quarta-feira, dezembro 21, 2011

Algodão-Doce

No teu olhar esconde-se ainda a pornografia do sorriso pelo qual me apaixonei. Foi assim, nunca te confessarei, mas foram os teus lábios que me seduziram. A expresssão doce reflectida nos lábios rasgados que advinhavam a bolinha vermelha no canto superior do ecrã para maiores de dezoito, de vinte e um ou até eventualmente trinta. Senti-me a crescer, inchar como um balão. E a subir, como na música.

Serei exagerada e impúdica também se revelar que toco no céu. Não faz mal. O céu existe para isso mesmo para ser partilhado em momentos assim. De algodão-doce.


domingo, dezembro 04, 2011

Sapatos e Almofadas


Tenho-me em janelas por abrir e camas frias sem lençóis, excesso de madeira preta e fogueiras por incendiar. Há almofadas que se quedam no percurso que desconhecemos o desfecho. Há caminhos que podemos quantificar os passos como com estes sapatos. Sei muito pouco de tudo isto. Sei aliás muito pouco de tudo. Sou incompleta como o vento que sopra lá fora e me rasga a voz. É estranho e irreal, dirás. Direi que sim. Porque sim.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Poesia

A poesia está aqui ;na ponta dos meus dedos que acariam a tua pele, nos meus beijos que provocam a tua pele molhada, nos teus cabelos que emolduram o meu rosto de mulher. A poesia está nos dedos que se procuram e se entrelaçam mesmo enquanto dormimos, no rosto que se descontraem em sorrisos abertos para o mundo. Esta é a verdadeira poesia que reconheço nas minhas entranhas, nos sonhos que se constroem às escondidas das realidade pragrmática do muros e das defesas. A minha poesia não conhece fronteiras, nem metralhadoras, nem chaimites, é nua e crua. Existe porque é tua.

Tempestades

Estalam os céus sobre mim. A electricidade das palavras impede-me de fechar os olhos e a noite percorre o tempo das emoções. As cores desenham histórias e traçam caminhos até chegar ao fim do arco íris. Tu: o tesouro.

segunda-feira, novembro 14, 2011

Na almofada

Ficou o beijo preso na almofada. Assim tenho a certeza que um destes dias voltarás para o resgastar.

quarta-feira, outubro 12, 2011

Abraços.

Olhou-se ao espelho e percebeu que lhe fazia falta um abraço. Dos verdadeiros, daqueles em que a cabeça se encaixa no ombro, confia-se e pronto. Com ou sem lágrimas. Também percebeu que não havia ninguém para isso.

E pior de tudo: ainda não sabia abraçar-se.

Elogio da ignorância

- Basta a verdade. Ela é sempre libertadora e definitiva. 

- Borrifa-te nisso,  a ignorância permite-nos acarinhar um dia de sol. 

- A ingenuidade faz o mesmo. E a felicidade também. 

- Lá está, ninguém precisa dessa verdade libertadora e definitiva. 

- Eu preciso. 

Ficam-te bem esses sentimentos.  


P.S- Sopra para os meus olhos e impede-me de chorar. Agarra-me na mão e deixa-te estar assim. Apenas cinco minutos para que a dor fininha que me rasga o corpo não se entorne. Mais importante: promete-me que amanhã será um dia melhor. E que a verdade, um dia, vai deixar de doer tanto.

quarta-feira, setembro 28, 2011

Um século

Hoje tive um acidente e no segundos antes de ter medo, pensei em ti. Farias cem anos se estivesses por cá.  Sejas pó de estrelas, sejas ossos guardados num gavetão do cemitério, hoje abriste-me os braços. Tive saudades tuas. E não tive medo, avô.

sábado, setembro 10, 2011

A nossa história

A nossa história seria um bom enredo.

É igual a outras tantas.

É diferente.

Porquê?

Tem a distância dos anos acumulado com o cinismo do que se passou e é conjugada na ingenuidade da adolescência.

Em qualquer lado há uma boa história pronta a ser vivida.

Menos no teu coração?

