sábado, janeiro 31, 2004

Xaile

preto, carregado de franjas, histórias e mistérios. O xaile da minha avó. Que pus por brincadeira um dia para me assemelhar a ela. Naquelas brincadeiras de infância em que queremos ser grandes e parecidas com as pessoas de quem mais gostamos. Eu gostava dela e gostaria de ser como ela.
O xaile que me assenta como uma luva hoje é apenas um pormenor no muito que me assemelho à minha avó. O rosto e as minhas histórias parecem por vezes um decalque do que foi a vida dela. Cheia de franjas de um fado triste e vadio, de histórias de rua e mistérios de um coração que nunca nenhum homem acabou por verdadeiramente desvendar. Assim foi ela. Assim sou eu. Por acabar de desvendar.

terça-feira, janeiro 27, 2004

quebra-se

o vidro do relógio, os ponteiros afastam-se e o tempo esfuma-se na areia espalhada da ampulheta. Quebram-se os ossos num abraço apertado de encontros fortuitos e de regressos adiados. Quebram-se os pratos em gritos atirados pela janela fora. Quebram-se palavras perante o silêncio de um fechar de olhos já distantes. Quebra-se a pele em beijos e toques ardentes. Quebra-se o som em excitantes gemidos murmurados ao ouvido.
Em mim ... onde tudo me quebra devagarinho. Em ti onde se quedam as minhas lágrimas

sexta-feira, janeiro 23, 2004

absolutamente

a entrega, o sentimento. o hoje, o aqui e agora sem nos preocuparmos com o depois de amanhã feito de lágrimas, quedas e feridas por cicatrizar. almas escuras, almas magoadas. asas quebradas ou lágrimas para limpar. não. isso tudo seriam apenas pormenores de um dia como o de hoje. em que te amo assim. absolutamente. sem medos. sem pensar. só sentindo. os cheiros, as texturas que fazem disto uma coisa absoluta. pelo menos por hoje, por agora, aqui neste espaço fechado onde te invoco, te recordo e te sorrio. . sentindo-te apenas, sentindo-me apenas.absolutamente

quinta-feira, janeiro 22, 2004

de noite

sempre de noite. A luz ténue lá em cima. O convite expresso no sorriso dos teus lábios ainda húmidos do último beijo. Os cabelos desalinhados. A erva. A terra molhada pela chuva que nos apanhou desprevenidos e felizes. De noite. À noite, enquanto passeávamos pela serra e esperavámos conquistá-la. Não era difícil. Tudo parecia ser possível ali. Os beijos, os abraços, as promessas de olhares e as juras de silêncio à luz daquela Lua assemelhavam-se a qualquer coisa de eterno que ficaria sempre gravado nos troncos de àrvore em que deixávamos os nossos nomes e o sinal de + entre eles. Esquecemo-nos apenas de pôr o = . Ou se calhar, não esquecemos. Era de noite e estávamos distráidos. A chuva apanhou-nos desprevenidos. Éramos jovens. E não podíamos saber, ninguém nos avisou que as serras não se conquistam e que a seguir à noite, vem sempre o dia. Mesmo que venha devagar. A noite também morre. Como nós. Assim era este o resultado da soma que tanto quisemos gravar nos troncos das árovores. A nossa forma de eternidade. O sonho da noite. Antes mesmo do dia despontar no nosso horizonte com um sorriso ainda maior do que o nosso. É possivél?

Em branco

Sem luz. Neste canto escuro onde escondo a alma, onde sinto a falta de tudo. Sinto falta de mim. Não me levanto. Não sou capaz. Submersa entre os cobertores e a solidão teço as minhas lágrimas num sal que não enfeita nenhuma história, mas que tempera apenas as minhas dores. Em branco. Sem luz.

terça-feira, janeiro 20, 2004

(...)

