aqui fica para já um pequeno trecho de um artigo meu da 1º edição do jornal.

"O populismo gera audiências e fica barato; esta é a lei reguladora da televisão. Não se pede pedagogia ou ética; pede-se a vida real. O verdadeiro país. O verdadeiro povo. Mas o verdadeiro povo será mesmo essa massa anónima que parece ter uma sede inesgotável de polémica e escândalos ou o verdadeiro povo do verdadeiro país vence a inércia, muda de canal e salta para as ruas, para defender os seus direitos em causa própria, como assistimos nos últimos meses com a falência e deslocalização de diversas empresas estrangeiras?
Será que alguém ainda sabe mesmo a diferença entre estes três conceitos? Apela-se ao Estado para que nos proteja de toda essa violência de estilos de quem afirma “não se calar e ser um fiel representante da voz do povo”. Mas que povo é esse? O mesmo que escolheu livre e conscientemente os seus deputados? Ou o povo que prefere acreditar na “justiça televisiva” do que em instituições? A justiça é cega nos tribunais. Será também na televisão? Ou as audiências são a venda que nos tapa a todos?"

O resto do artigo está on line. Leiam-no

precisa-se

urgente. uma direcção, um destino. um mapa. uma bússola, um palavra. um beijo. um abraço, um corpo onde aportar. um vento que me abane fortemente, uma rede de trapezista onde seja seguro cair. precisa-se e é urgente.

fugir

fugir. deixar que o tempo passe por mim e apague as dores e as mágoas e as lembranças. ficar vazia, sem pensamentos. por um dia. por um mês. um ano. morrer depressa. apagar os vestígios de mim no mundo. um dia renascer. menos deprimente. menos cansada. com mais energia. menos entrega. menos paixão. menos eu. fugir. enterrar-me num pedaço de papel e voar com o vento para qualquer lugar. longe daqui, longe de mim. fugir. reinventar-me no corpo de alguém. sem promessas. sem futuro.sem vergonha. sem passado. sem presente. só o minuto do calor dos corpos e do cheiro que fica sempre no ar. fugir. escapar-me entre os meus dedos que procuravam afincadamente outros dedos em que se pudessem encaixar. fugir. de mim.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

Ar...

"Entre uma sonho que me aviva a alma, entre um desejo que me inunda o corpo, por entre frases, palavras, gestos mimicos, que me denunciam perante a tua imagem. Arriscava tudo.Mesmo sem advinhar quais eram os riscos. Porque te quero.
Não percebes? És o meu ar... "

Ink


Este é apenas um fragmento que lançaste ao vento e que li, reli e não deixei que o teu tempo apagasse. Conservo-o em mim porque também eu "arriscava tudo. Mesmo sem advinhar quais eram os riscos." Tenho vontade de arriscar. Mas não sei se posso. Não sei se há espaço para arriscar. Responde-me tu. Há?

quarta-feira, dezembro 03, 2003

em sangue

com dedos magoados, com asas feridas, voz toldada e um sorriso nos olhos te digo que voltei. ainda em sangue, de chagas abertas. débil e ainda triste. Mas voltei, estou a voltar... a mim.

A Gaivota

Foi com este conto que nasceu a Maria da Lua. Tinha 15 anos quando o escrevi. Apesar do tempo que separa o presente desse passado, ele ainda continua actual e eu ainda continuo a identificar-me com ele. Por isso decidi publicá-lo hoje aqui. Espero que gostem...

Gaivota

Como te prometi, regressei. Perdoa o tempo que demorei. É verdade, perdi o medo, perdi o medo de regressar. Voltei. Vivo agora das memórias. Das tuas memórias e das nossas... Desço as escadas até à praia. Redescubro os nossos mil lugares. O sol mergulhou inteiro na linha do horizonte, na linha que os meus olhos alcançam. A linha que quiseste ultrapassar.
Enterro, ao caminhar, os pés na areia escaldante. Será que foi este vento que te arrastou? Será que foi nesta espuma que te transformaste? Será que estes grãos amarelados que piso são restos teus?
Tinha de ser aqui... tudo tinha de terminar aqui. Porquê?
Fixo os olhos na areia e no mar. Em tudo que resta das minhas lembranças desta praia. Não quero, mas... soltam-se lágrimas, lágrimas que nunca chorei, lágrimas que nunca mereceste... lágrimas que só tu poderias abafar.
Mas estás longe. Longe, apenas longe. Ainda existes? E que diferença faria isso hoje? Estás longe... é apenas isso que me magoa.
Olho o céu que perdeu o calor do sol e ganhou as cores da harmonia, da perfeição. Dezenas de aves esvoaçam pelos céus, céus que um dia quiseste alcançar.
Uma gaivota pousa na duna: na nossa duna. Quieta, olha tudo o que a rodeia. Parte. Atravessa os céus. Já só a distingo pela mancha cinzenta que se confunde com a escuridão da noite. E a gaivota voa... voa... Voas...?
Volto para a antiga casa. Talvez adormeça a ouvir os sons da escuridão, talvez a lua ilumine o meu sono. Talvez amanhã te esqueça. Talvez amanhã...
É manhã. É cedo. O sol também acabou de acordar. Dormi bem, por estranho que te pareça. Hoje vou mesmo ter a certeza se perdi o medo. Vou nadar até à gruta.
Tenho medo de não conseguir, da dor ser mais forte. As lágrimas podem vencer as vagas do mar? Tenho medo, medo, medo de ter medo. Mas devo-te isso. Os medos ultrapassam-se... sempre?
Aproximo-me do mar. Tenho medo. Sempre o medo. Medo.
O contacto com a água provocou um arrepio que, rapidamente, se estendeu ao corpo todo. Mas não é o momento de recuar. Não agora. Nadei, passei os rochedos, ou o “Adamastor”, como lhe chamávamos. Tive, pela primeira vez, medo do mar. Engoli muita água, tanta que a garganta secou com o sal. Ali, também não havia necessidade de falar.
Alcancei a gruta depois de muito esforço. Senti-me extenuada e com muito medo. Muito medo do que iria encontrar. Fatigada, deixei-me cair nas réstias de algas secas e areia, que ali se encontravam. Fechei os olhos e, mais uma vez, tive medo. Medo de me perder. Encontrei o cofre. E agora...? Tenho medo...
Uma gaivota atravessa a gruta e pousa em cima do cofre. Quieta, olha tudo o que a rodeia. Parte, é livre de partir. É livre de voar. Como tu.
Durante instantes fixei o cofre. Não valia a pena abri-lo. Nem mesmo levá-lo. Era teu... era do mar. Ele que o levasse.
Abro o cofre. Choro. O búzio, a vieira preta, a estrela do mar e uma folha de caderno dobrada em dois. Ao aproximar o búzio do ouvido oiço vozes. Vozes indefinidas... a tua ou a do mar? Talvez apenas oiça a do meu coração. Talvez...
Cuidadosamente, pego na vieira preta. Foi a primeira relíquia do nosso cofre. A primeira concha que achei quando vim para aqui morar. Tem meses, séculos de memórias e histórias por contar.
A estrela do mar foi uma prenda tua, no primeiro aniversário da nossa amizade. Antes guardávamos também aqui as cartas que escrevíamos. Mas essas rasgaste-as ao vento...
Deixa-me ser cobarde uma vez mais e confessar-te que tenho medo. Medo de ver a folha do caderno. Medo, medo de me perder. A gaivota voltou...
Pousa mesmo a meu lado. É linda: cinzenta, com um bico longo. Envolve-a uma atmosfera de mistério. Parece que reconhece tudo isto, eu, as lágrimas, o cofre e este lugar.
Aproxima-se mais, toco-lhe medo. Não foge, não pica. Acaricio-lhe as penas com movimentos suaves com que ela se delicia. Afasta-se. Quieta, olha tudo o que a rodeia. Parte. Sempre.
Desdobrei a folha. Um desenho: o teu rosto, cortado por uma gaivota cinzenta... e uma pequeno texto, que li a medo:
“Matilde, se um dia conseguires, perdoa-me. E tenta... tenta ser feliz. Concretizarás esse sonho. Tua, para sempre...”
Ela descobrira a gaivota. Ela era a gaivota. Era a gaivota que, livremente, atravessava os céus. Era a gaivota que voava. Era livre.
Pertencia ao paraíso ambicionado, ao mar e ao vento. Pertencia à liberdade.
A gaivota pousara mais vez junto ao cofre. Fora o seu último voo. Deixou que eu lhe fizesse uma última carícia e fechou, para sempre, os olhos.
Morrera. Abandonei-a nas ondas do mar... juntar-se-à a ti, quando o sol mergulhar inteiro, na linha do horizonte...





terça-feira, dezembro 02, 2003

ao beijo

que não sinto, que só me chega como ecos de um tempo que nunca chegou a existir. ao beijo que já não sei receber, ao beijo que não passa de uma ilusão construída de palavras que me recuso a entender, ao beijo sem história, passado ou futuro. ao beijo que me rouba o presente e me leva por maus caminhos. ao beijo do desconhecido, do ausente, do desejo premente que me assalta de quando a quando, ao beijo que queria receber, ao beijo que é teu e no fundo tão meu, porque só existe assim: em palavras.
ao beijo que não existe... ao beijo que queria que existisse... enfim ao beijo... A todos beijos que este post dá vontade de dar.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

E imitando- o . Lisboa, porque sim. Com os seus loucos, os seus pobres e os seus bêbados, as suas prostitutas e as suas crianças abandonadas. Lisboa, porque sim, cheia de cimento e betão, de prédios espelhados e carros a perder de vista. Lisboa, porque sim, nos seus cantos e recantos, onde o olhar se prende e o encanto acontece. Na claridade de uma tarde soalheira, detentora de uma luz invejada, Lisboa, porque sim. Porque é a cidade que aprendi a amar entre as escadas rolantes de um centro comercial e as escadarias de Alfama. Lisboa, porque sim. Sem explicações.

Suicida-te amanhã

hoje ainda é cedo demais. Ainda não viveste tudo. Ainda não amaste tudo. Ainda não sofreste tudo. E sobretudo ainda não foste feliz como queres e como mereces. Ainda tens imensas páginas para preencheres com o teu lápis de carvão, algumas músicas para decorares, cantares e assasiná-las vezes sem conta ao meu ouvido. Muitas achas para arder na lareira nessas noites que ainda estão por acontecer.
Ouve-me. Lê-me:Hoje é cedo demais. Porque eu ainda estou aqui. Suicida-te amanhã...

Indecisões...