Menos no meu coração.

terça-feira, agosto 23, 2011

Cuida de mim

Olha por mim, mesmo quando eu te repetir que não preciso de nada. Nesses momentos em que finjo ser forte e estancar as lágrimas com uma pedra atirada ao lago, preciso ainda mais de ti. Porque não falo, não grito, mas morro por dentro. Apanha esses pedaços de mim e reconstrói-me devagar.

Olha por mim, quando eu tiver medo do escuro. As pernas fraquejam, os braços caiem postrados, o corpo desconjunta-se e os olhos não vislumbram nada de bom. Existirás tu, a tua voz e o teu abraço.

Não sei ser muito, admito. Cuida de mim.




domingo, julho 24, 2011

Desculpa

Desculpa se dói ou se não é suposto confessar coisas destas. Nos dias que correm, acredita, esforço-me imenso para não errar. Para corresponder a expectativas; quase todas, as tuas, as da família, as do trabalho.. Por vezes falta tudo; a palavra certa, o gesto correspondente. E tu.


Desculpa se causo incómodo ou se abalo o silêncio. A ausência tem destas invenções; quebra corações. Mesmo aqueles que se queriam gelados e inamovíveis perante as emoções.

Desculpa os esconderijos que invento porque não te tenho como um direito que possa sequer almejar. Fujo e corro porque talvez sejas tu o meu destino. Nunca quis querer-te.

Desculpa, sinto a tua falta. É uma merda dizer-te, mas a vida também é assim.

sábado, julho 02, 2011

Medo

Não conto nada de ti. Agora sou só eu. Não me interessam as rosas brancas que prendias no cabelo segurando as tranças. A água cai continuamente e finda-se pelo ralo da banheira. Dirias: não desperdices a água. Responder-te-ia: a água está cada vez mais cara, mas não te preocupes que eu depois pago.


Farias uma maldade qualquer em jeito de criança, como desligar o esquentador. Eu sorriria e seriam assim os nossos os dias até quando a água parasse de jorrar nesta casa de tostão enforcado pelo sacrifício dos sonhos difíceis. Queríamos ficar juntos e aqui.

Nunca gostei muito de ti até me estalares o coração. Quase que me afogo na água da banheira, pelo que poderei ser honesto e revelar, que não foi o amor ou a paixão que nos juntou. Era mais certa a vida contigo. Só isso. Tão certa, senti eu quando dissemos o sim. Ainda mais, quando te agarrei a mão com força e te deixei morrer.
Dói-me o amanhã porque tu não estás. A água já nem sequer pára em mim. Deixa-se ir no tempo das pequenas coisas que foram-se ausentando de mim. Como o sorriso que se foi desgastando em esgares esforçados. O depois de amanhã será então tenebroso. E o depois mete medo.


Mergulho na água morna e deixo-me ficar.

quinta-feira, junho 30, 2011

E não choveu.

Não choveu ontem.Voltou a época dos incêndios. E dos terramotos que me acontecem na pele. Um tsunami pode invadir-me os olhos e provocar estragos. Depois o calor regressa, secando tudo. Arde apenas.




P.S- Chamem o 112, as queimaduras adivinham-se profundas. Um beijo para quem fica.

terça-feira, maio 24, 2011

Só faltava chover.

Tínhamos o abraço apertado, a lágrima a querer aquecer o olho, um desejo surreal a nascer, um beijo tímido a acontecer. Só faltava chover.

sábado, abril 09, 2011

Faz-me falta este livro

Acho que te preciso de escrever um livro.

Para?

Um livro com as pequenas histórias que foram ficando de fora dos álbuns de fotografias, dos diários e dos livros de receitas e apontamentos da avó Teresa.

Para?

Um livro de palavras estranhas, ousadas e difíceis. Terias decerto de consultar dicionários antigos.

Para?

Um livro- mapa-ampulheta.

Para?

Para que não te percas nas paragens do tempo.

terça-feira, março 08, 2011

Dez minutos


Dá-me dez minutos.

Um pouco de silêncio. Um espelho. Uma parede para me encostar e poder escorregar. Até ficar sentada no chão. De joelhos flectidos. Sim, sei que a saia vai ficar desalinhada. Dá-me dez minutos assim. Para mim. Em que eu possa ser, desesperadamente, eu. Ou uma outra qualquer. Às tantas uma pessoa cansa-se de ser sempre a mesma.

