segunda-feira, dezembro 17, 2007

de olhos postos no céu

É Inverno eu sei. aliás sinto-o na pele. um Inverno díficil de aquecer. e entender. nos bolsos escasseiam as moedas para atirar um desejo a uma fonte. o pai natal já não me ouve há muito tempo. e os meus sonhos são simples.
Olho o céu à espera de ver essa tal estrela que tu vês. para acreditar. que o céu não pode ser negro para sempre. um dia tudo vai ser diferente. Levanto a cabeça uma vez mais. de olhos postos no céu. ainda a acreditar. na magia dos desejos de Inverno.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Do beijo entre a tua e a minha vida

Pedes-me segredo. do quê, quero perguntar. mas não há voz suficiente para as palavras saírem. Encontramo-nos neste elevador todas as manhãs, à hora do almoço, depois à tardinha ou em noites de serão. nada mais. vivemos de olhares. festejamos os sorrisos e encontramo-nos em toques desajeitados, as parcas palavras que trocamos podem contar uma vida inteira. Mas uma vez, por uma única vez, hoje por sinal, parámos o mundo. dentro deste elevador. entre o teu e o meu andar. foi um beijo. aconteceu porque apeteceu. os rostos encontraram-se a meio de um sorriso. e não bastou. não mitigou o desejo. não queimou a paixão. as portas abrem-se. não há mais nada lá fora para nós. pedes-me segredo.

do beijo entre a tua e a minha vida

domingo, dezembro 09, 2007

qualquer coisa de imortal

É uma menina. Apenas uma menina com os seus oito anos, feitos já naquele quarto de cheiro a éter, deitada entre os lençóis com as siglas do hospital. E só essas três letras já dizem tanto. Já explicam tanto sobre ela estar aqui. Explicam a inexistência do cabelo, a cor amarelada da pele, os lábios gretados e os tubos a invadirem-lhe o pequeno corpo.
Sob a mesa de cabeceira há uma foto dela mais nova. Ela de cabelo louro caindo em cachos sobre os ombros ao pé de uma árvore de natal branca.
Era eu, explica-me.
És tu, respondo-lhe.
Acho que não, essa menina não sou eu, diz ela.
Olho novamente para a foto. Ela é capaz de ter razão. Essa menina loura não sabe o que é acordar com um sorriso nos lábios e ver a vida através desta cama. ter um diagnóstico que é quase uma setença de morte. Quase. Porque um sorriso nunca se acaba.
Um sorriso é para sempre, ensina-me , enquanto aperta com força a minha mão.
Amachuco, no bolso do casaco, os resultados do meu exame e tento sorrir como ela.
De repente já não tenho frio. só um pouco de medo.

Definitvamente há qualquer coisa de imortal nos sorriso deste hospital.

terça-feira, novembro 27, 2007

o amor que existe

O amor que existe. aberto num sorriso. molhado por uma lágrima. esquartejado por palavras feias. manietado por gestos impensados. o amor que existe. ouvido por dentro da sonora gargalhada, vestido de rosa plim no vestido que hoje trazes. o amor que existe. calçado de sabrinas. arrombado pela dor latejante. pirueta infinita. esse tal amor que existe. entrelinhas atrevidas. longas distâncias. e nós. quem és. quem sou. o abismo mesmo ali à beira. danças? se caíres, caímos os dois. embalados pela música encantada. desse tal amor que insiste. persiste. em existir. dentro de mim.

segunda-feira, novembro 19, 2007

E faz um frio imenso, sabias?

é um bocado de adeus. é um pedaço de outono que se desprendeu de mim. é uma pequena despedida porque foi tudo tão pouco. é a página em branco onde dantes abundavam palavras. é a ausência distante da presença ,outrora constante. é o ruído ensurdecedor do silêncio. É o grito que se ignora. é um bocado de adeus. é uma dor agudinha. é o peixe fora de água. é o cigarro fumado sem perdão. é o hábito. é a mania estúpida de se viver de sonhos. é por isso um adeus. breve como tudo o que restou de nós. E faz um frio imenso, sabias?

sábado, novembro 17, 2007

vens?

não mudo. não quero. não preciso. sou a pequena miúda. que de colchão em colchão foi redescobrindo a essência do coração. quero cair, se tiver que ser. quero voltar de novo para o baloiço para que nunca sinta medo. de voar. mesmo com as quedas que se dão pelo caminho. quero fechar-te os olhos. empurrar-te contras as nuvens. para as imediações do céu.
encontra-me num jardim. farei a tarde apetecer-te. nos resquícios de chocolate no teu rosto. na manga madura em pedaços. os meus trapos de cor encaixam-se no pequeno assento de madeira. Empurra-me. Baloiço. embalada pelas palavras que chegam do fundo do poço. lembra-te. sou a pequena feiteiceira. que vive para sentir. sente-me.




não quero ter de pensar. não preciso disso. tenho um baloiço à nossa espera.
Vens?