Para quem queria deixar este luar, arrumá-lo e dar-lhe outra pele, não é um prenúncio de despedida, pelo contrário é torná-lo mais confortavél para podermos ficar ainda mais tempo com ele. (Está melhor, não está?) Não sei se a intenção foi essa quando decidi andar a brincar com o template. Ainda não decidi se fico ou parto. Ainda não sei tantas coisas...

sexta-feira, novembro 28, 2003

E como tudo tem um fim

este espaço também está prestes a terminar. Não é a falta de tempo para escrever. Talvez seja a falta de palavras e mas ainda mais verdadeiro é a falta de mim. Do que vos dizer. Do que vos contar. Esperam-se as últimas coroas de flores para poder acabar de deitar a terra que é como quem diz, "delete your blog", as orações para que o blog descanse em paz, as lágrimas da ausência e as saudades que ele vai deixar. Espero por isso tudo, para nos dias mais próximos me convencer a deixar este espaço. O meu luar.

quinta-feira, novembro 27, 2003

Voo

Voo. Mesmo com as asas magoadas e feridas. Não encontro local onde pousar e por isso continuo a voar. Cada vez mais alto. Cada queda dói mais do que a anterior, porque por detrás dessa queda há tantas outras acumuladas em si mesmas e que ainda doem. Mas não passo pela vida a planar. Isso não. Isso não consigo. Isso não sou eu. Gosto de sentir o vento frio, o temporal, de me enfiar dentro do nevoeiro espesso á procura de algo indefenido. Persigo o sol que incandeia o olhar. Voo de asas feridas. De olhos vendados. Voo, mas não plano. Isso não. Isso não sou eu. Nem quero ser.

Posso não te ver

como dantes, como quando nos encontrávamos diariamente e as nossas conversas eram horas roubadas ás aulas que trocávamos pelo café e pelos cigarros fumados no café do costume. Posso não contar as novidades do dia, do mês ou do ano. Podes não saber de que cor pinto as minhas unhas ou o meu cabelo, ou não reconhecer já o meu estilo de roupa, mas acho que ainda sabes o principal. Ainda sabes porque sorriem os meus olhos e ainda advinhas lágrimas em qualquer das minhas palavras. Por isso, posso não te ver, e não te vejo mesmo há um ano ou dois e não falo contigo há meses, mas continuas Amiga, como dantes, como sempre.

Espero que saibas reconhecer-te nestas palavras...

terça-feira, novembro 25, 2003

de volta ao tempo

que me esquece, que passa por mim e não me vê e não me leva para lá daqui. De volta ao tempo que não me traz notícias tuas. Eu sei... é preciso esperar. As palavras voam para lá de mim e tentam de todas as formas encontrar-te. Queria-te ter aqui. Sem ter de esperar muito. De volta ao tempo que não me traz notícias tuas...

Não consigo

deixar de escrever hoje. Adio as obrigações, escapo-me aos horários e ás pessoas e isolo-me aqui, nesta sala cheia de pessoas sérias e compenetradas que pesquisam e trabalham e eu escrevo. Porque é a forma de te encontrar e de me encontrar a mim mesma também. Num dia frio, mas cheio de sol, cheio de emoção. Em que sorrir faz mais sentido do que qualquer outra coisa. E é assim hoje que escrevo com um sorriso nos lábios e um outro bem mais profundo que se adivinha nos olhos castanhos de amêndoa. Amarga ou doce? Já foram doces. Agora talvez voltem a sê-lo novamente, se o sorriso perdurar. Se os medos, a rotina e tudo o resto não o estragar. E será ainda mais sorriso se tu existires.
O amor existe. Bem como as paixões. E fazem sofrer. E fazem ultrapassar os nossos próprios limites. E fazem-nos pôr em causa os nossos príncipios e aquilo em que acreditamos. Mas também nos fazem sorrir com os olhos. Chama-me romântica ou emotiva, não me importo. Mas ainda acredito no calor dos corpos quando faz frio. E principalmente ainda acredito na partilha e na entrega de um espaço, de um tempo vivido a dois. Porque é isso: são as emoções que me fazem viver. Chorar e rir. Cair e continuar. Um dia, talvez acredite em ti e te dê razão. Não hoje, não ainda.
Apesar de tudo e por talvez por isso tudo ainda acredito que é possivél. Não deixes tu de acreditar...

Garrafinhas de água...

Plagio-te. Mas adorei a expressão, acho que diz tudo sobre a escrita. A tua e a minha. Isto que escrevo aqui são desabafos espontâneos sem qualquer pretensão a literatura. São contracções de uma dor de parto interminavél. São espasmos (de novo o plágio, desculpa!) que me assaltam diarimanete. Mesmo quando não tenho nada para dizer. Como hoje. Em que o silêncio do primeiro encontro e da supresa foram ultrapassados pelos risos e sorrisos cheios de espontaneidade. Adorei conhecer-te. Agora quero descobrir-te. Sem pressas. Sem paixões e sem amores porque isso não existe, verdade?

segunda-feira, novembro 24, 2003

Figuras geométricas

Não gosto de figuras geométricas. De linhas contínuas e perfeitamente delineadas a régua e esquadro. Gosto do improvável. Do imprevisto. De linhas curvas. Detesto triângulos. Um dos vértices acaba sempre magoado. Ou então todos. Prefiro linhas sem destino que caminham juntas ou separadas, mas sem uma direcção pré-definida. Gosto de encontros. De desencontros que redundam em desilusões, mas que nos contam uma experiência feita de lágrimas e desesperanças. Prefiro tudo isso a viver amarrada a uma figura geométrica. Como um triângulo em que um dos vértices acaba magoado. Arrisco sair da segurança da desilusão e da tristeza para novas aventuras. Fora do triângulo. E fora de qualquer figura geométrica, rumo ao imprevisto. Ao futuro. Das linhas curvas. Aos encontros e desencontros.

domingo, novembro 23, 2003

Eu sei que vou te amar

"Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida, eu vou te amar
Em cada despedida, eu vou te amar
Desesperadamente
Eu sei que vou te amar
E cada verso meu será
Pra te dizer que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
Eu sei que vou chorar
A cada ausência tua eu vou chorar
Mas cada volta tua há de apagar
O que esta ausência tua me causou
Eu sei que vou sofrer
A eterna desventura de viver
À espera de viver ao lado teu
Por toda a minha vida"

Vinicius de Moraes

É a música simples que ecoa no teu beijo. A banda sonora do meu sonho. As palavras soltas que se proferem de vez em quando. É a ausência, a saudade e a dor. Os sorrisos, os abraços e os beijos. A entrega, a partilha e a esperança. És tu. Sou eu. É o amor. Em palavras...

sábado, novembro 22, 2003

Tempo

elasdisseram que o que o tempo quando dói é devagar. Aproveito o mote e olho para o relógio. Os ponteiros parecem que não saem do sítio. Ainda falta tanto para me vires buscar! Já me vesti e despi umas dezenas de vezes. Maquilhei-me mais umas quantas vezes. Pus umas gotas daquele perfume que tanto gostas, atrás das orelhas e nos pulsos. E espero por ti. Pelo tempo que não passa. Espero por esse outro tempo que ainda não passou. Dos beijos que se dão no canto na boca, quando se quer e se adivinham os outros. Profundos e deliciosos. Das mãos que brincam insistentemente com o cigarro ou com a colher do café. Enquanto o tempo, não se deixa enganar e anda devagar. Enquanto olhos devoram outros olhos e as palavras fazem as vezes de corpos que se querem juntos, antes que o relógio pare e o tempo, o nosso tempo acabe. Porque acaba quase sempre. E quando dói é devagar. Como agora, que para variar, estás atrasado. Ou será que sou eu que estou demasiado adiantada?!

sexta-feira, novembro 21, 2003

Solidões...

Dizem que a paixão o conheceu

dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente
sem que nenhuma ternura nenhuma alegria
nunhum ofício cantante
o tenha convencido a permanecer entre os vivos
Al Berto

quinta-feira, novembro 20, 2003

Desculpa

não te posso conceder esse desejo. Hoje voltar a escrever iria ser uma seca para quem está desse lado. porque iria escrever sobre ti, que me lês avidamente, que me fazes corar como ninguém, que vampirizas os meus pensamentos e que relembras como é bom sentir-nos acompanhados num mundo onde andamos cada vez mais sós.
Além disso não seria um texto deprimente, porque tu fazes-me bem. Não haveria lágrimas, nem tristezas para descrever, nem zangas com o mundo, ou memórias para acabar de esquecer. Só palavras que enchem imensas frases com que nos vestimos e despimos mutuamente.
Voltar a escrever hoje seria isto. Que achas? Ainda manténs esse desejo?

palavras e vozes

Ainda não acredito que existas. Desculpa. Mesmo depois de tantas palavras que já¡ me escreveste e que começaram por acaso. Acredito que não devas ser real. Não há pessoas assim.
E depois, estes encontros são feitos disto: de palavras... que falam de poeiras suspensas que pairam no ar. Poeiras que ninguém parece ver. Tal é a pressa de passar pelas coisas, pela vida. Por isso repito: não acredito que existas, que consigas ver e sentir estas poeiras. Já não há pessoas assim, disseram-me um dia. E eu fingi acreditar.
Ouvir a "Voz" foi mais um passo para essa irrealidade que já me acostumaste. E se sempre quis que a nossa realidade fosse apenas virtual e o nosso universo apenas a blogoesfera, agora começo a desejar uma outra realidade.
Não adivinho o futuro. Nem faço projectos. Nem deixo a imaginação voar mais. Fico-me por aqui, nesta nossa realidade feita de palavras e de vozes que se cruzam em espaços desconhecidos. Não sei se és real. Se existes para alguém destas vozes e palavras cheias de mistérios para descobrir.
Agora somos dois em busca da aventura. Três, se contarmos com o Indiana Jones que nos ajudará a percorrer as trilhas mais dí­ficeis e a evitar armadilhas.
Alinhas na aventura?

Doenças...

«Hoje tu nãos estás doente. Nós nunca estamos doentes. Por vezes sentimos no corpo agressões que desconhecemos. Por vezes com forma, outras apenas essência. Sentimo-nos mal quando atacados por formas com corpo. Que mais não nos fazem do que atiçar o fogo da essência que nos arde na mente» Ink
Leio-te e releio-te com a avidez do costume. Habituas-me mal com os teus comentários...
Hoje, ao ler-te ficam muito poucas palavras para dizer. Ficam entaladas na garganta que seca a cada palavra. Por isso já não falo. Nem escrevo. Deito-me á sombra da bananeira, colhendo os louros da cor que dás a este blog com as tuas palavras.

terça-feira, novembro 18, 2003

Eu e só eu...