Esqueço-me do teu olhar, ignoro os teus sorrisos e rejeito chamadas. Por isso neste momento não te penso, não te sinto e mesmo por isso me esqueço. De ti e depois de mim. Enterro-me viva. Ou mais ou menos morta porque já não há sonho. Não há espera. E não há sobretudo razão para continuar. É um funeral tardio e adiado vezes sem conta, apoiada na ilusão esperançada de que talvez amanhã pudesse ser melhor. Não o é, nem o vai ser nunca. Por mais que doa, por mais que seja também essa a verdade. Isolo-me e escondo. Não quero as manhãs, as tardes ou as noites. Não quero nada. Só talvez o descanso. Espera-me a solidão inevitavél, o desespero e depois disso tudo... o resto.

domingo, janeiro 18, 2004

Sei que não

que não me é permitido sentir o que sinto. Que não posso dizer o que quero, que não te posso beijar ou abraçar quando tenho vontade. E, sinto em mim, em nós, demasiados nãos. E não os suporto. E não os quero carregar mais dentro de mim. Por isso vomito-os todos num rompante de mágoa, de raiva e de amor. Agora tudo o resto não passa desse bocado de massa informe que ficou espalhada no chão à espera que alguém limpe. Já não te espero. Nem sequer sei se ainda te quero.
Agora e daqui em diante sou gelo. Inquebravél e distante. Cortante e indiferente a tudo. A todos. A ti e principalmente a mim ao que sinto. E ao que quero deixar de sentir.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

The end of us

Just the end. In you eyes. In your litlle smile. In my words. In my silence. Just the final end. Without tears or regrets. The end of us.

quinta-feira, janeiro 15, 2004

"Lê o que passa atrás de meus olhos."

"Lê o que passa atrás de meus olhos." Vacuum
Gosto de ti. Através da sombra. Escondida entre palavras e devaneios que são pequenos espasmos de dor que às vezes não consigo suster em mim. E saem cá para fora. Como gritos silenciosos que nem sei se quero que ouças. Porque uma palavra a mais e depois? Por isso quero que me leias através dos meus olhos, das minhas mãos que tremem ao tocar-te, dos meus sorrisos parvos, das palavras que te vou confessando a conta-gotas e que te dizem tudo. Mesmo aquilo que não queres ouvir. Porque tens medo de que tudo se quebre. Eu escondo-me nesse teu medo e recolho-me na sombra. Ainda à tua espera.

terça-feira, janeiro 13, 2004

Sem palavras

hoje sou assim... sem palavras. Ou com palavras difíceis de pronunciar que se ficam nas imediações de algum sítio que conheço de cor. Hoje sou o beijo que não te roubei ontem. O pedido que não fiz. A mão que não te agarrou. Sou o silêncio do primeiro olhar matinal. Sou o toque suave que pede sempre mais, mesmo sabendo que não pode ser. Sou a história incompleta e fugidia. Sou todos os medos. Todos os ventos que te arrastam para longe. Sou as ilusões que não me atrevo a confessar-te. Sou as fantasias que não me deixam dormir. As ousadias que não me permito ter. Sou sem palavras... apenas eu. Apenas tua.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

E porque

porque o teu olhar se encontrou com o meu. E porque um beijo aconteceu porque não deveria acontecer. E porque te escrevo porque sei que não me lês. E porque gosto de ti no segredos dos meus sonhos. E porque as minhas mais secretas palavras não te dizem nada. E porque te ouço em noites intermináveis sem sono. E porque o vento te traz, mesmo quando te empurro para lá de mim. E porque não me consegui ainda libertar de ti. E porque falo sempre do mesmo. E porque ainda te trago dentro de mim. Num recanto qualquer cheio de sorriso que por teimosia insisto em coleccionar. E porque gosto de ti... escrevo-me nestas linhas de lua cheia.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Pedaços de ti

Fragmentos que te esqueceste de levar contigo. Ou então talvez já nem sequer os quisseses de tão presos que ficaram em mim. Não me disseste adeus, foste-te despedindo aos poucos, como quem pede desculpa por se ir embora, quando já não pode mesmo ficar. E tu não podias. Fui apenas um porto em que demoraste apenas o tempo suficiente para deixares esta memória imensa: um filho. Nosso, no momento que mo deste agrafado a um beijo e um malmequer. Mas meu com pedaços de ti encrustrados nos olhos, no cabelo e no sorriso. Olho-o e sorrio. É por ele que vale a pena sorrir.