sexta-feira, novembro 02, 2007

O encanto

Outrora, num mundo que não era o meu, o amor tinha mais encanto ao começo. Mesmo sem fadas ou duendes. Assim rezam as histórias de amor que os meus avós me contavam. Especialmente o meu avô. Que se apaixonou, loucamente, aos dezanove anos por uma voz. "Era uma daquelas paixões irracionais, eu não sabia absolutamente nada dela, só lhe conhecia a voz. ", contava ele. Conhecia, porém, todo e qualquer estrecimento na voz dela, cada sobressalto na voz era motivo de preocupação para ele. E imaginava-a linda, esbelta e jovem. Pronta para casar com ele.
Conseguiu saber o nome dela e, mais tarde as horas a que saía da rádio. Nos primeiros dias seguiu-a apenas até à paragem do eléctrico e depois, devagarinho tentou aproximar-se dela. Da sua estrela. Da diva de voz cristalina que lhe enredava os sonhos à noitinha.
Quando conseguiu ter coragem para lhe falar, explicou-lhe quem era numa aflição doentia, de que ela se riu e teve pena, acedendo ao convite para tomar um chá rápido. Ela era a Voz. Que o desconcertava e o apaixonava. Levou-lhe flores e chocolates que pagava com o seu parco ordenado. Pedia calças vincadas e sapatos emprestados, para esses encontros. Alisava o cabelo com brilhantina e mais bonito não podia estar. Ofereceu-lhe um anel. Prometeu-lhe uma vida. Seria uma vida diferente. Não seriam pobes, apenas remediados ao princípio. Felizes, no entanto, assegurou-lhe ele. Mas ela não chegou a ser a minha avó.


No dia a seguir ao funeral do meu avô, estava depositado sob a campa dele, uma rosa vermelha. Tenho a certeza que era da minha quase quase quase avó. Ou pelo menos quero acreditar que sim.

domingo, outubro 28, 2007

Eles

Ele nasceu velho e ela vendeu a alma ao tempo. queria ser nova para sempre. encontraram-se no local do fim. um cemitério quase a fechar. Limparam a lágrima esquecida deixada pelos mortos que nos habitam e tomaram um café na leitaria em frente. Ele quis oferecer-lhe um flor, mas só havia crisântemos na florista. Ela pediu-lhe um beijo. Ele desculpou-se com a barba de três dias e recusou-o. Indignada, ela deu-lhe o braço e propôs-lhe um passeio. Que voltassem ao cemitério. ou como romanticamente ela se referia, o jardim mais bonito das memórias. O certo é que voltaram, ela decorou as frases mais enternecedoras das lápides, as declarações de amor absoluto que vingavam para além do tempo. Esse tempo que ela queria enganar. Para ele o tempo era o passar dos dias. Igual. Ele nasceu velho e ela queria ser nova para sempre. foi só assim, simplesmente que aconteceu. Num dia igual a tantos outros. Ele estava lá, ela também.
Quando o porteiro os expulsou do cemitério ele já queria o beijo, o sorriso que inundava de vivacidade o rosto dela, o calor que se desprendia das entranhas dela. Queria tudo. Queria-a ela. Ela que era apenas a vida em forma de primavera. Flor. no jardim mais bonito das memórias.

* escrito à saída de um desses jardim de memórias, onde ainda dói encontrar o nosso amor.

quinta-feira, outubro 11, 2007

cansaço

Cansaço. Um peso enorme sobre os ombros. Um desespero angustiante. Algo que se prende por dentro de nós. E cansa. Desalento. Acordar, abrir os olhos porquê?, se no sono quente e profundo o mar é mais denso e menos perturbador, não há sorriso, carinho ou toque que eleve o olhar. o horizonte é sempre para baixo. corpo levemente curvado e descaído. não apetece mais nada. não há força para mais nada. Ainda assim sorrio. Por isso mesmo sorrio. Para ver brilhar um novo amanhã.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Jorge Palma - Encosta-te a Mim

Encosta-te a mim... depois de tudo. Depois da vida. Encosta-te a mim. a música é maravilhosa e o video é quase quase feito de um afecto genuíno que dá arrepios. Uma música que faz sorrir. E um video que faz querer acreditar. Nas pessoas e nos afectos.

sexta-feira, setembro 28, 2007

onde estiveres

Onde quer que estejas, para onde quer que o fim te tenha levado, não importa. Onde quer que estejas estás comigo. Guardado a sete chaves naquele canto terno que se invoca quando tudo dói demais. E é bom lembrar dos abraços, da paciência, dos gelados e dos passeios, dos baloiços, dos rebuçados e dos almoços de domingo, da ternura e do amor infinito. É bom lembrar-me de ti. Hoje no dia dos teus anos. Onde quer que estejas, estás comigo. Para sempre. Parabéns.

quinta-feira, setembro 27, 2007

mas

Deveria estar bem mas... deveria estar feliz mas... devia abraçar o mundo com toda a força e renascer para os sonhos de olhos abertos mas... Deveria sorrir mas... Deveria chorar pois então de alegria mas... Deveria. Pois deveria. Se tudo fosse assim tão fácil. Tão imediato e simples. como um arco íris. O baú das moedas no fim. Eu deveria encontrá-lo. Mas...



Deveria amar todos os homen possiveis do planeta mas... existes tu. E isso muda tudo. Mas não deveria.

terça-feira, setembro 18, 2007

ser ou não ser

estou cheia de palavras que nem sei o que querem dizer. nem sei como as escrever. sei que há alguma coisa em mim que precisa de sair. adivinho que são palavras porque reconheço os sintomas. mas pela primeira vez não sei qual é a doença e desconheço em absoluto se há cura. revejo-me imensas vezes ao espelho. afincadamente acreditem. para tentar ver. o mesmo que os outros veêm. olho e não me vejo. e nem sequer suspeito, onde em mim, os outros encontram tanta coisa.

"és muito especial, sabias?!"