Danem-se as convenções, o que deveria ser, as leis e as normas sociais. Hoje não me apetece cumprir o papel de amiga boazinha. Hoje e só hoje, permito-me mandar o mundo á fava. E dizer que estou mal, zangada. Contigo que não tens culpa e passas por mim na rua e nem sequer me olhas. Ou com os outros, os que verdadeiramente têm culpa, mas não sabem. Ou com aqueles que sabem que têm culpa e estão-se nas tintas para como me sinto. Resumindo: hoje e só hoje estou farta do mundo.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Porquê?

Porque escrevo assim? Porque é assim que as palavras acontecem na minha cabeça. Porque é assim que os sentimentos fluem dentro de mim. Porque é este filtro invisivél que me toma de assalto e transforma a realidade em qualquer outra coisa. Talvez ainda mais deprimente. Mas mais minha. E ainda mais íntima.
Conheces-me a sorrir com os lábios. Por vezes até com um certo brilho no olhar. Mas esses estados de alma não impedem este outro que é a falta de um luar dentro de mim.
Chega de respostas e explicações. Escrevo assim. Sou assim...
Gostas?

Palavras...

Olho-me ao espelho enquanto converso contigo. Por vezes as tuas palavras são as minhas. Fallas-me de coisas que conheço de cor e de outras que me permitem fechar os olhos e voar. Viajar para além deste presente castrador em que mal te posso tocar e menos ainda confessar o quanto te quero. O quanto és importante. E, sim,isto é uma declaração de amor. Que sei, que nunca irás ler. Por isso me atrevo a fazê-la.
Confessas-me que te custa ler-me... porque te toca demasiado. Porque tens medo das minhas palavras, onde acabas sempre por te encontrar. Mesmo que não queiras e que passes a vida a fugir delas.
São só palavras. As minhas. As tuas. E nunca as nossas...

sábado, novembro 15, 2003

Pequenos Nadas

Este texto não foi escrito por mim, mas antes por um AMIGO. É por isso, um sentido tributo à amizade. E ao amor. Esses pequenos nadas que nos juntaram e agora nos unem.

A Ti afilhada
Para o teu blog, se achares merecedor disso.

Estava eu sentado na mesa, em casa da minha afilhada Maria da Lua, afilhada de faculdade, entenda-se, a beber o café que esperava que me fizesse acordar do vinho, quando disse:
- Um dia hei-de escrever um livro chamado: “pequenos nadas”! E todos se riram de mim, ninguém sabe o que são pequenos nadas, pelo menos os meus...

Sting falava comigo da distante aparelhagem que ecoava do fundo da sala: “ If he loved you like I love you... prontamente pedi um momento para mim, para me entregar a memórias e a sentimentos antigos, como é óbvio, ninguém respeitou.
- Esta faz-me recordar alguém! Chama-se .............! - no entanto mentia, mentia com todos os dentes que tinha na boca, não me fazia lembrar ninguém, apenas me despertava para o sentimento de vazio que nos consome quando somos eternamente apaixonados e não temos ninguém que mereça tal partilha... Amar é, acima de tudo, partilhar, se tal não existir, não passa de um sentimento egoísta de possuir alguém para nosso puro prazer. ( Sim, ponto final. Não há grande teoria sobre isto que não redunde em fracasso, quem pensar o contrario é louco, ou está simplesmente unilateralmente apaixonado.)
Lembrei-me de todas as gajas que fodi e continuo a foder e nunca gostei, de todas aquelas que amei e nem me atrevi a entrar de tão sagradas serem, e por final, de todas aquelas com quem partilhei a minha breve existência e nunca me mereceram tocar..
- Jorge, lembrei-me agora! Também penteias os pelos púbicos quando tomas banho?- perguntou um outro amigo nosso
- Claro!- respondi, prontamente.
- Que raio de conversa!, disse a Maria da Lua ... porque fazem isso...?
- Porquê? Não puxas os teus para cima também, quando estás no duche?
- Como é que sabes isso?
- Todos fazemos isso!
Pequenos nadas, que me hei-de recordar para sempre, momentos eternos na sua pequenez. Somos demasiadamente iguais às vezes para não saber o que o parceiro do lado pensa, e mesmo assim perdemos tempo a mais a perscrutar a origem do silêncio, em busca do nada. Enfim! Em busca de nós próprios...
Reticências a mais para um texto que se procura profundo, típico de quem escreve a negrito...
Pequenos nadas, pequenos pedaços de mim que ficam por onde vagueio, laivos de cheiro que não chegam a ser perfume. Ai! Como eu adoro cheirar!


Jorge Barros

Algures num dia de insónia, daqueles que nunca me hei-de lembrar, mas que para sempre hão de ficar cravados em mim.”

5. Amêndoas

Agora que aqui estás no meu colo, nem acredito. Os meus dedos passeiam pelos teus braços e de vez em quando deixam-se enrolar nos teus dedos. E ficamos assim. Presos e felizes. Em noites e em dias.
Deixei que o tempo passasse sobre nós. E tu aprendeste a confiar. E eu aprendi a esperar.
Vejo o brilho nos teus olhos e sei-o adivinho-o. Agora são olhos de amêndoas doce. Porque um dia já foram amargas. Mas isso é apenas um passado distante.
- Olhos de amêndoa doce ou amargas?
- Doces... - respondeste-me tu.

4. Amêndoas

e o beijo traiu-me. Ficaste a olhar-me espantada. Como se aquele beijo te tivesse violado. E violou, explicaste-me mais tarde quando as lágrimas assomaram ao teu rosto e me falaste de um pai, de marcas de cigarro no corpo, de palavras e de abusos, de segredos e mentiras silenciados pelos anos.
Nesse instante percebi porque é que os teus olhos já não eram amêndoas doces. "já foram", como me garantiras tu.
Numa confusão de sentimentos, acabei também por te odiar. Porque raio haverias de ter tu, um passado tão traumático, tão cheio de fantasmas e de feridas? Porquê é que não poderias ser uma mulher entre tantas outras? E ainda mais, porque raio apesar disso tudo, eu continuo a querer-te?

3. Amêndoas

Acho que não há o momento certo para um beijo. Pelo menos nunca haveria para o nosso. Porque o tempo é um inimigo traiçoeiro que nos ilude ao transmitir uma noção de segurança.
Mas não foi segurança que me levou a querer beijar-te. Foi o tempo. A sensação de que o tempo que eu deveria esperar não passava e eu queria-te cada vez mais. E tinha de te ter. Provar o sabor dos teus lábios e sentir o para lá desses olhos. Tão amargos na expressão e tão doces na minha imaginção.

quinta-feira, novembro 13, 2003

continua...

A história das amêndoasvai continuar.Mas por hoje fico-me por aqui. Imaginem também vocês a continuação.

2. Amêndoas

Passámos imensas tardes nessa e noutras esplanadas á beira rio. E os teus olhos sempre postos no horizonte.
Sou homem por isso não nego o desejo que sentia por ti. Abraçar-te, aquecer a tua pele com a minha, tomar-te nos braços contra uma cama e sugar a força com que vivias cada momento e a intensidade com que falavas.
Mas mais do que tudo isso queria penetrar nos teus olhos, descobrir-lhes a alma. O riso e as lágrimas que escondeste sempre.
Arriscava tudo. Mesmo sem adivinhar quais eram os riscos. Porque te queria...

1.Amêndoas

Vi-te. Eras toda caracóis e olhos. Ambos castanhos. Foste-me apresentada por um amigo comum e ficámos toda a tarde na esplanada à beira-rio a falarmos. Rias imenso. Como uma menina que também eras. Cada palavra tua trazia consigo imagens que nos libertava a imaginação. Gesticulavas imenso. Em suma, falavas com todo o teu corpo e com todo o teu espírito. Enquanto os teus olhos castanhos de amêndoa continuavam parados, fixos no distante horizonte.
Ao despedirmo-nos, não resisti a perguntar-te:
- Olhos de amêndoa doce ou amarga?
- Já foram doces, respondeste-me tu.
E eu sorri. E quis falar. E quis conhecer ainda mais esses teus olhos...

terça-feira, novembro 11, 2003

não era suposto escrever mais hoje...

Mas há desejos maiores, fortes que nos transportam para lá de nós mesmos. Este foi um deles. Escrever sem destino e se calhar sem sequer ter um sentido, como caminhar por uma praia deserta. Na mais pura das solidões, acompanhada apenas pela lua.
Ao caminhar, enterro os meus pés nas palavras e deixo-me acariciar pelas ondas que procuram, insistentemente, os meus pés. Ondas magnéticas que me trazem de volta as emoções, que escorrem pelos meus dedos e me permitem estar aqui a teclar, sem nada para dizer, a não ser que gosto de estar aqui... a enterrar-me nas palavras e a ser levada pelas emoções. As minhas ou as vossas?

Esqueço-me

de mim, quase sempre. Mas ontem foi de ti que me esqueci. De pensar em ti. Em nós. No que não aconteceu e no que gostaria que tivesse acontecido. Em como seria se os nossos lábios se voltassem a tocar, ou se eu me pudesse deixar enterrar nos segredos dos teus olhos. Ontem esqueci-me de tudo isso. O que é muito bom. Talvez amanhã te acabe de esquecer. Talvez amanhã, olhar para ti deixe de doer. Talvez.

Almas...

Daqui, deste lugar onde ninguém me vê, digo-te que sim, que escrevo com alma. Escrever da forma como escrevo é perigoso. Corre-se o risco de ficar demasiado
exposto e vulneravél perante os outros. E, ao reler, muitos dos meus textos,
comovo-me e sinto-me nua perante vocês. Mas assim é a única forma que sei
escrever. É também a única formúla que conheço para viver. Duvido que seja a
mais acertada, mas de momento é a única que consigo seguir: ser eu mesma.
Sem máscaras. Sem mentiras. Sem jogos inúteis.
Não sei agradar. Não sei vender o meu peixe. Sei ser eu, quando me o permitem.

sábado, novembro 08, 2003

Por vezes...

"E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos."

David Mourão- Ferreira

Porque por vezes são os ecos deste poema que me acordam.
Para o sonho.
Para a vida.
Para as lágrimas.
Porque por vezes ainda dependo destes ecos para viver...

sexta-feira, novembro 07, 2003

A mulher...


Gala Nude from Behind, Looking in an Invisible Mirror, Salvador Dali,1960

Adoro este quadro de Dali. Porque é no silêncio deste quadro que as palavras
perdem todo o sentido e o amor adquire as suas verdadeiras tonalidades.
A nu. Numa cama qualquer. Uma mulher. E um homem.
Que a vê, a ama e a pinta. Que mais se pode dizer perante isto?

quinta-feira, novembro 06, 2003

Tão bonita...