Nove minutos.

E quero mudar. De corpo, de coração e até talvez de alma.

Descalço os sapatos. Deixo que as meias finas de vidro pisem a tijoleira fria e barata. Do outro lado desta porta feita de chapa de alumínio, ouço vozes e pancadas na porta. Perguntam: está aí alguém? estou, respondo a meia voz. E sim, estou deveras ocupada.

Oito minutos.

Isto é uma casa de banho pública. Num café qualquer. Nesta ou noutra cidade. Pouco importa.

Solto os cabelos e desaperto o blaser preto. Tiro as argolas e observo o anel de brilhantes que cai dos meus dedos.

Os botões pequenos da camisa branca são arrancados depressa. Depressa, porque não quero pensar. É a velocidade do contra-relógio. A urgência do momento. A intensidade do grito que calo diariamente.

Seis minutos.

Os meus dedos afagam a suavidade do cetim. Acaricio as alças do soutien, fazendo-as deslizar através do braço. Lentamente. Tenho saudades. Tenho sede. Tenho um medo imenso. Abraço-me com força. Preciso de me fazer sentir quente. Carne minha. Crua de ti. Tijoleira fria.

Cinco minutos.

Fecho os olhos e aquieto-me no reflexo imaginário deste corpo despido. O meu corpo, relembro-me.

Sinto-me embalada pela letargia morna do desejo. Sou só eu. Embalada neste torpor de prazer roubado. Ao espelho.

Dois minutos.

Retoco o cabelo e apanho as últimas madeixas num penteado perfeito. Esta sou eu. Um pouco sozinha. Emoldurada na tela do tempo.

Um minuto.

Já vou, respondo a alguém que bate insistentemente. Passaram dez minutos. De mim.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Frango com cerveja.

Temos os filhos feitos. A banda sonora do depois escolhidada a dedo. Os nomes, se forem rapazes, ou se forem raparigas. O homem da loja vem entregar o sofá dentro de meia hora, garantiram-me.. E tu despesdes-te. As cervejas no frigorifico. Apetece-me frango para o jantar, o que achas?  Não sei ter estes filhos sem ti.  A idade limitada pela merda da biologia. Não haverá tempo para ter outros filhos. Contento-me com estes. E tu despesdes-te.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

E se me faltarem as pernas?

E se me faltarem as pernas? Se os meus passos não forem suficientemente velozes para te alcançar? E se o comprimento do que nos separa se revelar no incumprimento das quimeras que alimentámos? Se a minha voz for apenas ruído para os teus ouvidos? E se as palavras que te deliciavam em noites de tédio se transformarem em repetivas e solitárias orações?

E se os meus olhos castanho de amêndoa te amarguarem os dedos no piano? E se o bolo de limão não crescer? Se o leite coalhar no meu peito? E se o meu ventre for apenas grande e oco? Se me fugires?

E se me faltarem as pernas para te alcançar.

domingo, janeiro 09, 2011

Quase sem futuro

Estico ainda um braço seco e magro para um pássaro pousar. Outrora os meus ramos eram enfeitados de folhas, frutos e flores. Eram fortes. Hoje já nem sequer consigo carregar todos os meus ramos, prefiro deixar-me oscilar com a passagem do vento, o meu antigo companheiro.

No meu tronco guardo ainda as memórias do meu passado feito de marcas de diversos pássaros que já alojei e pedaços dos seus ninhos. Na minha barriga oca conservo os restos de nozes que os meus amigos esquilos deixaram.

Com saudade, recordo os tempos, em que as crianças construíram em mim, casas de madeira, e lá recriavam mundos entre tachinhos e espiões. Depois essas mesmas crianças, apaixonavam-se debaixo dos seus ramos e amavam-se nas casas de madeira.

Eu também já me apaixonei... O amor aconteceu quando uma criança plantou perto de mim um pinheiro. Foi há muitos anos, num Dia Mundial da Árvore. Deslumbrei-me por ele. Observei o crescimento, ensinei-o a defender-se dos homens maus e por tempos infinitos, contemplei-o em silêncio.