Posso ser sincera? Sabia. Sei. Só não sei o que isso faz de mim. E sei também que ninguém me dará essa resposta. Porque também não é uma pergunta. é só um vazio. é só olhar-me e não me ver. coisa pouca, portanto.

terça-feira, setembro 11, 2007

no escuro

as mãos procuram no escuro. o amor encontra-se. este é o teu braço, a tua perna? percorro os caminhos do corpo, fico-me pelos pequenos recantos desconhecidos, respirando-te lentamente. porque o tempo é contado entre nós. desço, subo. fico-me e morro nos lábios. seguro o peito em chamas que ameaça ser apenas cinza depois de agora. os olhares prendem-se e há um sorriso no beijo molhado e exigente. nas mãos que me cortam. fragamentos de amor às escuras. nós.



**Fragmento retirado do meu projecto de texto ou de sonho

sábado, setembro 08, 2007

porque não sei

eu que já soube tanta coisa. nomes de rios. capitais de cidades. cores de bandeiras. eu que já soube falar de sentimentos. eu que achava que me conhecia a mim mesma. que sabia a linha e o horário exacto do comboio que queria apanhar. eu que já soube tanta coisa. já desafiei outros com os meus conhecmentos. já dei conselhos. já opinei e já tive razão. já voltei atrás e admiti erros. já caí e já me levantei. agora simplesmente não sei o que fazer. não me ouço. e o que sai de dentro de mim é uma enorme confusão. há vidas suspensas à espera de mim. há pessoas que aguardam as minhas decisões para viver. já não é só uma negativa no teste. é uma vida a crescer. um beijo que não basta. e uma palavra simples "amo-te" que muda tudo. só em mim é que não. porque não sei. o que sou. pintas-me. retrato díficil. és especial. é bom, mas mete medo. ser especial. o que é isso? não sei. eu que já soube tanta coisa.



na estação anunciam o comboio. não sei se me apetece apanhá-lo. não sei se me apetece o destino

terça-feira, setembro 04, 2007

E se...

Se se perdeu o momento. Se te foste embora no minuto imediamente antes àquele em que eu podia ter sorrido e dito "amo-te", porque não era preciso dizer mais nada. mais nada mesmo. porque passou a hora, o dia e ficou a semana. Nessa semana ficou encurralado esse momento. em que as palavras teriam valido o ouro, a prata ou o bronze. Se tudo isso foi assim, exactamente como acabo de descrever, uma prova de ateletismo algures no oriente, em que aproveitaste a inspiração e correste. Atravessaste a porta. e foste. poderias ter sido o ouro, a prata ou o bronze na minha vida. Ficaste um "e se..."

acho que me estou a tornar uma excelente coleccionadora de "e se...." ou incrivelmente boa a perder momentos.

desafio- o primeiro

Em jeito de resposta ao repto do Ricardo , fica aqui a frase:


"o cabelo louro dele também estava molhado naquele dia, embora fosse ainda jovem e não o tivesse começado a pintar" - amor numa rua escura- Irwin shaw

As regras deste desafio.
1. Pegar no livro mais próximo
2. Abri-lo na página 161
3. Procurar a 5ª frase completa
4. Colocar a frase no blogue
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro (usar o mais próximo)
6. Passar o desafio a cinco pessoas
Para cumprimento da regra 6, passo o desafio a:
a) katraponga
b) delusions
c) bubbles
d)marta
e)Luci

segunda-feira, agosto 13, 2007

Reler

Este espaço faz este mês quatro anos. Aproveitei para reler o que o tempo fez de mim nestes quatros anos e se traduziu em palavras escritas neste blog. Às vezes é bom olhar para trás...
As motivações durante estes quatro anos foram quase sempre as mesmas. A confissão, o diálogo interior, o pedido interno (ou externo?) de socorro, a expressão intíma da dor, da ternura, do amor e das minhas paixões. Este espaço não têm nomes, nem datas, nem idades ou raças. A escrita vale por ela mesma. Somos todos iguais não é? Ou pelo menos por dentro de nós sentimos todos da mesma forma e este espaço, ensinou-me isso mesmo. Por aqui cruzam-se pessoas de todas as idades, raças e géneros e todos eles de alguma forma se identificaram com as minhas palavras. É essa a razão pela qual este espaço ainda dura. É também uma das razões pelas quais escrevo noutros formatos e noutros lugares.

segunda-feira, agosto 06, 2007

A ti


O mundo tem uma dívida comigo. Uma dívida de amor, como me disse a minha psicóloga. Talvez ela tenha razão, no que diz respeito à dívida, mas não é com o mundo. É contigo.
Desde bebé, habituei-me a não acreditar nas palavras, nas minhas e sobretudo nas dos outros. Tudo isto tem uma explicação. Quando disse a minha primeira palavra, tu tinhas acabado de sair de casa. E eu precisava de alguém que me sorrisse, me pegasse ao colo e ficasse feliz por mim. Não tive nada disso. Ninguém se apercebeu de que eu tinha chamado por ti. Ao fim de uns poucos anos deixei de chamar. Percebi que não valia a pena. Pai, era apenas uma palavra sem significado, como tantas outras que fui aprendendo ao longo destes anos. Mãe, confesso que também já me disse mais. Um dia, há pouquíssimos anos, disse-me quase tudo, disse-me que era altura de desistir dela e deixá-la viver. Deixei-a viver o suficiente, para ela num dia lindo de Primavera, se suicidar. Ao princípio, pensei que fosse ironia, a Primavera, é a altura, onde tudo nasce. E ela morria. Descobri que não era ironia, era a altura propícia para ela renascer, num outro sítio. Onde e quando, não sei. E penso, sinceramente, que não quero saber. Prefiro agarrar-me a esta ideia de continuação e de renovação. Nada se perde, tudo se transforma.
Transformei a minha raiva em palavras, nas quais alguém acredita. Eu vou acreditando com o passar dos dias. Afinal uma mentira tantas vezes dita, torna-se verdade, ao fim de uns tempos...
Não ter pai, foi sempre a mentira, que me fizeram acreditar, hoje sei que é a verdade, com a qual tenho de conviver diariamente. Já sem medo. Quase sem dor.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Porto