“Tão bonita, estás tão bonita hoje”.A música entra no ouvido e lá fica a frase na cabeça a martelar continuamente. Linda. Simples, discreta, quase sem maquilhagem, quase sem acessórios. Altiva. Bonita. Tão bonita, como na música.
O espelho devolve-lhe a imagem dessa beleza etérea, vaga e suspensa por suspiros mediante a eterna insatisfação de si mesma. O som da música invade-a. O corpo aceitou a melodia e os seus passos acompanham o compasso. Não há nada a fazer. Incrivelmente vaidosa. É um pecado. Sabe-o bem... mas hoje, só hoje... permite-se sentir-se assim. Bonita...
Sozinha também. À espera. Prometeu vir buscá-la há mais de duas horas atrás e está atrasado. Chegará cheio de desculpas inventadas à pressão e um ramo de rosas na outra mão mão, ela adivinha. Foi já assim tantas vezes. E ela conhece-o tão bem! Talvez por isso, hoje ela quer, desesperadamente, que ele chegue mais depressa. Para beleza que hoje a inundou não fuja ou se quebre. Ela quer que ele veja a onda de luz que se apoderou dela e ouça no eco dos seus beijos, a canção que lhe martela os ouvidos: “Tão bonita, estás tão bonita hoje”.
Ele não vem. Não costuma atrasar-se tanto. Virá? Os olhos começam-se a fechar com o cansaço. A beleza ameaça fugir. A maquilhagem esborrata-se pela face e o lindo vestido amorrata-se e rasga-se. “Tão bonita, estás tão bonita hoje”. A música, refrão repetido vezes sem conta no gira-discos e as olhadelas ao espelho, começam a perder todo o sentido. Que sentido tem a beleza, se ninguém além de nós, a puder ver? Para ela, ser bonita só fazia sentido para ela em primeiro lugar e depois para ele. “Tão bonita, estás tão bonita hoje”.
Agora já não é bonita. Porque ele já não vem. Contudo soam ainda os acordes da música e a letra continua no ouvido como se se tratasse de uma lenga-lenga, que de repente num acidente estúpido na estrada, se transformou numa marcha fúnebre. “Tão bonita, estás tão bonita hoje”.

terça-feira, novembro 04, 2003

Não, Amor, não.

Fala-me de tudo o que quiseres. Mas peço-te. Imploro-te, não me fales de amor. Fala-me de paixão, aventura e loucuras. Amor, não. Não me fales de amor, de partilha, de carinho. Podes-me falar de prazer, de carne e de calor. Jamais de amor. Proíbo-te. Não quero silêncios ou promessas. Juras ou compromissos. Futuros ou passados. Quero-te só aqui. Não, lá fora, com toda aquela gente a olhar-nos e a inventar-nos sentimentos.
Sem sombras nos olhos. Sem medo de amanhã ao acordar, não te ver. Sem medo de te tocar e não encontrar em ti, o que sempre encontrei. É este o medo. São estas as sombras que não quero ter. Sem perguntas desnecessárias, justifico-me. Sim, houve alguém antes. Se ficas mais descansado, dir-te-ei que sim, que esse alguém me fez mal, só assim compreendes que a culpa não é tua, e que não podes tentar-me convencer a falar, a querer falar de amor.
Não sei porque preferes as mãos dadas num jardim, quando podes ter o meu corpo junto ao teu numa qualquer cama, não entendo o teu gosto em sair a meio da tarde para me levar a um restaurante romântico e, no fim, dares-me um anel e declaraste eterno. Eu sei, tu sabes, todos sabem, a eternidade acaba num qualquer momento. Não te quero eterno. Não tanto tempo, não quero incorporar o teu cheiro no meu corpo. Não quero ser a tua princesa, nem quero que tu, o meu encantado príncipe, me salve das muralhas da solidão. São obra minha. Não do anterior alguém, o qual culpas por todos os “azares” da nossa relação.
Esse, só me embebedou com uma bebida doce, que engoli num só gole. Juntou amor, paixão e loucura. Noites, luas, mãos dadas nos jardins, promessas, juras, anéis e restaurantes. Porém, a verdadeira essência da bebida estava escondida, o poderoso álcool, só o descobri no fim, quando a doçura se transformou em amargura. Não, amor, não. Não me fales de amor. Tapo os ouvidos e esqueço-me de que falas. Tarde ou cedo, calar-te-ás. Espera, podes continuar. Não espero por nenhum amor. Tenho a eternidade para te ouvir.

Não sei se sabes, nem sei se é importante dizer, mas aqui vai: amo-te...

domingo, novembro 02, 2003

É bom falar contigo...

mesmo quando me relembras o que é sentir emoções e desejos que estou proibida de sentir. Porque me fecho. Porque me faço de esquecida. Lá fora há um mundo de impulsos magnéticos que empurram as pessoas umas contra as outras. A mim empurram-me para aqui. Para a escrita. Mas é bom falar contigo. Por mais injusto que seja relembrares-me aquilo que ainda não posso viver.

Nada

Apenas isso. Nada. Vejo-te e não sinto. Caminho pela rua, bebo, fumo, converso, rio. E nada. Não sinto nada. Só uma dormência interior. Como se eu não fizesse parte do que me rodeia. Como se o silêncio atroz que pôs fim às nossas conversas, fosse frio e tivesse acabado por congelar as emoções e até os mais primitivos desejos. Hoje acho que é apenas isso, não me sinto. Por quanto tempo ficarei assim? No nada?

sexta-feira, outubro 31, 2003

2. Medo

Recupero uma parte de um dos primeiros posts deste blog e reafirmo-o hoje. Por mais que doa:"Estou viva. E se vivo, sofro e se sofro amo, nem que seja a única a amar. Esse é o meu privilégio: amar sempre. Porque os outros os que não sofrem, também não amam e também não se entregam. Mas também não vivem."

1.Medo

E porque hoje falei e senti muito o medo, acabei por também eu ficar com ainda mais vontade de o ultrapassar. O medo de tudo de fracassar, o medo de amar, de não ser amada, de sofrer e de não ser sofrida por ninguém. Para trás das costas com o medo. Estou cansada de ter medo. E de ficar em casa. À espera que a vida me faça mudar de ideias. Aqui estou eu, prontinha para arriscar. Com as mãos atrás das costas com figas como aqui . E este recado é também para este encalhado.

falta de mim

Antes de escrever este post, andei pelos meus blogs preferidos aqui e aqui e aqui à procura de inspiração. De uma palavra que fosse, para escrever. Mas nada. Hoje definitivamente estou vazia de mim.

quinta-feira, outubro 30, 2003

Desculpa

Se não te faço viajar por outros mundos, se não te dou a conhecer outros lugares, outros sentimentos, outras pessoas e se me refugio ainda demasiado em mim. Falo ainda muito de mim para me ouvires. Mesmo que já não grite. Já não há força para isso como dantes. Agora sussuro. Para mim mesma. E para quem está do outro lado deste post. Está aí alguém?

Beijos

estes beijosfizeram-me recordar uns outros beijos. Aqueles que deixei de dar. Aqueles que te queria dar, mas já não posso. Aqueles que poderiam calar o vazio e a solidão. Aqueles que voltarei a dar, mas não a ti.

quarta-feira, outubro 29, 2003

O Dr. X

Olha para trás sempre que caminha na rua. Segue sempre desconfiado, o Sr. X. Ou Dr. X. como o tratam no trabalho, porque este ano termina o curso de Direito. A escolha elogiada e invejada por todos os colegas da pequena repartição onde trabalha. O Sr. X, quer ser grande depois do curso. Levantar o nariz e olhar o mundo com outros olhos. De superioridade. Andar na rua desprecoupado porque muito em breve será doutor.
Vive para isso. Não tem amigos. Só colegas. Não têm amores. Só conhecidas de cama ocasionais para quem se reiventa algumas noites por ano.
Deita-se e acorda sozinho. Mas não precisa de ninguém. Não vive em solidão. Porque não conhece o que é estar acompanhado. Só sabe o que é a Lei. E neste caso a lei do vazio.
Conhecem o Dr. X?

A arte e o artista

" Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte."
Oscar Wilde in O Retrato de Dorian Gray
E isto é tudo o que menos faço aqui neste blog. Não revelo a minha arte, revelo apenas a minha alma, a minha lua, as minhas fases e os meus luares, por vezes encantados. Agora quero começar a revelar a arte, se é que há alguma em mim.

terça-feira, outubro 28, 2003

Comentários!

Com a ajuda sempre preciosa da Lénia, lá consegui que isto voltasse ao sítio. É verdade que perdi os anteriores comentários, mas...
Obrigado pela ajuda de todos.
Maria da Lua

domingo, outubro 26, 2003

Help!

Fiquei sem sistema de comentarios! Quem me ajuda?! Sugestões e ajudas para o meul mail: MDLSSPC@hotmail.com
Obrigado!

sexta-feira, outubro 24, 2003

Sustos

Hoje o meu coração andou a bater depressa demais e o resultado foi ir parar ao hospital mais próximo e aí ficar duas horas e meia à espera de ser atendida. Depois um pouco de oxigénio.
Resumindo: foi uma tarde delirante em que apanhei um grande susto com o coração e com os pulmões. Mas deu para pensar, especialmente no que me tinham dito horas antes sobre este blog: que estava a ficar demasiado lamechas e chato porque só falava de amor e só sobre mim. Estou quase a concordar com as críticas e prometi naquele banco de hospital fazer algo quanto a isso. No futuro, com o coração menos acelerado.
Quando saí do hospital chovia imenso. Não me importei. Afinal sabe bem estar viva! Mesmo com chuva.

quinta-feira, outubro 23, 2003

Como te quero

Como te quero, te espero e desejo. Como te ouço deslumbrada, como te olho ardente em desejo. Ah! E como te desejo, encolhida em mim, subjugada pela força do instante em que fecho os olhos e em pensamentos, te beijo, te toco e és meu. Como te quero...E como não és meu...

quarta-feira, outubro 22, 2003

Dias difíceis

Para que sorrias,

E porque há dias assim, porque há semanas assim. Em que um sorriso é um tesouro escondido entre os nervos, o cansaço e a tristeza. Um abraço, é o colo de alguém ausente num lugar demasiado distante. E a força está para lá do que conseguimos ver. Nestes dias resta apenas o carinho dos outros. Do abraço forte dos outros, dos sorrisos e mimos dos outros. Do meu abraço, do meu carinho e do meu sorriso para ti. Sorri. Sempre, foi assim que aprendi a gostar de ti.

