quinta-feira, julho 26, 2007

last dance

Espero por ti se me concederes a honra da última dança. A última de todas. Quando todos já tiverem partido e já não haja ninguém para nos ver. para aplaudir os nossos movimentos desejeitados de tão tímidos e ternos. podes entrar à sucapa a meio do baile ou optar por me espreitar de quando em vez. saberei sempre onde estás. é lá o meu mundo. como poderia simplesmente não te reconhecer? Sente o toque suave da fita de cetim que me prende os cabelos ou do azul do veludo do meu corpete. Sei que sabes, que por debaixo da renda da minha saia se esconde a pele branca torneada das minhas pernas. sabes tanta coisa e no entanto...
Espero por ti se me concederes a honra da última dança. Não importa a idade. se calhar estaremos de bengala os dois e seremos avós. será a derradeira dança entre parufusos que prendem os ossos ao corpo e óculos a derraparem no declive do nariz. serão dois velhos tontos a descobrirem o amor. será a última dança. a mesma que não dançámos quando tínhamos vinte anos e éramos ainda mais tontos.

segunda-feira, julho 23, 2007

Cap, pas cap?

Rever um filme pela segunda é repetir o irrepetivél, sentirmo-nos banhados pela água fresca da nascente uma segunda vez. É o sabor inesquecivél do segundo beijo. Menos desejeitado e apressado do que o primeiro. Agora já se está mais alerta. as mãos já sabem o que procurar e os lábios entendem-se como amigos de longa data. sem palavras. Ver "Amor ou Consequência" pela segunda vez é tudo isso e muito mais. é quase andar de baloiço sem sair de casa. é sentir o sabor raro da vida plena nas nossas mãos. é a liberdade furiosa a querer singrar dentro das veias. é o amor a acontecer. a primeira vez. é o segredo revelado. o romance trancado. o desafio enorme.


Chove. La vie en rose. Edith Piaf. Tu e eu, porque não? Cap, pas cap?

quinta-feira, julho 19, 2007

o sonho

escrever é um sonho antigo. o mais sonho que já sonhei. é também talvez um dos mais irreais. porque me falta tudo. a coragem. o tempo. a dedicação. o talento. sobra-me o sonho. as emoções. as palavras que me naufragam. o dia a dia que me transcende. não é um diário. nem pode ser. porque nunca tive tendência para ser certinha. nem para me lembrar de tudo. as minhas memórias passaram pelo filtro do meu olhar. não sou historiadora. a minha visão é sempre parcial. e por isso minha. são diálogos intímos. é isso que partilho aqui neste luar. as minhas fases crescentes e crentes, cheias, descrescentes e descrentes e por vezes tão vazias que chegam a ser eclipses. desde há quase quatro anos. porque ainda guardo comigo o sonho mais sonho de pequena célula. escrever.

quarta-feira, julho 18, 2007

Cresceste...

sentada no sofá de joelhos flectidos e pose irreverente, é-me impossivél ter outro pensamento que não o mesmo de sempre: cresceste. há bem pouco tempo habitavas o meu corpo, depois o meu colo, depois os gritos e as discussões, agora habitas o lugar de melhor amiga. mas és ainda e serás sempre a minha filha. a pequena célula que conjuguei às vezes contra mim mesma. Cresceste. Bates-te pelas tuas vontades e acérrimos desejos. Cais, choras. Levantas-te e a minha voz está sempre do outro lado do telefone. Eu estou sempre aqui. Nesta sala vazia que já nem sequer me pertence porque raramente cá estás. Cresceste. Serás a mulher de que alguns homens falam e desejam. mas hoje, aqui, sentada no sofá, comendo uma fatia do teu bolo preferido, és só e apenas a minha filha. a minha pequena célula. a outra parte de mim.

* Á minha mãe, porque como todas as mãe, é a melhor mãe do mundo.

terça-feira, julho 17, 2007

não é justo

como só eu sei que não é. não é justo. voltar a sentir isto. agora, especialmente agora, que o teu toque tinha desaparecido da minha pele, que o som das tuas palavras não me causava arrepios. não é justo toda a história se repetir de novo dentro de mim. agora não. deixa-me viver esta história nova. repleta de texturas e imagens diferentes. deixa-me cruzar novas paisagens. correr. baloiçar-me por aí. deixa-me ser só sorrisos e alegrias. deixa-me. porque não é justo. como só eu sei que não é.

sexta-feira, julho 13, 2007

em algum lugar

Em algum lugar. Num tempo que não foi nosso. não o será nunca mesmo. Nesse lugar recôndito de mim espero por ti. Esperei desde sempre. Antes de ser gente e de saber que um dia te iria conhecer. Imaginei-te tantas vezes. escrevi-te outras tantas vezes. E soube, sempre soube, que aquele nunca seria o nosso tempo. Em algum lugar dentro de mim ainda te espero. Um tempo que tem aliás a vida inteira para acontecer. a tua ou a minha? O que sou eu para ti? O que fui?
Ficam as perguntas. As imagens e todas, todas as palavras mágicas, que me fazem sorrir e querer, querer muito acreditar. Em mim. Em algum lugar.

terça-feira, julho 10, 2007

às vezes bastava um beijo, sabias?

Escondo as lágrimas, passo a água pelo rosto, olho-me no espelho mal iluminado e penso que tenho de estar apresentavél.
não tenho tempo para chorar. ou para ter pena de mim. ou para sentir. É melhor mesmo nem sentir o que se passa cá dentro. o que mói e o que me esventra por dentro. às vezes bastava um beijo, sabias?
Ajeito as calças e componho o blaser azul escuro. Com a escova, estico os cabelos com força, para matar os caracóis. Eliminar os vestígios de mim na mulher que se reflecte no espelho. nunca se nasce outra vez. Eu queria nascer de novo. Para te tirar de dentro de mim.
Passo o batom nos lábios, em jeito de toque final. Estou pronta.

às vezes bastava um bejo, sabias?

domingo, julho 01, 2007

baloiçar


O baloiço é das minhas mais queridas recordações de infância. Voava. Impulsionada pelo sonho. de olhos fechados. porque o mundo era meu. Não precisava sequer que me empurrassem. Sozinha. Sonhava tudo. E balouçava. Sempre. hoje. na cadeira ou na rede. ainda balouço. o mundo ainda é meu. mas às vezes preciso que me empurrem.