Porque é a outra metade de mim. Regresso amanhã para o reencontro de abraço apertado à minha outra cidade que amo como se fosse realmente minha. Quando atravessar o rio saberei que estou em casa. Como se nunca tivesse realmente saído. Das ruas estreitas e escuras. Da Ribeira. Da Foz. Do "Piolho", do Palácio de Cristal, de Sta. Catarina ou do Majestic. Volto à cidade dos abraços, dos encontros e das eternas despedidas. Um beijo para quem fica.

quinta-feira, julho 26, 2007

last dance

Espero por ti se me concederes a honra da última dança. A última de todas. Quando todos já tiverem partido e já não haja ninguém para nos ver. para aplaudir os nossos movimentos desejeitados de tão tímidos e ternos. podes entrar à sucapa a meio do baile ou optar por me espreitar de quando em vez. saberei sempre onde estás. é lá o meu mundo. como poderia simplesmente não te reconhecer? Sente o toque suave da fita de cetim que me prende os cabelos ou do azul do veludo do meu corpete. Sei que sabes, que por debaixo da renda da minha saia se esconde a pele branca torneada das minhas pernas. sabes tanta coisa e no entanto...
Espero por ti se me concederes a honra da última dança. Não importa a idade. se calhar estaremos de bengala os dois e seremos avós. será a derradeira dança entre parufusos que prendem os ossos ao corpo e óculos a derraparem no declive do nariz. serão dois velhos tontos a descobrirem o amor. será a última dança. a mesma que não dançámos quando tínhamos vinte anos e éramos ainda mais tontos.

segunda-feira, julho 23, 2007

Cap, pas cap?

Rever um filme pela segunda é repetir o irrepetivél, sentirmo-nos banhados pela água fresca da nascente uma segunda vez. É o sabor inesquecivél do segundo beijo. Menos desejeitado e apressado do que o primeiro. Agora já se está mais alerta. as mãos já sabem o que procurar e os lábios entendem-se como amigos de longa data. sem palavras. Ver "Amor ou Consequência" pela segunda vez é tudo isso e muito mais. é quase andar de baloiço sem sair de casa. é sentir o sabor raro da vida plena nas nossas mãos. é a liberdade furiosa a querer singrar dentro das veias. é o amor a acontecer. a primeira vez. é o segredo revelado. o romance trancado. o desafio enorme.


Chove. La vie en rose. Edith Piaf. Tu e eu, porque não? Cap, pas cap?

quinta-feira, julho 19, 2007

o sonho

escrever é um sonho antigo. o mais sonho que já sonhei. é também talvez um dos mais irreais. porque me falta tudo. a coragem. o tempo. a dedicação. o talento. sobra-me o sonho. as emoções. as palavras que me naufragam. o dia a dia que me transcende. não é um diário. nem pode ser. porque nunca tive tendência para ser certinha. nem para me lembrar de tudo. as minhas memórias passaram pelo filtro do meu olhar. não sou historiadora. a minha visão é sempre parcial. e por isso minha. são diálogos intímos. é isso que partilho aqui neste luar. as minhas fases crescentes e crentes, cheias, descrescentes e descrentes e por vezes tão vazias que chegam a ser eclipses. desde há quase quatro anos. porque ainda guardo comigo o sonho mais sonho de pequena célula. escrever.

quarta-feira, julho 18, 2007

Cresceste...

sentada no sofá de joelhos flectidos e pose irreverente, é-me impossivél ter outro pensamento que não o mesmo de sempre: cresceste. há bem pouco tempo habitavas o meu corpo, depois o meu colo, depois os gritos e as discussões, agora habitas o lugar de melhor amiga. mas és ainda e serás sempre a minha filha. a pequena célula que conjuguei às vezes contra mim mesma. Cresceste. Bates-te pelas tuas vontades e acérrimos desejos. Cais, choras. Levantas-te e a minha voz está sempre do outro lado do telefone. Eu estou sempre aqui. Nesta sala vazia que já nem sequer me pertence porque raramente cá estás. Cresceste. Serás a mulher de que alguns homens falam e desejam. mas hoje, aqui, sentada no sofá, comendo uma fatia do teu bolo preferido, és só e apenas a minha filha. a minha pequena célula. a outra parte de mim.

* Á minha mãe, porque como todas as mãe, é a melhor mãe do mundo.

terça-feira, julho 17, 2007

não é justo

como só eu sei que não é. não é justo. voltar a sentir isto. agora, especialmente agora, que o teu toque tinha desaparecido da minha pele, que o som das tuas palavras não me causava arrepios. não é justo toda a história se repetir de novo dentro de mim. agora não. deixa-me viver esta história nova. repleta de texturas e imagens diferentes. deixa-me cruzar novas paisagens. correr. baloiçar-me por aí. deixa-me ser só sorrisos e alegrias. deixa-me. porque não é justo. como só eu sei que não é.

sexta-feira, julho 13, 2007

em algum lugar

Em algum lugar. Num tempo que não foi nosso. não o será nunca mesmo. Nesse lugar recôndito de mim espero por ti. Esperei desde sempre. Antes de ser gente e de saber que um dia te iria conhecer. Imaginei-te tantas vezes. escrevi-te outras tantas vezes. E soube, sempre soube, que aquele nunca seria o nosso tempo. Em algum lugar dentro de mim ainda te espero. Um tempo que tem aliás a vida inteira para acontecer. a tua ou a minha? O que sou eu para ti? O que fui?
Ficam as perguntas. As imagens e todas, todas as palavras mágicas, que me fazem sorrir e querer, querer muito acreditar. Em mim. Em algum lugar.

terça-feira, julho 10, 2007

às vezes bastava um beijo, sabias?