O fim

Este é o fim. Finalmente o fim. Aquele que sempre adiei com mais um beijo, mais uma palavra, um gesto ou um sentimento. Agora é mesmo o fim. Já não tenho medo. Já me despeço de ti com serenidade. Porque já doeu tudo o que tinha que doer. Agora é só mesmo o fim. Não de mim ou de ti. Mas somente de nós. Que tanto quis que fosse de verdade, mas que no fundo, não passou de uma história de faz-de-conta, que inventámos em noites de solidão.
As nossas alianças foram essas noites escuras em que fomos companheiros e cúmplices. Mais noites virão. Agora sem ti. Mas com o futuro na minha mira. E para é ele que corro. Agora. Que chegou, finalmente, o nosso fim.

segunda-feira, outubro 20, 2003

domingo, outubro 19, 2003

Riscos

Corro o risco da minha escrita se tornar lamechas e demasiado açucarada se continuar só a falar de amor, de relações, de solidões, de sonhos e de tudo o que me faz parar. Das poeiras suspensas que habitam cada momento de silêncio do meu tempo. Mas arrisco. Aqui sou assim. Aqui permito-me ser assim. Lá fora talvez possa ser diferente, no futuro.

Importa...

Podia ter sido qualquer outra coisa. E podia, claro que podia, ter sido tudo tão diferente. A verdade é que não foi. Foi assim mesmo: Amor. Foi descoberta, entrega e partilha. Foi a emoção de se dar tudo. E receber porque se dá. E perceber, hoje, no final das contas, que ainda faz sentido falar de amor. Sozinha ou contigo, não importa.
Importa apenas sentir. E não confundir o amor com todas outras coisas do quotidiano. Importa sobretudo perceber que o Amor nunca pode passar de moda.

sábado, outubro 18, 2003

sábado à chuva

Adoro o Inverno. Porque cada dia de sol torna-se especial. Adoro a chuva que me abençoa quando saio de casa para mais um dia. Adoro estas tardes em que o chá me aquece a garganta e tenho por companhia os meus livros e as minhas histórias. E as histórias dos outros. E as memórias. Como vês, nunca estou só. Ñem numa tarde chuvosa como esta.

Volto

Volto a ti. A mim. Ao que ainda não somos e eu gostaria que já fossemos. Invento espaços, frases, corpos, beijos e momentos que poderiam ser nossos. Entremeio-os com a realidade e faço a nossa história. Sózinha?

E porque...

...hoje te vi...sorri. Com um desses sorrisos francos e abertos. Num dia cheio de cansaço, nervos e lágrimas. Num dia daqueles que queremos adormecer depressa e esquecer. Vi-te. Tive-te. Por momentos. Em horas de conversa desregrada. Em que pudemos falar de tudo. Pudemos até falar de nós. De nós. Isso existe? Ou é apenas mais uma invenção minha. Mas porque hoje te vi...sorrio.

Antes do resto...

Neste momento tenho mil e poucos visitantes no meu blog. Obrigado! A todos. Aos recentes e aos habituais. E ainda áqueles outros que ainda não me conhecem. Obrigado por me deixarem compartilhar os meus sonhos e pesadelos com vocês.

quinta-feira, outubro 16, 2003

Alcóol

Ontem quando era uma menina irrequieta que me pendurava nos ramos das árvores e me balouçava ao sabor da infância, caía muitas vezes. E magoava-me.Mas não fazia mal. Em casa, a minha mãe curava as minhas feridas com alcóol. Ardia, mas curava, garantia-me ela vezes sem conta.
Hoje, bebo um alcóol diferente. Que me faz arder por dentro. Que me queima. Mas infelizmente já não cura as minhas feridas. Tenho saudades de ontem.Porque hoje já faz mal cair. Não há alcóol para me curar.

terça-feira, outubro 14, 2003

Hoje

Hoje quando te vi. Estremunhada. As palavras mal me saíam e o meu corpo cheirava a sono e a sonhos. Sonhos sem ti, claro. Porque não posso sonhar-te.
Caí no teu abraço, nas palavras pequenas que me envolvem numa suave letargia pertencente ao hoje e ao agora. Agora que já acordei. Agora que já não estou contigo. Mas estive contigo, não estive? Acordada ou a sonhar?

segunda-feira, outubro 13, 2003

Mudanças...

Apetece-me dizer que estamos como dantes. Que somos iguais ao de antes. Que tudo se mantém. Sem mudanças. Sem cortes. Suspenso nesse momento de suspiros e quimeras. Que o agora e o depois vão ser iguais. Um beijo é apenas e só isso mesmo um beijo. Promete-me que é esta a tua realidade. É?
Ou o nosso beijo foi mais do que um beijo?

sábado, outubro 11, 2003

Quando partes...

Ainda partes. E ainda dói. Como doeu sempre. A diferença entre hoje e ontem é que já não te persigo. Nem sonhos. Mesmo que ainda continues a chegar e a partir. Já não sou o teu porto de abrigo. Não sou os braços que te acolhem aquando um qualquer desgosto de amor, não sou o carinho que adormece as tuas dores (tão físicas, por vezes), não sou sequer o silêncio que entremeia as tuas palavras, e as minhas palavras já não te podem ajudar a adormecer. Ainda partes. E ainda dói. Mas também eu já parti. E ainda dói.

De luz e sombra...

Movo-me eu entre sombras. Habituada à solidão de existir assim, tenho medo. Medo do amor. Eu que o defendo. Eu que o busco. Eu que morro de medo de o encontrar. Morro de medo da luz que me espera para lá destas sombras. Sei que ela existe. Mas tenho medo que me encandeie uma vez mais, me fira os olhos, ou me faça chorar. Ou pior ainda que depois de viver o amor, seja obrigada a voltar a estas sombras. Por isso e no entretanto, fico-me pelas sombras. Sem luz.

sexta-feira, outubro 10, 2003

O sofá

Foi a primeira coisa que comprei para a minha casinha. O meu sofá. Percorri imensas casas de móveis, mas não me conseguia apaixonar por nenhum sofá. Caros demais, grandes ou pequenos demais, pirosos, enfim vi de tudo. E no fim, quando quase desistia da ideia de ter um sofá na minha sala, encontrei-o. De tecido, cor pastel, é hoje o lugar perfeito, para as minhas noites enrolada em mantas, de olhos fechados, viajando ao som do "Claire de Lune" de Debussy e protegida pela memória dos teus abraços. No meu sofá.

De amor...

Falo quase sempre de amor. Do meu amor. Que é por vezes ilusão, saudade, tristeza, alegria, renascimento, partilha, entrega. E esse meu amor de que tanto falo e escrevo, não tem (ainda) um rosto por detrás do sentimento. Ou então tem vários rostos, várias histórias que quis que fossem as minhas... mas o amor tem a sua quota-parte de impossibilidade, por isso mesmo, não há ninguém por detrás do meu amor. Por hoje... amanhã quem sabe, se não é um dia diferente?

só eu

Já não alimentas os meus sonhos, os meus sorrisos ou os meus dias. Já cá não estás. Não é de hoje. Foi de sempre. Desde do primeiro dia, vou-me despedindo de ti. Hoje foi só mais uma despedida. Sem beijos ou abraços. Sem adeus. Mas mesmo assim, já não fazes parte de mim. Hoje. Só. Eu.

terça-feira, setembro 30, 2003

Se...

Aninho-me no edredon. Sinto ainda o teu cheiro. Sem esforco. O odor do whisky e do teu perfume. Se fechar os olhos, sinto o teu toque na minha pele nua. Se abrir a minha mao, pouso-a sobre o teu ombro nu e perfeitamente delineado. Se quiser sorrir, basta-me lembrar de ti. Das asas que me devolveste. E de um novo mundo que me mostraste. Se falar, quebro a cadencia desses beijos leves e doces que pintaram a nossa madrugada. Se quiser sorrir, basta-me lembrar de ti. Se falar, falo de ti, falo de amor.

quarta-feira, setembro 24, 2003

Sonhos & Amores

Este blog nasceu por amor. Amor a um sonho e a um sentimento. O sonho é o de escrever. Para mim e depois para os outros. Porque quem está do outro lado desta lua é importante porque é quem alimenta o meu sonho. Mas se por vezes esmorecem ou acabam os sentimentos, os sonhos continuam...
Têm de continuar...
Preciso de sonhos. Preciso de amor.
(Não precisamos todos?)

terça-feira, setembro 16, 2003

Ao meu desconhecido,

Escrevo-te porque não te conheço. Não sei a tua morada, o teu país ou o teu mundo. Nem tu me conheces. Mas esse é objectivo destas cartas. Quero que me conheças.Em cada palavra, está um pouco de mim. Descreverei-te o meu corpo para que o possas depois descobrir com as tuas mãos o quanto ele é teu.
Quero que saibas tudo sobre mim. Não quero perder tempo com intrigas pérfidas, inseguranças dramáticas, ou esperas dolorosas. Quando te encontrar quero que não precisemos de falar para nos sabermos ouvir. Quando te encontrar, quero-te.
Dias, meses ou mesmo anos. Mas talvez nessa altura possas ser simplesmente meu...

Ele & Ela

Ele: Gosto de mim. Gosto de ti.
Ela: Gosto do nosso nós.

segunda-feira, setembro 15, 2003

E se hoje fosse Inverno?

E se esta noite não fosse mais uma noite que passo sozinho? Poderias deitar-te ao meu lado e ajudar-me a adormecer. Espantar todos os fantasmas e esperar que o sono viesse de mansinho e me embalasse.
E se de manhã quando acordasse, fossem os teus cabelos a primeira imagem que visse na almofada? Beijar-te-ia suavemente e diria bom dia a mais um dia contigo. Prender-te-ia entre os meus dedos e serias uma vez mais minha. Só minha.
E se hoje fosse Inverno? Se a luz cinzenta que me acolhe o olhar fosse a desculpa ideal para ficarmos, assim deitados, encostados um ao outro, vivendo apenas de nós mesmos?
Dos beijos que damos e dos outros que prometemos não dar, das histórias que construímos nos vidros embaciados do nosso quarto. Da nossa casa.
E se hoje fosse Inverno? Seria apenas isso. Inverno. Esta seria só e apenas a minha casa e o meu quarto. E tu serias apenas o rosto da fotografia que guardo agrafada mim mesmo. Como uma recordação. De um Inverno. Que já passou. Mas que poderia ter sido hoje.

E se for isto o amor?

Á Neza porque
ainda acredita
no amor


Se for isto, então quero-o para sempre. Se for isto, esta suave letargia de ficar enrolada em ti, de ouvir o teu coração bater, das minhas mãos desenharem linhas imaginárias sobre o teu corpo (o caminho da felicidade?), se for isto, então quero-o para sempre. Não sei se contigo. Não sei se amanhã ainda cá estarás, ou se amanhã é já um dia novo e tu talvez já tenhas partido. Mesmo que reste o teu corpo (que conheço de cor), talvez amanhã já não haja momentos como estes. Em que me dou conta do quão isto é. Do quão isto pode parecer amor. Do quão isto pode ser amor.
Esqueço as perguntas, ignoro as respostas. Omito os pensamentos sobre o que seria suposto eu fazer para evitar, para me proteger. De quê? De ti, de mim? E se isto for o amor?

sábado, setembro 13, 2003

Tu

Vi-te. Viste-me. Num olhar de incredulidade, pensei, és tu. Depois de todas as nossas conversas, senti que tinhas de ser mesmo tu. Só podias ser tu, entendes? Só contigo é que me podia permitir certas liberdades. Só contigo. Agora olho e sei que não és tu. Não podes ser tu, pois não?

quarta-feira, setembro 10, 2003

Saio de mim

Saio de mim. Atravesso a rua. E agora sou outra. Sem lágrimas, sem dramas. Sem amores perdidos ou por esquecer. Sem lágrimas ou dores. Atravesso a rua. Mudo de casa, de bairro e de mim mesma. Mudo-me também de ti. Agora sou outra.

