Mesmo que deixasse de escrever "amo-te" em cada pequeno lugar disponível, não te esqueceria. Assim não te esquecem as janelas dos autocarros em manhãs frias, ou os capôs dos carros sujos com que me deparo, a areia deserta em que faço das canas o meu lápis e escrevo sempre "Amo-te". Amo-te de um amor antigo, indizível e por isso mesmo também intransmissível. Não é possível dá-lo a ti.
Serei egoísta talvez. Mas partilho esse amor com tanta gente. Centenas de desconhecidos que tão bem sabem que tu e eu existimos. Na frase que nos separa. Na distância que nos iguala. Apenas duas secretárias atrás de mim. Atirando-me papéis como se ainda partilhássemos aquele tempo bom do leite morno com café e do pão com manteiga e uma fatia de fiambre. Quando afirmaste categoricamente que aquela praia era tua. Fiquei a menina do balde azul. Do coração roubado. Amo-te, desenho de azulejo ou pedaço de calçada portuguesa. Embrulhada no xaile preto do fado, onde a saudade sabe de cor o teu nome. "Amo-te" ainda nos troncos das árvores dos jardins por onde passo. "Amo-te", nas portas das casas de banho públicas. Amo-te, mesmo que não saibas ou não o queiras e um dia eu deixe de o escrever.
Serei egoísta talvez. Mas partilho esse amor com tanta gente. Centenas de desconhecidos que tão bem sabem que tu e eu existimos. Na frase que nos separa. Na distância que nos iguala. Apenas duas secretárias atrás de mim. Atirando-me papéis como se ainda partilhássemos aquele tempo bom do leite morno com café e do pão com manteiga e uma fatia de fiambre. Quando afirmaste categoricamente que aquela praia era tua. Fiquei a menina do balde azul. Do coração roubado. Amo-te, desenho de azulejo ou pedaço de calçada portuguesa. Embrulhada no xaile preto do fado, onde a saudade sabe de cor o teu nome. "Amo-te" ainda nos troncos das árvores dos jardins por onde passo. "Amo-te", nas portas das casas de banho públicas. Amo-te, mesmo que não saibas ou não o queiras e um dia eu deixe de o escrever.