quarta-feira, janeiro 31, 2007

revisão da matéria

quando andava na escola as aulas que mais me entediavam eram estas: revisões da matéria dada. chegava ao fim e a conclusão era sempre a mesma. não entendia nada. faltavam sempre conhecimentos que por preguiça deixava acumular no saco do depois. hoje a revisão da matéria deixa-me ainda a mesma sensação. faltam-me conhecimentos. para poder lidar com isto que é a vida. com isto que é a morte. com isto que é o amor. com isto que é esta dor no peito que me estrangula a verdade. se revir a matéria percebo que continuo, apesar da passagem do tempo, a saber cada vez menos sobre as coisas. porque tudo me parece sempre novo. e com olhos de espanto encaro o dia da revisão da matéria. afinal sei que pouco ou nada sei. sobre isto. que dói. e que ás vezes chamam de vida. de amor. de dor. de qualquer coisa. nada sei.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

quando tudo ainda é tudo

Quando tudo é ainda é tudo. mesmo tudo. se é que me entendem. quando o amor é qualquer coisa de indefinida escrita e reescrita em mensagens grátis para os telemóveis divididas alternadamente entre as amigas e aquela pessoa especial. Nesse mesmo quando, há uns anos atrás, agora parecem-me séculos, confesso, vi-te. E acho que sim que me apaixonei. Ou pior do que isso, tornaste-te o meu herói. tornaste-te o mágico do meu sorriso. o único adulto ao cimo da terra que me entendia. tinhas a vida que eu ambicionava ter um dia. a liberdade que eu invejava. a solidão que me inspirava. eras tudo. quando tudo era ainda tudo. o meu melhor amigo que me defendeu das lágrimas quando a morte me bateu à porta pela primeira vez. nunca hei de esquecer aquele abraço quente que me agasalhou da frieza dos imponentes ciprestes no cemitério. como me levantaste, me sentaste na mota e me fizeste desaparecer para bem longe do mundo. porque descobri nesse dia que era um sítio onde doía demais existir.
Quando tudo ainda era tudo, desfazias-me as palavras e os sonhos com histórias de vidas cheias de ruas e avenidas vividas à noite debaixo de cobertores rotos ou de cartão.
Quando tudo era ainda tudo, trocaste-me os meus sonhos de menina por dores brutais de mulher. obrigaste-me a crescer, amargando-me os lábios. tenho as imagens gravadas na cabeça e tive-as demasiados anos gravadas na pele.
quando tudo era tudo, não entendi. chorei. e morri-te no sofá preto com riscas vermelhas. porque foi ali que tudo deixou de ser tudo para passar a ser uma qualquer coisa que doía demasiado e não conseguia contar a ninguém. entre a dor e a vergonha nasci-me. outra vez. as que forem precisas para que tudo ainda seja tudo. porque não há dor capaz de me calar o sorriso que trago preso nos meus lábios.

terça-feira, janeiro 09, 2007

anda

anda. vamos? onde? a esta hora? Não respondes à minha sucessão de perguntas e escondes-te no silêncio de quem veste apressado o casaco e sai. antes de fechar a porta, diz-me então. vou comprar cigarros. Não fumas, penso eu. Visto também eu o meu casaco apressadamentes e com as chaves no bolso sigo os teus passos. Se desapereceres eu também quero desaparecer contigo.
Seguimos pela rua meio que desorientados pela penumbra da noite escondendo-nos da pouca luz existente. o teu passo acelera de vez em quando. quase corres. á procura de cigarros. à procura do fim. corro também. as minhas pernas são pequenas demais. sinto-me a perder as forças. não queria desistir ainda. acho-me tão nova para essas coisas. desistir. parar de lutar. abandonar o barco. mas confesso. nunca pensei que precisasses de cigarros numa noite como esta. escura e perdida numa aldeia sem luz.
já não vamos a lado nenhum. alcançaste o fim. agora tenho sempre cigarros para ti. se voltares. não precisas de procurar mais nada.

sábado, janeiro 06, 2007

atada

atada.nós fortes. laços inquebravéis. amarras para sempre. a aliança no dedo. poderia já estar tudo dito se te quissesse falar do fim inevitavél que tudo isto um dia terá. por agora vivo atada. na corda bamba de uma história que bem podia ser de equilibristas ou de trapezistas que voam de olhos fechados. espírito aberto dado a possibilidade de caírem, magoarem-se ou morrerem. beijas-me. fecho os olhos. voo. pouso o meu corpo cansado mesmo à beirinha do precepício da paixão. escuto uma voz que me aconselha prudência. não gosto destas vozinhas interiores. caio as vezes que cair. as que forem necessárias para poder sentir sempre o que é voar. desafiar a vida em cada beijo que damos. sem medo de morrer. porque garantiram-me que já não se morre de amor.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

a preto e branco.

porque quero recordar para sempre este instante. seguro o teu rosto entre as minhas mãos suadas e fixo o teu olhar dentro do meu. é assim que te quero. para sempre. dentro de mim. seguras o meu cabelo com a força de uma paixão que não podemos viver e que existe só aqui. nas paredes deste quarto alugado entre a tua hora de almoço e a minha. na cabeceira os telemoveis fazem as vezes de despertadores de sonhos. o nosso. que podia ser de amor. mas é disto. dos corpos que se agarram desesperadamente. dos lábios que se devoram. das mãos que não se desprendem. destes olhos nos olhos que quero guardar para sempre. como prova de que um dia amei. de que um dia te amei.
Na cabeceira as sandes de plástico que mordemos nos intervalos de trincarmos a pele um do outro. com cuidado. as marcas são perigosas e podem revelar a outros olhares a nossa história. as roupas no chão despidas em contra relógio. tu dentro de mim. desejando-me e querendo-me como se só tivéssemos o hoje. este presente quase envenenado com que nos brindamos entre a tua hora de almoço e a minha por entre mensagens ardentes e declarações românticas. a preto e banco. seguro o teu rosto. quero decorar-te. dentro de mim. por dentro de mim. para que não saias daqui. beijo-te. prova-me que existes. és meu. e estás aqui.