As minhas memórias no presente imperfeito

Vivo

na esplanada do café,
em que as nossas mãos,
se podem entrelaçar,
sem que te apercebas,
do quanto te quero,
aqui, junto, o mais perto possível de mim.

Respiro

O ar da cidade,
Das ruas quentes,
E das esquinas frias,
Dos lugares estranhos,
Onde me perco,
E dos outros onde finalmente te encontro.

Amo

Neste quarto escuro,
Onde as sombras,
São pedaços dos meus dias.
Onde viver é morrer,
Amar é apenas chorar.
Choro sempre, e sempre sozinha.

Lembro

Outras esplanadas,
Onde não existia o muro
Em que devagar lias,
O futuro na minha mão.
Inventavas a verdade
Enquanto eu tremia ao ouvir o fim.

Esqueço

Aqueles outros tempos,
Em que os nossos momentos,
Eram cinco segundos.
Habilidosamente roubados
E deliciosamente saboreados
Em silêncios profundos.


Dói

A mágoa que não se esvai,
O silêncio que ficou.
Os pequenos vidros,
Que se espetaram
Como pequenos punhais.
Vindo desse quase nada, que dói para sempre.

Queimo

As tuas malditas cartas,
Em fogueiras imensas,
Que ardem, ardem, ardem,
Se calhar para sempre.
Afinal se és o fogo
Eu sou a lenha que não pára de se queimar.

Olho

O meu reflexo absurdo,
No grande espelho.
De costas tensas,
Perco-me entre o azul do meu olhar,
E a pretidão das tranças fartas
Que enfeitam o meu rosto.

Acabo

Por fim, a minha história
Enquanto me beijas os dedos das mãos
E dizes que não gostas de dramas ou infelicidades
O final é assim só meu nesta esplanada de café.


(Este poema pertence ao baú das recordações, mas hoje deu-me para nostalgias e retirei-o do meu baú. Fiz bem?)

terça-feira, setembro 09, 2003

A outra Maria...

Obrigado pelas tuas palavras Maria. "Nunca a tinha lido. Fui ler. Acrescentei-a aos favoritos. Não resisto a umas belas palavras sentidas e tão femininas. Identifico-me com elas apesar de tanto as ouvir."
Soube-me muito lê-las, Maria. Também gosto das tuas palavras, do teu escárnio e do teu bem dizer.

Casas comigo?

À noitinha, na janela do nosso quarto, enquanto nos deliciávamos com as refeições de sempre (milho cozido com atum ou ovos estrelados e salsichas fritas), pediste-me:
“Casa comigo.” Lembro-me de olhar para os nossos pratos, de sorrir e de achar que sim, que poderíamos comer milho com atum para sempre, que o nosso T1, mal encaixado num dormitório de um subúrbio de Lisboa seria a sempre a casa dos nossos sonhos. Lembro-me de olhar para noite fria e escura e de achar que sim, que os teus braços poderiam ser sempre o meu porto-de-abrigo depois de horas de pé, amachucada nos transportes públicos. Lembro-me de achar que sim, que poderíamos ser felizes para sempre. Lembro-me de achar que sim e responder-te: “Agora não... mais tarde, meu amor.” E depois presentear-te com um beijo, como se fosse uma promessa, acreditaste tu. Como se fosse um pedido de desculpa, senti eu. E era, sabes, desculpa por te feito acreditado em outro tempo. Agora não... mais tarde.
Mais tarde, meu amor, quando eu me conseguir respeitar. Nesse dia maravilhoso em que deixarei de me violar por qualquer migalha de afecto. Quando deixar de depender do amor dos outros, para me amar.
Mais tarde quando eu me libertar de mim mesma. Da minha solidão, das noites de insónia em que ficava a ver-te dormir ali ao meu lado, seguro que de manhã, eu continuaria ali, acreditando, ou fingindo acreditar que eu, por mais tarde que fosse, casaria contigo.
Um dia, deixei-te ir. Libertei-te das amarras que te prendiam à nosso T1, ao milho com atum e a mim
Soube que casaste. Imagino que devas ser feliz. Que tenhas trocado o nosso T1 por uma vivenda em Sintra (o nosso sonho, lembras-te?!), que comas caviar em vez de atum, e imagino que já nem sequer te lembres de mim.
Eu continuo a ver a noite da mesma janela. A comer milho com atum. E hoje sei que esse mais tarde ainda poderia existir. Marco o teu número de telefone vezes sem conta. Falta a coragem de te pedir o que outrora me pediste sem medo e com olhar repleto de esperança. Essa mesma a que te roubei e troquei por um punhado de amor por mim mesma.
Atendes com uma voz ensonada. E, tremendo, como na primeira vez em que te pedi um beijo, em soluços, lá pergunto: Casas comigo?
A resposta pareceu-me absurda e impossível. Afinal não eras tão feliz como eu imaginava e o meu beijo, acreditaste sempre, que seria uma promessa. Foi-o. É-o. Milho com atum, respondeste tu.
Gosto de histórias felizes. Não tanto as que envolvem fadas, príncipes ou princesas, mas apenas aquelas que deixam no olhar um brilho de felicidade. Gosto daqueles sentimentos que nos fazem perder a cabeça e ultrapassar todos os limites. Mesmo os nossos. Gosto de gostar de outra pessoa que não apenas eu. É um desperdício gostar apenas de nós próprios. Gosto de sorrir. E de desatar a rir às gargalhadas sem mais nem menos. Gosto de acordar e ver o mundo lá fora. Dá-me sede. De o possuir. Nem que seja apenas um pequeno pedaço. Feito de azul e com o inconfundível cheiro a terra molhada que inspiro vezes sem conta, porque é o cheiro que me fala da felicidade. Depois das lágrimas. Mas a felicidade dessas histórias felizes que eu tanto gosto. Por gostar de ti. Sempre com um sorriso nos olhos.

segunda-feira, setembro 08, 2003

E pensar em ti...

E pensar em ti... assim, como um caminho que se percorre sem pressa de chegar. Mas com uma enorme vontade de te tomar. Nos meus braços, encolhidos entre os teus abraços. Pensar-te. E sem querer, acabar por te amar.

Amar-te

Amar-te
Sem saber como nem porquê
Onde ou quando

Numa rua escura
Cantinho deserto
Onde ninguém nos vê

Só sabemos nós os dois
Que o amor é isto

A pressa de existir
No tempo infinito de um beijo
No curto espaço de um toque.

sexta-feira, setembro 05, 2003

Na memória...

trago-te escondido. como um segredo. intímo e só meu. não quero análises, nem perguntas de mais ninguém. quero-te só para mim. durante uma hora, um dia, um mês. quero-te dentro de mim.
Na memória...

A minha resposta

Leio. Volto a reler. Uma e outra vez. As tuas palavras inscritas em papel de rascunho. E continuo sem saber o que te dizer. Mas não me canso de as ler. Tenho medo do avesso delas. E dos silêncios que as intervalam e que eu conheço de cor. São os mesmos silêncios das nossas conversas, os silêncios que ficam quando as palavras são demais e basta um sorriso, um olhar, um gesto. Mas tenho obrigação de as comentar, de lhes dar uma resposta. Contudo as palavras escapam-se entre os dedos e conduzem-me de novo ao abismo do silêncio. Desta vez meu. Porque não consigo dizer mais do que o meu olhar já diz. E ele não mente. Não a ti.

quinta-feira, setembro 04, 2003

Hoje

Quero parar de viver. Dissolver-me me. Ficar quieta a espera de uma onda que me leve e que de preferencia nao me traga de volta a isto.
Ao frio, ao vazio, ao medo de ser sempre assim. Hoje, só por hoje, queria parar. Deixar o mundo, as pessoas, deixar-me a mim mesma numa leve cadencia de abandono. Desaparecer. Sumir-me. Dissolver-me. Em qualquer lugar. Menos aqui.

Que dizer?

Que te tenho, ou que te tive? Agora que estas distante, bem longe de mim, na outra ponta do banco, mas longe de mim. Se quiser estender estender o braco nao vou poder tocar-te. Engano a solidao e digo que estou contigo. Estou?
Que dizer? Que te tenho ou que te tive?

quarta-feira, setembro 03, 2003

Viagens...

"Inscricao sobre as ondas

Mal fora iniciada a viagem
um deus me segredou que eu nao iria so.

Por isso a cada vulto os sentidos reagem,
supondo ser a luz que o deus me segredou."


David MourÃo- Ferreira

Assim caminho eu... procurando-te entre rostos e corpos que se aventuram pelo mundo. Assim caminho eu ate ti. Encontrar-te-ei?
Hoje a noitinha, encontras-te comigo? No si­tio do costume,na hora dos magicos cansacos, pode ser? Farei uma pausa para parar de viver. Ficarei suspensa entre este e o outro mundo, entrelacada nas tuas palavras e aninhada no conforto de te ter encontrado. Mesmo sem sequer saber se es tu, a luz que o deus me segredou.
Assim caminho eu... de braços abertos. Sem mapa, sem bussola. De olhos fechados.

segunda-feira, setembro 01, 2003

Se tu viesses

Se tu viesses...
Com um beijo, uma flor ou um carinho
Se enrolasses o teu dedo no meu mindinho
E caminhássemos pela rua
Eu seria somente tua

Se tu viesses...

Sonos e sonhos...

Ficas?
Não.
Só por hoje...
Não.
Até eu adormecer
Não.
É a tua última resposta?
Não.

Beijou-me. Desses beijos leves e doces que nos embalam à volta do tempo e nos trazem de volta a vontade de nos aninharmos em alguém e ficarmos assim... seguros e quase, quase felizes.
Hoje à falta de ti, porque hoje não ficaste para dormir, aninho-me na escuridão, nessa falta de ti, lembro os jogos de palavras e os braços. Os teus. Nesses abraços infindáveis que me levam para lá do sono. Em sonhos. Só meus.

Voltar...