Escondo as lágrimas, passo a água pelo rosto, olho-me no espelho mal iluminado e penso que tenho de estar apresentavél.
não tenho tempo para chorar. ou para ter pena de mim. ou para sentir. É melhor mesmo nem sentir o que se passa cá dentro. o que mói e o que me esventra por dentro. às vezes bastava um beijo, sabias?
Ajeito as calças e componho o blaser azul escuro. Com a escova, estico os cabelos com força, para matar os caracóis. Eliminar os vestígios de mim na mulher que se reflecte no espelho. nunca se nasce outra vez. Eu queria nascer de novo. Para te tirar de dentro de mim.
Passo o batom nos lábios, em jeito de toque final. Estou pronta.

às vezes bastava um bejo, sabias?

domingo, julho 01, 2007

baloiçar


O baloiço é das minhas mais queridas recordações de infância. Voava. Impulsionada pelo sonho. de olhos fechados. porque o mundo era meu. Não precisava sequer que me empurrassem. Sozinha. Sonhava tudo. E balouçava. Sempre. hoje. na cadeira ou na rede. ainda balouço. o mundo ainda é meu. mas às vezes preciso que me empurrem.

segunda-feira, junho 25, 2007

prémio

Eu, a Maria da Lua e especialmente todos aqueles que me leêm dentro e fora deste blog, ganharam um prémio literário. Este seria sempre impossivél se não fosse a vossa presença neste luar. porque este prémio reflecte apenas a luz projectada por vocês. Assim os meus parabéns a todas essas luzes que me fazem brilhar.

SIM

Apetece-me dizer que sim. Que o mundo é um lugar maravihoso para se viver. Que sim, que é enternecedor o teu beijo da manhã, ou o teu olhar sedutor com que me despes lentamente de todos os pudores.Apetece-me dizer que sim. Que vale a pena. Arriscar. Sempre. Mesmo com todos os riscos, por cima de todos os medos. Apetece-me dizer que sim. Que gosto de ti. Que me apetece morrer nos teus braços, fechar os olhos e ficar-me por aqueles instantes, a naufragar por dentro de ti. Apetece-me gritar que sim. que podemos e devemos lutar por nós mesmos. Eu quis de novo voltar a sorrir. Apareceste tu. Completaste o meu sorriso. Agora somos dois a sorrir. E a gritar, desavergonhadamente felizes, que sim. Que vale a pena querer. E querer com muita força. Acreditar em nós. Sorrir depois. E encontrar a outra parte do nosso sorriso. hoje és tu. apeteceu-me dizê-lo.

sábado, junho 09, 2007

da ternura

porque há a ternura do primeiro olhar. as palavras que se proferem pela primeira vez e se guardam como recordações distantes. também pela primeira vez. há o primeiro beijo. tiraste os óculos. fechaste-me os olhos. e aconteceram os nossos lábios. nossos. nem meus. nem teus. nossos. em pequenos passos em direcção ao céu. porque de mãos dadas contigo posso voar. habitar um mundo novo. sorrir e ser eu. só para ti. pela primeira vez. feita de ternura.

terça-feira, junho 05, 2007

encanto

encantei-me como julgava impossivél encantar-me novamente. pelos olhos. pelo sorriso. pelas mãos, pelas palavras que trocámos. E foram tantas e tão intensas que as podíamos ter divido por outras noites. mas usámos aquelas. ainda temos outras. teremos sempre, asseguras-me tu. sinto que sim. que são feitas de verdade as palavras que trocamos. que são feitas de nós cegos em que me apetece entrelaçar. e ficar suavemente a balouçar na rede. uma e outra vez.

sábado, junho 02, 2007

se te pudesse escrever

Se te pudesse escrever eu saberia o que fazer com esta dor miudinha que me consome por dentro. me tira o sono. me faz tropeçar nas palavras. sorrir de novo. e encantar-me com os caminhos que sonho para nós. um dia. muito mais tarde. porque sim. já sei. há coisas que demoram tempo a acontecer. e eu não posso querer tudo hoje. desculpa-me. nasci assim com pressa de viver. medo de morrer sem ter experimentado tudo a que tenho direito. se é que tenho mesmo direito a ti. se te pudesse escrever seria tudo mais fácil. traduzir-te em palavras e revelar-te nos meus dedos seria o princípio. assim saberia que me pertencerias sempre. mas não te prendes em mim. foi só um momento. ainda dura dentro de mim.

domingo, maio 27, 2007

EU

A terra é a minha pátria, o céu o meu tecto, a liberdade a minha religião.
Provérbio cigano

terça-feira, maio 15, 2007

Passa mesmo?