O seu primeiro Inverno foi horrível. Vi-o lutar contra o vento, numa combate desigual. A sua espessura era semelhante ao cajado de um pastor. O vento foi mau nesse Inverno. Mas o pinheiro resistiu e desafiou a Natureza. Quase venceu.

A Primavera apareceu muito perto do que deveriam ser os meses de Verão. Nessa altura de noites curtas, eu e ele habituámo-nos a contemplar em silêncio. No entanto havia dias em que ele se tapava com os seus ramos finos para que eu não o visse chorar. E só eu o sabia. Com os meus ramos, afastava os dele e apontava-lhe o Sol. Falava-lhe baixinho, com palavras pequenas que fui buscar às minhas raízes e consolava-o assim.

No dia mais comprido do ano, arrisquei quase tudo. Quase ganhei. As nossas folhas tocaram-se apaixonadamente e misturámos os nossos ramos. Mais tarde os nossos troncos dançaram ao som de uma música branca. A do Futuro. Trocámos promessas, que soubemos desde sempre serem impossíveis. Seria o nosso amor mais forte do que os apelos das nossas raízes?

Elas pediam solidão. Nós prometíamos amor. Tudo ou quase tudo tem um fim. Mesmo que seja um fim repleto de coisas por acontecerem, como era o nosso.

Inverno, após Inverno, o meu pinheiro suplica ao vento que o derrube. Mas o vento responde-lhe sempre que as árvores morrem de pé.

Continuo ainda a amá-lo. O seu tronco curvado e fino faz lembrar uma cana de pesca. Não tem folhas, flores ou frutos. E eu lentamente vou-me deixando morrer também. Sem que ninguém perceba. Morro de pé. Sozinha.

Concedo-me a alegria (quase a última) de tocar no pinheiro. Ele sente. Submersas, as nossas raízes abraçam-se para sempre no futuro. Já não dançamos. Mas é o som dessa música branca que nos embala no colo da Morte. Já não temos medo. O futuro é amanhã. É a morte que nos chama. Já é quase amanhã...

sábado, janeiro 08, 2011

Mimos e motivos.

Fiz-te o café e as torradas com manteiga dos dois lados e mel a cobrir, mas só na face superior. Calcei os ténis, há tempo que não conheço outro tipo de sapatos, vesti a gabardine e peguei nas trelas dos cães. Agora é proibido deixá-los correr livremente. A liberdade até se proibe aos cães.
A tempo de fechar a porta, ouço o teu assobio matinal e adivinho  os teus passos que se encaminham para a banheira que já deixei cheia de água quente com os teus sais marinhos.
Sentes os meus passos apressados na escada de madeira, abres a porta e seguras-me a mão no último degrau. beijas-me a mão e dizes bom-dia. Ajeito-te a gravata e afasto uma poeira imaginária do teu casaco.

Não são mimos. São o motivo dos meus dias.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Como tu:

Senti de novo aquela violência a conquistar o espaço do meu corpo: as pernas a pontapearam o vazio, o ardor nos braços e depois de tudo a cegueira no olhar. no teu e no meu. Não sei se nos vemos quando disparamos um contra o outro . Sei que dói demasiado o embate. Sei que tenho imenso medo da minha força. De perder o controle do meu braço direito e de este não conseguir parar o movimento da jarra contra a tua face. Nunca como hoje esteve tão perto. Nunca como hoje estive tão longe de mim.

Passei anos a tentar esquecer que tenho essa violência bruta incrustada, que ela faz parte de uma herança genética que tento rejeitar diariamente. Passei anos a tentar acreditar em tudo o que outros escrevem em cartões de aniversário ou sussuram ao ouvido em noites quentes. Hoje, bastaste tu, os golpes desferidos e as palavras de crueldade de sempre, e num sopro de vento desmoronei-me. Como sempre e desde sempre.

Fica a ferida no lábio e no nariz. Fica o sangue. Ficam as tuas palavras que ecoam na minha cabeça como um disco riscado. Tenho medo de um dia vir a ser como tu.