Por norma, Setembro é o mês das partidas e dos regressos. E eu também não fujo à regra, volto em Setembro para outros lugares que não esta praia, volto para longe desta neblina que me acolhe todas as manhãs e para os outros rostos que não estes curtidos pelo sol e sal. Volto para os rostos stressados que se amontoam um pouco por todo lado em Lisboa, volto para a confusão em que me deixo perder. E volto para minha solidão que é feita de gente. Tanta gente...

Poderia viver assim...

Poderia viver assim: de ti. Da cor do teu sorriso, do silêncio das tuas palavras e do teu olhar de sonho, da tua pele que queima sempre que me toca. Poderia viver só disso: de ti. Das noites de conversas, carinhos, café e cigarros, que acabam por ser madrugadas de estrelas e luas vazias. Ou então das outras nossas noites. Ébrias. Em que bocas, olhos, odores e sorrisos se misturam. Nessas noites tenho medo. Medo de querer viver assim: de ti. Dos teus sonhos sussurrados que me parecem sempre contos de fada que nunca serão vividos por mim. Dos meus sonhos que me falam em coisas simples como acordar de manhã e ver-te ao meu lado. Poderia...

Poema mal acabado

Houve abraços guardados
que nunca te dei
sonhos inacabados
e beijos leves que não te roubei

Há silêncios obrigados
que se transformaram em lei
pensamentos vedados
onde só eu amei.

À noite...

A noite é uma estrada
que percorremos de mão dada

encontramos na madrugada
a cúmplice idealizada

somos dois, e um nada
contra a corrente transtornada

fazendo disto uma história demorada
mesmo já tendo sido avisada

que a nossa secreta madrugada
será substituída por uma diferente alvorada.

sexta-feira, agosto 29, 2003

Há...

Há palavras que nos magoam. Não há pensamento que não te encontre. Há sonhos que nos fogem das mãos. Não há centímetro de pele que não te sinta longe. Há beijos para sempre adiados e braços fechados incapazes de um abraço. Não há desistências. Há madrugadas frias e sem lua. Não há perdas ou danos. Há tristezas sem nome. Não há responsabilidade. E há noites assim... sem ti. Não há passado ou futuro. Há presente?

Pega na minha mão e atravessa comigo o espelho. Parte para o outro lado do mundo. Suspende o tempo e engana a realidade, abraçando-me. Com força. Com amor. Inventa histórias para me contares quando eu não conseguir dormir de madrugada. Sussurra coisas bonitas no meu ouvido. Fica. Comigo.
Esquece o mundo. As pessoas. Esquece-te de ti. Das tuas verdades absolutas e dos teus dramas pessoais. Esquece as histórias que existem para além de nós. Ajuda-me a escrever esta história e a fazer de nós personagens com futuro. Deixa-te seduzir por esta estranha calma que nos invade quando estamos perto um do outro. Deixa-me sonhar-te. Sem restrições. Sem impossíveis.

Entre o sonho e a realidade: escrever...

Escrever sobre ti é uma traição. A ti. E é uma violação mil vezes repetida e consentida a mim mesma. Porque consumo todos os silêncios que habitam as nossas palavras, exorcizo fantasmas, confidencio medos e sentimentos que jamais admitirei sentir por ti. Exponho a realidade. Mas uma realidade diferente. Que nem sequer é a nossa. É minha. Para qual acrescento cenas que nunca chegaram a acontecer e noutras vezes ainda filtro a verdadeira realidade conferindo-lhe outra dimensão.
Escrever sobre ti, sobre nós é falsear a nossa história. É por isso mesmo uma necessidade. Porque não sei viver com ela e tento padronizá-la, defini-la e nunca consigo. Escrevendo-a é mais fácil de compreender o que nos prende e o que nos separa. Sem definições ou padrões. E isso basta-me alimentar essa minha realidade que escrevo e descrevo vezes sem conta, à procura de um sentido, de um rumo, que não encontro e por isso continuo a escrever, à procura, num ritmo circular do qual já não consigo e já nem sei se quero fugir. Paro. Beijo-te. Sorrio. Enquanto durar estes nossos sorrisos somos um do outro. Essa é única certeza, bem como a única realidade.

Maria da Lua

Odeio despedidas...

As lágrimas, os sorrisos forçados, os acenos contínuos até se perder de vista. Depois o vazio, a garganta presa com as palavras que não se disseram, o frio, o medo de que tenha sido mesmo a última vez. Por isso não me despeço de ti. Não quero ajuda com a bagagem, nem quero abraços na estação. Mas parto. Despeço-me de ti com um daqueles beijos longos que dávamos e repetíamos vezes sem conta à ombreira da porta.
Talvez esta partida doa mais do que a última. A minha bagagem é mais pesada. Levo comigo a cor dos nossos sorrisos e o sabor dos teus lábios.
Ao longo desta viagem quero me desfazer do que é acessório. Por isso em cada lugar que visitar, quero-te esquecer aos bocadinhos. Deixar que o sal faça arder todas as feridas e as comece a cicatrizar
Quando voltar quero ter pouco de ti, em mim. Só o essencial. Para que não me esqueça que não és meu, que não me pertences. Que os teu voos nunca serão comigo. Sei-o desde do primeiro dia. Talvez desde do primeiro olhar. Acho que soube sempre isso. E por isso mesmo permiti que me descobrisses. Por isso mesmo deixei-me a descoberto. Porque sei. Ou pelo menos é nisso que quero acreditar. Adivinho nos teus olhos de sonho, que não vais ficar tempo suficiente para te desiludires comigo. Quando partires vais-me levar no coração com um sorriso. Não te prendo. Não posso. És livre. E não és meu. Mas acredito que vais ser de alguém. Por isso parto. Sem despedidas.

Maria da Lua

segunda-feira, agosto 25, 2003

Diz-me que sim...


A ti...

Ofereces-me uma cereja
E o meu sorriso
Numa bandeja?

Ou o teu mundo
Num único segundo
Cheio de cor?

Devolves-me o riso
O canto na rua
E o prazer de me sentir nua?

Ou deixas-me ser tua
E descobrir os contornos do amor
À luz da lua?

Se soubesses o quanto
Dirias tanto, dirias que sim?


Maria da Lua

E tu estás aqui...

O olhar mortiço e cansado de quem acaba de acordar. Os cabelos ainda despenteados e o corpo emaranhado na confusão dos lençóis.
Olhar-te e saber que é verdade. Sorrir. Porque te tenho. Hoje seguro ainda nos meus abraços. Depois de uma noite. De um dia. E de outros tantos que virão depois deste. Nesses outros dias que ninguém nos há-de roubar.
Rir-me dos teus gestos desajeitados e meio sonâmbulos ao te levantares, das tuas palavras quase sem sentido (é sempre assim antes de passares a água fria pelo rosto e tomares o teu café forte).
Fecho os olhos. Ainda é cedo. Ainda não preciso de acordar. Sou feliz. Amo-te. E tu estás aqui...

Livre...

Manhã de nevoeiro. É tão natural aqui. Quase banal. Aspiro a humidade que se mistura com o cheiro a maresia e que se cola suavemente ao corpo. Fecho os olhos. é bom estar assim... sozinha no vazio. Cheia de paz. Cheia de ti.
Depois quero mais. Descalço as sandálias e enterro os pés na areia fina e ainda fria... o vento despenteia-me o cabelo. Devo parecer um espantalho! Noutras alturas talvez isso fosse importante. Isso do cabelo. Isso da imagem. Da postura. Mas hoje. Agora. Não.
A água está gelada. Como também é natural aqui. Principalmente a esta hora. Quase madrugada.
Num impulso para o qual não me apetece arranjar explicações, desato a correr pelo extenso areal. Devia parar aqui. Sinto-me cansada. Mas continuo... Não quero. Não posso. Parar.
A praia é só minha. A linha molhada do horizonte é o meu limite. Quero alcançá-lo. Segurá-lo na minha mão. E continuar sempre. Entro na água. Mesmo vestida. Já não sinto frio. Já não sinto nada. Sou só livre.
Por hoje. Por agora. Aqui é só mesmo isso que importa. A liberdade.

Maria da Lua

quinta-feira, agosto 21, 2003

Férias ao luar...

Estou de férias numa cidade à beira-mar plantada e a torna-se díficil actualizar diariamente o blog, mas vou tentando. O mar, a areia, o sol e principalmente o nevoeiro despertam-me a inspiração e novas sensibilidades.
Quando voltar à cidade- mãe, espero voltar renascida e com mais vontade (isso é possivél?) de continuar o meu blog e o meu sonho e sobretudo com muito mais para dizer.

Maria da Lua

Blogs

Entrar nesta aventura de ter um blog, nasceu de um sonho antigo que é escrever. Escrever de preferência para os outros. Porque escrever é antes de qualquer coisa comunicar. É isso que quero fazer aqui. Mas devido a falhas técnicas ainda não consegui instalar o sistema de comentários. Por isso pedia que todas as sugestões, críticas ou comentários fossem para o meu livro de visitas.
Obrigado por alimentarem o meu sonho. Especialmente ao Filipe, à Lénia, e à Pulgita

Maria da Lua

Agora...

Agora

Que me olho ao espelho... deixo de ver apenas a minha imagem. Somos dois. Há em nós um jogo de sombras, luz e cores que se juntam, se misturam e se distanciam. Assim como as sombras. Vão e voltam. Deixam marcas de água nos meus olhos e às vezes doem demais...

Agora...

Os meus passos tentam acompanhar os teus. Há vezes em que não conseguem. És rápido demais. Pareces um foguete. Ou uma estrela cadente. Posso-te pedir um desejo? Espera por mim...

Agora

Que estás tão perto de mim, tenho um imenso medo de não saber o que fazer. Não sei lidar contigo. És tão diferente de mim, já reparaste nisso? Tudo é distância. Mas tudo isso se dissipa quando te olho fundo nesses tão especiais olhos castanhos (que tanto querias que fossem verdes ou azuis!).

Agora...

As palavras engasgam-se na garganta e prendem-se no coração. Agora as minhas mãos querem agarrar as tuas para não te deixar fugir. Não conseguem. Tento novamente. Agora com palavras. Fica.
Foges. Pareces um foguete. Ou uma estrela cadente. Posso-te pedir um desejo? Espera por mim...

Maria da Lua

terça-feira, agosto 19, 2003

agarra-me nos cabelos e leva-me até à cama loucamente. ou então abre os teus braços e deixa-me aninhar no teu colo. grita ou então murmura-me segredos que não te atreves a confessar a mais ninguém. fecha todas as janelas, evita o outro mundo e suga-me o meu. ou então abre a janela e vê o luar.
podes ficar em silêncio. naquele silêncio simples onde os nossos olhares e sorrisos se encontram. podes falar: dizer todas aquelas coisas que me magoam, mas que sei verdadeiras.
podes ficar e deixar-me decorar cada pedaço do teu corpo até o conhecer melhor do que o meu.podes ir. dizer-me adeus da rua e acenar enquanto entras rapidamente no carro. podes ficar e deixar o resto para trás. ignorar o passado, o presente e o futuro. podemos ficar suspensos no tempo e neste quarto que alguém constriu para nós.
podes inventar um nome para nós, nomear e simplificar sentimentos ou então podes vivê-los sem mais nada.
podes. eu já não posso mais nada porque continuo presa a ti.