Fechou a porta com todo o cuidado para que a mãe não acordasse. Hoje o trabalho deveria ter demorado mais tempo. No princípio custara-lhe muito aceitar a profissão da mãe. A mãe é uma p... . Fina, daquelas que se mantém à custa das mais novas, quase sempre ilegais e na maioria até mais novas do que ele.
À “Casa Alegre”, assim se chama o local, ele foi lá duas ou três vezes, e foram fatais. Na primeira descobriu a verdadeira profissão da mãe, na segunda descobriu rostos de homens importantes que só conhecia da televisão e na terceira vez... essa sim foi a mais fatal. Apaixonou-se. Acreditem... foi de verdade! À primeira vista! O primeiro amor! Tornou-se uma obsessão. E se as obsessões em qualquer idade são perigosas, na adolescência em que o mundo ainda é nosso, as emoções são ainda mais intensas e o perigo da queda torna-se ainda maior.
Ela, filha de um emigrante português arruinado, era a coqueluche dos clientes: Bonita, franzina, loura, tocava piano e falava francês. E era a pureza em pessoa e no nome. E não tinha achado piada nenhuma a ele. Até porque não se queria meter em complicações com a patroa. Atracção física, uma paixoneta condescendia ela. O verdadeiro amor, prometia ele. Paixão primaveril, insistia ela. Amor eterno, jurava ele.
Um dia pequeno de Inverno ela desapareceu. Da “ Casa Alegre” e da vida dele. Ele chorou-lhe a partida e ficou meses de cara às avessas com a mãe. Rebeldia de um adolescente mimado. Isto passa-lhe, ajuizou a mãe.
Passa mesmo?!
Chega à faculdade mesmo a tempo do início da primeira aula da manhã. O professor debita a matéria. Fala-se do coração. Das veias e do sangue. Dos malefícios do tabaco e do colesterol. Mas o Senhor Professor esqueceu-se das emoções. Essas sim, provocam os grandes males do coração. Essas sim aceleram o coração e originam as tais palpitações.
O sonho da faculdade já não o alimenta. Já não chega, se é que me percebem. Têm de haver mais do que este futuro projectado ao milímetro. Faltam-lhe as ditas emoções, aquelas que dão vida ao coração. Dessas, ele não as vive há muito tempo. Desde que ela se foi embora, naquele pequeno dia de Inverno. Isto passa-lhe, ajuizou a mãe.
Passa mesmo?!
Num terraço de um prédio de doze andares, sentado mesmo, mesmo à beirinha ele interroga-se: Qual é o fim da dor?
Lá em baixo, os carros e as pessoas. Formigas de várias cores que apressadas procuram o seu carreiro e o seu ninho. Qual é o fim da dor? Passa mesmo?! Já não consegue acreditar nas palavras da mãe. Afinal, depois de tantas mentiras (piedosas), ainda dá para acreditar?
Um psiquiatra “amigo” da mãe diagnosticou-lhe uma depressão e mandou-o para casa com duas caixas de comprimidos. Nunca os tomou. As emoções não se curam com químicos. Pelo menos não as suas.
Suicídio, distracção ou negligência (nenhuma protecção no terraço!). Apenas uma pergunta: Qual é o fim da dor? E as palavras da mãe. Isto passa. Passa mesmo?!



*um dos meus últimos textos publicados no saudoso dn jovem

sexta-feira, maio 11, 2007

assim que o tempo passar

assim que o tempo passar sobre nós haverá com certeza coisas que se perderão, palavras a morrer nos lábios ou gritos sufocados na garganta. assim que este tempo passar. as minhas mãos já não serão uma extensão das tuas e os meus olhos não procurarão, no céu, a tua estrela. assim que o tempo passar sobre nós saberei que te foste embora. que partiste sem volta. sem abraços desta vez, promete. porque o tempo não pode passar por nós se ainda vislumbrar no teu abraço a vontade de me agarrar. para sempre. assim não nos conseguiremos despedir nunca. e precisamos disso para voltar a viver. para podermos ser dos outros. para que o tempo passe por nós e nos apague. leve o resto.


não me abraçes. nunca mais.

terça-feira, maio 01, 2007

pormenores de um dia

estás sentada à minha frente e desenrolas uma história. a tua história. entre a dúvida se devo sorrir ou deixar que a lágrima teimosa desça sobre mim, paro apenas. sustenho a respiração enquanto suspendo o mundo e ouço-te. mulher agora. miúda há tempos atrás porque não te vi crescer. e no entanto estás aqui frente a mim a desenrolar uma história cheia de gritos que se cristalizaram dentro de ti, cheia feridas invisiveis que os outros teimam em não reparar, cheia de esconderijos secretos, os quais te permitiram sempre fugir. até hoje. porque me contas finalmente a tua história. de silêncios que se queriam, em algum momento, gritos. de sorrisos que foram máscaras de lágrimas, de palavras que se atentamente lidas eram pedidos de socorro. és jovem e forte. como são todos aqueles que acreditam no amanhã que ainda está por construir. como são todos aqueles que amam apesar de...
sou a tua ouvinte passiva porque me pediste. pagaste à recepcionista o preço da consulta. tiveste de começar a telefonar para casa das pessoas, a tentares vender a banha da cobra, para poderes falar. para eu te poder ouvir. devia ser de graça ouvir-te, penso. ninguém deveria ter de pagar para poder gritar tudo o que se acumula. tu pagaste. e agora estás aqui. eu de frente para a história. a tua.
calas-te. apetece-me pegar na tua mão e acreditar contigo. como tu acreditas apesar de tanta coisa, amar como tu amas apesar de...
os ponteiros do relógio marcam o fim. não sei ainda se voltas. ou se a tua história voltará contigo.

quinta-feira, abril 26, 2007

um novo mundo

amanhecer é isto. espreguiçar-me perante a janela. desvendar um novo mundo agarrada às paredes carregadas de telas. que me falam de ti. cruzar o olhar com o céu. descobrir nele as cores de sempre. e ficar feliz por isso. por estar aqui. a perscrutar com o meu divino olhar a massa de mundo que se estende à minha frente. sempre nova. porque há uma racha nova no vaso que se esconde no parapeito da janela. porque a cadeira onde me sento, para tomar o café, é tão antiga, reparo só hoje. e sempre sentei aqui desde sempre. a parede é azul. azul a imatar o céu lá fora. amanhecer é dizer-te bom dia. novo mundo. meu. tão meu. que fecho as portadas das janelas e vou para a rua. à procura de outros mundos, espreguiçando-me por outras janelas de onde se avistam outras telas.