Espero

recolho-me nas sombras de uma noite que teima em não passar. Escondo-me aqui, nestas palavras que ninguém lê e permito-me à noite adormecer com a tua imagem nos meus olhos e o teu nome mil vezes repetido pelos meus lábios, embala-me os sonhos. Talvez seja por isso que não durmo em paz. Que tenho pesadelos e que acordo sempre sozinha. Talvez seja por isso que procuro noutra qualquer coisa, aquilo que sei que não podes dar. Mas ainda espero, mesmo sabendo que não posso esperar. E continuo à procura de algo que engane a falta que me fazes.

Plágios...

Sou contra, absolutamente contra estes absusos. Se escrevemos o que escrevemos é porque é íntimo e é nosso, apesar de estar publicado, apesar de meia dúzia de pessoas os lerem, estes pequenos contos e/ou apontamentos são nossos. Falo por mim. Pelo prazer, às vezes doloroso, de escrever. Porque desvendamos segredos e intimidades, porque construímos histórias à volta de nós próprios e porque muitas vezes nos permitimos ser nós próprios enquanto escrevemos. É por isso que aquilo que escrevemos é tão nosso. Pode ser partilhado. Mas continua ainda dentro de nós, porque só o som da nossa voz lhes dá o sentido e o sentimento. Assim por direito e por sentimento sou contra esses abusos que a Eva denuncionou no seu limbo e que também já me tinha acontecido a mim pela mesma pessoa.

Não...

Não, não desapareci do blog, nem deixei de escrever. Foi apenas uns desentendimentos técnicos comigo e com os computadores, nada de grave portanto! Obrigado pela preocupação de todos aqueles que me escreveram preocupados com o possivél fim deste Luar.

sábado, janeiro 03, 2004

A viagem

A chuva pingava nos vidros. Os outros, os amigos, lá atrás iam aos poucos adormecendo ao som do cansaço de mais uma viagem e de mais uma passagem de ano. Os kilómetros de estrada passavam por nós indiferentes. E nós, por eles, ainda mais indiferentes, serenos e certos do nosso destino. Tão calculado e quase tão previsivél que nada podia alterar aquela ordem das coisas.
Numa população qualquer estivemos parados imenso tempo à espera que um rebanho de ovelhas resolvesse acabar de passar a estrada. E nesse pequenino espaço de tempo, tudo se comprometeu, tudo se alterou. Eles dormiam embalados pelas brincadeiras, pelo alcóol e pelos sonhos. Nós acabávamos de acordar. Devagar. A custo. Como se cada gesto nos magoasse e nos fosse doloroso. Tínhamos medo. Mas também tínhamos tempo. O rebanho era grande. Elas eram lentas. E chovia. Eles dormiam.
Eu fui a primeira a descer neste lento regresso a casa. Já não chovia. Já não havia rebanhos e eles já tinham acordado. Mas nós ainda nos tínhamos. Com um beijo que não chegou a acontecer, mas que ficou preso nos cantos dos nossos lábios. Como uma promessa. À espera de uma outra viagem. De outro rebanho e de uma outra chuva.

Sem resoluções

Rompi a tradição este ano: Não comi passas. Não pedi os 12 desejos. Mas assim que ouvi as 12 badaladas, fechei os olhos com muita força e pensei em ti. Quando os abri de novo. Estavas à minha frente a perguntar-me pelas minhas resoluções de ano novo. Não te respondi. Não podia. Afinal tu és a minha mais firme resolução neste novo ano.

Em mim

Voltei. Ao lugar que criei sem quase sem querer e que aos poucos se tornou uma parte importante de mim. Voltei. Um ano mais velha. Com mais lágrimas, mais sorrisos e sobretudo com mais sonhos. Com mais energia e mais vontade de ser feliz. De sair do limbo, dos túneis perversos onde por vezes eu me escondo da luz. Porque ela fere os olhos. Voltei. A mim. Um ano mais velha, prontinha para tentar ser feliz neste novo ano. Feliz 2004!