Maria da Lua

Presa

Se te tive não dei fé. Se me pertenceste nunca o senti. Então como se pode perder algo que nunca foi verdadeiramente nosso?
Não sei te falar disso. Sei só do vazio. Do frio. E da dor. Do mundo que gira igual. Das pessoas que correm. Dos velhos que morrem e das crianças que nascem. Sei também que me sinto parada no meio de uma rua movimentada e que a qualquer momento posso ser atropelada. Mas não me consigo mexer. Sinto-me presa. Presa ainda a ti.
E no meio da rua, se calhar ainda à tua espera...

Maria da Lua

Sorrisos...

Há sorrisos que nos deixam assim... sem palavras. Há sorrisos que nos enxugam lágrimas e outros ainda que evitam que elas caiam. Há sorrisos que nos tomam de assalto o coração e nos conquistam. Como o teu.
Detesto os sorrisos forçados, amarelos, gelados e convencionais. Gosto dos grandes sorrisos. Cheios de Vida, de confiança no amanhã, mesmo que seja um amanhã de lutas e de luas novas. Gosto do teu sorriso ao pé de mim. No meu luar...

segunda-feira, agosto 18, 2003

Aos meus amigos...

Essenciais, presentes, leais, pacientes. Estes sao os meus amigos. Talvez tao iguais aos de toda a gente. Mas mesmo assim especiais. Porque sao meus. Porque como o poeta diz "Precisa-se de um amigo para nao se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizaçoes, dos sonhos e da realidade." E "Não precisa ser homem, basta Ser Humano, basta ter sentimentos, basta ter coraçao."
"Precisa-se de um amigo que diga
que vale a pena viver,
nao porque a vida e bela,
mas porque ja se tem um amigo."


(Vinicius de Moraes)

E digam-me... e ou nao e marivilhoso ter um AMIGO?

Maria da Lua



Velhos preconceitos...

A idade pouca importa quando falamos de sentimentos, disseram-me um dia. Depois desse dia falaram-me em conflitos de gerações, nos velhotes que já não nos percebiam, etc. Hoje falo eu. Porque já sei falar de sentimentos. E esses continuam sem idade...

domingo, agosto 17, 2003

Promete-me...

Se um dia não for a lua a iluminar a nossa noite, promete-me que me darás um aviso. Promete-me que quando os nossos beijos deixarem de ter o sabor da descoberta, do desejo ou da ilusão magnífica de sermos jovens e imortais, promete-me que me deixarás de me beijar. Não quero beijos em vão. Nem beijos de rotina ou de obrigação. Quero os beijos de agora. De amizade, de paixão, de intensidade e de novidade. Beijos ávidos que se perdem entre suspiros, beijos quebra-nozes que nos arrastam um pouco por toda a casa. Beijos pequenos que enfeitam o teu rosto quando acordas. Beijos teus. Beijos meus. Beijos nossos... promete-me que vão ser sempre assim e sempre nossos. Mesmo quando os deixarmos de os dar.

Maria da Lua

sábado, agosto 16, 2003

Há dias assim...

Se te dissesse que precisava de um colo, virias ter comigo? Limparias as minhsa lágrimas e esticavas os meus lábios até me conseguires arrancar um sorriso? Pegar-me-ias pela cintura e elevar-me-ias para me mostrares como o céu é bonito e como vale a pena continuar?
Não, pois não? No mínimo dirias duas ou três palavras de circunstância e eu no fim seria obrigada a admitir, que não era nada de importante o que te queria dizer.
Mas era...preciso de um colo. O teu. Vens?

Maria da Lua
MDLSSPC@hotmail.com

sexta-feira, agosto 15, 2003

6. O Fim

É Verão. Quente. Um calor abrasador que invade todos os meus sentidos e deixa o meu corpo nesta imensa letargia. As árvores morrem um pouco por todo lado. Queimadas. Mas de pé. Estou cansada de tudo isto. De passar os dias a chorar por algo que já passou. A partir de hoje, vou passar a sorrir perante a lembrança daquele Inverno. Vou deixar o cansaço de lado e lutar. Prometo-te Maria Ana, estejas tu onde estiveres.

Maria da Lua

5.

Quando ainda regresso a essa vila e à casa branca que arrendámos nesse Inverno, encontro por vezes a Maria Ana. Ela finge que não me vê. Tem vergonha daquilo que se tornou. Mas eu continuo a ter a mesma ternura por ela. E, Maria Ana, acredita, não é pena o que vês nos meus olhos, é só mesmo isso ternura.
Voltar a essa vila, é tentar resgatar um Inverno e umas memórias que são só passado, mas que busco incessantemente num acto de masoquismo absoluto. Só para saber que acabou. Só para ter a confirmação de que realmente estou só. Como a Maria Ana.

quinta-feira, agosto 14, 2003

4.

Desse Inverno relembro tambem a Maria Ana. Uma jovem de olhos azuis (cor-de-mar) que odiava o mar, mas que passava horas na praia a contemplar as ondas e a odiar em silenncio. O mar tinha levado o pai e o irmÃomais velho. E a mãe... essa tinha-se fechado para sempre no seu mundo de luto. Os olhos tristes e vidrados no infinito, nao se podiam permitir amar novamente ninguém. Nem mesmo a filha que crescia solta pelas ruelas da vila à procura de uma migalha de carinho. Sem redes para segurar o peixe. E a unica isca que conhecia era o seu proprio corpo.

3.

Da nossa janela as ondas eram perturbadoras mas de uma beleza incomparavél. Isto da nossa janela da frente. Mas se espreitássemos a das traseiras da casa que dava para a pequena vila piscatória, as ondas ganhariam outra dimensão. A dimensão da perda. Da morte.

2.

Desse Inverno relembro também as ondas. Gigantes que se impunham sobre as rochas, que engoliam a areia e violavam a terra dos homens. Relembro a fúria do vento que nos fustigava o rosto no caminho para casa. Relembro a lareira acesa que me acolhia. Relembro os teus braços e a chávena de chá a fumegar. Relembro o meu sorriso de luar...

Maria da Lua

1.

Daquele Inverno... em que te tive, em que te senti nos meus braços e em que acreditei em esperanças. Nas tuas ou nas minhas, não importa. E que diferença isso faz, se eram apenas minhas essas esperanças?
Esperanças são sempre esperanças e por mais que fossem minhas, eu podia emprestá-las a ti, nem que fosse por um bocadinho. E talvez assim tu pudesses acreditar em nós. E nesse Inverno.

Uma vez mais...

Uma vez mais...
Os olhos brilham com uma intensidade brutal. Sinto-me fora do meu corpo e deixo-o agir como se eu já não o comandasse. Agora é ele sozinho que te beija, que te prende e te quer sempre assim, junto dele. E ainda mais perto de mim. É possivél?
Pronuncio palavras que desconheço a sua origem e o seu real sentido, mas são as únicas que me ocorrem neste momentõ. Serão mesmo minhas? Deixo que o teu corpo se estenda sobre o meu. Quero que o sintas. Que estejas próximo de mim. Ainda mais. Sempre mais. Mas...uma vez mais foges, refugias-te no teu mundo pré-programado e despedes-te de mim. Com um sorriso. E muitos silêncios.
Sentada no sofá, fumo o último cigarro do dia e sei como se sabe sempre, foi a última vez. Adeus...

E foi assim...

"E foi assim...- começou ela a história. Interrompi-a mesmo na primeira frase, antevendo mais um drama lamechas e novelesco. Quis quebrar-lhe a cadência do pensamento e suster nos meus olhos, o brilho dos olhos dela. Porque no final da história iriam haver lágrimas. Haveriam sempre. Em cada história o final era sempre igual. Ela sozinha. Com lágrimas nos olhos, com um cigarro na mão e com a noite por companheira fiel.
Desta vez ela não me fez a vontade e continuou a narrativa e eu desisti de a interromper. Ouvi-a em silêncio. Entre o comovido e o desesperado. Mas sempre em silêncio. Porque a música branca das palavras e dos sentimentos que ela tão bem descrevia era tudo. E foi assim....
"Na nossa história houve de tudo. Sorrisos de um só instante, sem mais nada, sem pensar no que nesse outro e necessário depois. Depois de amanhã quando quissémos encerrar o último capítulo e esquecer. Apagar a nossa memória e reiniciar o jogo. Esquecer simplesmente. Como se fosse possivél. Ele queria que fosse. Ele queria que eu o olhasse e não o visse. Mas vi-o. Porque há olhares que brilham sem que o saibas. Há vazios que não se podem solucionar assim, sem mais nada. Há carinhos e ternuras que não se nomeiam e há ou houve, já não sei, beijos que se pedem e perdem na memória de momentos que se querem para ser repetir.
Mas, sabes, amigo... eu procurei-o. Durante muito tempo. Mesmo depois de me ter dado conta que ele já tinha partido para longe de mim. Persegui os cheiros que deixara na minha pele, os sonhos que deixara na minha almofada. E depois... O espaço vazio da minha cama tomou conta de mim. E depois... apercebi-me que estava de novo só. Ele não queria ser encontrado, nem perseguido. Ele não queria o meu amor"
- Como vês estou de novo sozinha- disse-me assim que terminou a sua história.
A história que adivinhei ser a última pelas feridas que causara e pelas esperanças que ela depositara nela. Não sei se será. Ela é ainda tão nova. Tão cheia de vida, tão adepta de desafios e de lutas interminváveis, mas tão frágil, abnegada e voluntariosa nas suas entregas que um dia tenho medo... Medo que desta vez a dor não a faça mover, mas a engula.
Esta foi mais uma história. Quem sabe a última?
Mas como ela própria diz com os olhos a brilhar de contentamento: "Estou viva. E se vivo, sofro e se sofro amo, nem que seja a única a amar. Esse é o meu privilégio: amar sempre. Porque os outros os que não sofrem, também não amam e também não se entregam. Mas também não vivem"

O 1º ( de muitos?)

Acho que é para isto que servem os blogs, para comunicarmos. A maior parte das vezes acabam por ser monológos. Mas sempre com a esperança de alguém nos leia, nos comente, critique ou na mais rara das hipóteses nos elogie e incentive a continuar.
Bem vindos a esta nova lua!

Maria da Lua

(MDLSSPC@hotmail.com)