quarta-feira, abril 25, 2007


porque foram as primeiras flores que recebi de um homem. o meu pai. porque são as flores que cultivo desde sempre dentro de mim. são as flores da liberdade. da minha e da dos outros. são o sangue que me corre nas veias. as flores do meu pensamento. porque hoje é 25 de abril.

sexta-feira, abril 20, 2007

porque hoje

por ti, para ti


porque hoje acordei e senti a falta de tudo. do ponto exacto no mapa onde era possível nos encontrarmos. há dias em que esse ponto não existe. como hoje. falta-me a praia. as falésias embrutecidas pelo toque violento do mar. falta-me o fio de prumo que tornava o céu tão certo e tão nosso. faltam-me os teus braços que me fazem rodopiar. e lembrar-me de ser pequena. faltam-me os teus olhos gritantes de sonho. falta-me o corpo que aqueça o tom pálido da minha carne. falta-me tudo hoje. faltas-me tu. falta-me o beijo quente do destino pelo qual anseio desde sempre. desde que te tornaste o passaporte para os meus sonhos. de menina. ainda. para ti.

quarta-feira, abril 18, 2007

assim...

Assim... de ombros nus, abraçada a mim mesma. porque ainda é o único abraço que me consola e me isola do mundo. das dores. e dos outros. que não me conseguem agarrar. nem suster o meu medo, as minhas lágrimas ou a minha emoção no seu abraço. assim abraçada a mim. ainda mais sozinha. ainda mais eu. comigo mesma. agarrando-me. suspensa na corda bamba. assim de ombros descobertos, abraçada. entre o afecto e o desespero. embalada pela nostalgia das coisas que passam sempre. hoje dói mais apenas. o quê? tudo. hoje dói mais tudo. numa dor aguda quase física. onde? por todo o corpo. dentro do corpo. por dentro de mim. assim abraço-me. para passar o tempo.

segunda-feira, abril 02, 2007

ela...

Ele há rostos que nos tocam. Nos ficam. E nos perseguem. É assim o rosto desta mulher. A preto e branco. Porque sim. Porque só conheço duas cores. Estas duas. Tudo o resto são derivações. Mas ela é única. E vejo-a. Sentada na cadeira de balouço. À espera que lhe pousem as borboletas na mão. Ninguém sabe o que espera. Ou sequer se vai voltar a falar. Há vozes como a dela, doces e ternas, que nos fazem voltar ao início de tudo. Ao algodão doce na extinta feira popular. Ás histórias de encantar. Ela é uma princesa ainda. De voz adormecida e rosto calado. A mão estendida. À espera da borboleta. Do amor que a toque. A levante e lhe fale baixinho ao ouvido. Só para a ouvir de novo cantar.



(ela não fala há quase dez anos. habita um mundo de silêncio. só seu. e meu que a espio na vã tentativa de a ouvir novamente. como há quase dez anos. em que era tudo tão mais fácil)

quarta-feira, março 28, 2007

porque danço

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
Álvaro de Campos

Porque danço a meio do dia. porque abro os olhos num sorriso imenso para o mundo. porque choro. porque me provo. porque erro. porque espero sempre alguém. porque sonho sempre de olhos abertos para o futuro. Porque sou inteira quando te amo. Porque sou absoluta. Porque sou cavalo selvagem. porque sou a liberdade na flor. porque sou a presa fácil do amor. porque sou assim. apenas eu. apenas sonho. nuvem de fantasia. porque sou toda em ti. porque nada deixo para mim. porque me abraço. porque tenho frio. porque me acaricio. porque tenho fome. de ti. porque me olho ao espelho. e não te vejo. porque rodopio sozinha a meio do dia. porque sonho. Sempre. muito.

sábado, março 24, 2007

porque não sei

porque não sei tanto. tanto mesmo. há tanta coisa para lá de mim. tanto que não sei dizer, exprimir e segredar-te ao ouvido. não sei como te dizer o que isto é. como é. como me atravessa os sentidos, se entranha nas vísceras e me faz querer-te. acima de todos os medos. acima de todos os riscos. dos costumes. acima dos outros. acima de mim mesma. porque subo. fecho os olhos extasiada. estou no topo do mundo. estou contigo. e sei. tão bem que sei. talvez seja a única coisa, que verdadeiramente sei, não era contigo que deveria estar. de mãos dadas até tudo se acabar e a eternidade se perder debaixo da água quente. onde o teu corpo já não é meu. E o meu voltou apenas a ser corpo. porque não sei ser mais nada. não sei se há mais alguma coisa para ser aqui. contigo. ainda que no topo do mundo.

quinta-feira, março 15, 2007

Não sabes...

Não sabes as palavras mas adivinhas as letras. Não sabes os nomes, mas adivinhas-lhes as formas. Não sabes quanto tempo, mas adivinhas que é pouco. Não sabes se é poema, conto ou romance, mas adivinhas que é de amor os segredos que te escrevo no papel. Não sabes se é de noite ou de dia, mas adivinhas que te chamo no silêncio dos meus sonhos. Não sabes se sou culpada ou inocente, mas adivinhas o feitiço nos olhos. Não sabes se sou terra, ar ou água, mas adivinhas que não sou de ninguém. Não sabes se te amo, mas adivinhas no corpo que te quero. Não sabes para onde vou, mas adivinhas que vou sem ti. Não sabes as notas, mas adivinhas a música branca que nos abraça e nos tenta. Não o sabes verdadeiramente mas… amo-te

domingo, fevereiro 18, 2007

fogo

quem brinca com o fogo, queima-se. foi assim que nos conhecemos. tu eras fogo. e eu estava disposta a queimar-me. nessa fogueira imensa. tivesse ela a dimensão que tivesse. durasse o tempo que durasse a extinguir-se. iria perserguir-te até ao fim. até te ter. decidi nesse mesmo dia.


com o passar do tempo, dei-me conta que não brincava com o fogo. pisava-o de pés descalços. com a humildade de quem sabe que para ter, é preciso lutar. com a inocência de quem inicia um caminho pela primeira vez. com a ingenuidade de quem ainda olha o mundo à volta com olhos grandes de espanto.




amo-te: piso o fogo de pés descalços.

quarta-feira, janeiro 31, 2007

revisão da matéria

quando andava na escola as aulas que mais me entediavam eram estas: revisões da matéria dada. chegava ao fim e a conclusão era sempre a mesma. não entendia nada. faltavam sempre conhecimentos que por preguiça deixava acumular no saco do depois. hoje a revisão da matéria deixa-me ainda a mesma sensação. faltam-me conhecimentos. para poder lidar com isto que é a vida. com isto que é a morte. com isto que é o amor. com isto que é esta dor no peito que me estrangula a verdade. se revir a matéria percebo que continuo, apesar da passagem do tempo, a saber cada vez menos sobre as coisas. porque tudo me parece sempre novo. e com olhos de espanto encaro o dia da revisão da matéria. afinal sei que pouco ou nada sei. sobre isto. que dói. e que ás vezes chamam de vida. de amor. de dor. de qualquer coisa. nada sei.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

quando tudo ainda é tudo

Quando tudo é ainda é tudo. mesmo tudo. se é que me entendem. quando o amor é qualquer coisa de indefinida escrita e reescrita em mensagens grátis para os telemóveis divididas alternadamente entre as amigas e aquela pessoa especial. Nesse mesmo quando, há uns anos atrás, agora parecem-me séculos, confesso, vi-te. E acho que sim que me apaixonei. Ou pior do que isso, tornaste-te o meu herói. tornaste-te o mágico do meu sorriso. o único adulto ao cimo da terra que me entendia. tinhas a vida que eu ambicionava ter um dia. a liberdade que eu invejava. a solidão que me inspirava. eras tudo. quando tudo era ainda tudo. o meu melhor amigo que me defendeu das lágrimas quando a morte me bateu à porta pela primeira vez. nunca hei de esquecer aquele abraço quente que me agasalhou da frieza dos imponentes ciprestes no cemitério. como me levantaste, me sentaste na mota e me fizeste desaparecer para bem longe do mundo. porque descobri nesse dia que era um sítio onde doía demais existir.
Quando tudo ainda era tudo, desfazias-me as palavras e os sonhos com histórias de vidas cheias de ruas e avenidas vividas à noite debaixo de cobertores rotos ou de cartão.
Quando tudo era ainda tudo, trocaste-me os meus sonhos de menina por dores brutais de mulher. obrigaste-me a crescer, amargando-me os lábios. tenho as imagens gravadas na cabeça e tive-as demasiados anos gravadas na pele.
quando tudo era tudo, não entendi. chorei. e morri-te no sofá preto com riscas vermelhas. porque foi ali que tudo deixou de ser tudo para passar a ser uma qualquer coisa que doía demasiado e não conseguia contar a ninguém. entre a dor e a vergonha nasci-me. outra vez. as que forem precisas para que tudo ainda seja tudo. porque não há dor capaz de me calar o sorriso que trago preso nos meus lábios.

terça-feira, janeiro 09, 2007

anda

anda. vamos? onde? a esta hora? Não respondes à minha sucessão de perguntas e escondes-te no silêncio de quem veste apressado o casaco e sai. antes de fechar a porta, diz-me então. vou comprar cigarros. Não fumas, penso eu. Visto também eu o meu casaco apressadamentes e com as chaves no bolso sigo os teus passos. Se desapereceres eu também quero desaparecer contigo.
Seguimos pela rua meio que desorientados pela penumbra da noite escondendo-nos da pouca luz existente. o teu passo acelera de vez em quando. quase corres. á procura de cigarros. à procura do fim. corro também. as minhas pernas são pequenas demais. sinto-me a perder as forças. não queria desistir ainda. acho-me tão nova para essas coisas. desistir. parar de lutar. abandonar o barco. mas confesso. nunca pensei que precisasses de cigarros numa noite como esta. escura e perdida numa aldeia sem luz.
já não vamos a lado nenhum. alcançaste o fim. agora tenho sempre cigarros para ti. se voltares. não precisas de procurar mais nada.

sábado, janeiro 06, 2007

atada

atada.nós fortes. laços inquebravéis. amarras para sempre. a aliança no dedo. poderia já estar tudo dito se te quissesse falar do fim inevitavél que tudo isto um dia terá. por agora vivo atada. na corda bamba de uma história que bem podia ser de equilibristas ou de trapezistas que voam de olhos fechados. espírito aberto dado a possibilidade de caírem, magoarem-se ou morrerem. beijas-me. fecho os olhos. voo. pouso o meu corpo cansado mesmo à beirinha do precepício da paixão. escuto uma voz que me aconselha prudência. não gosto destas vozinhas interiores. caio as vezes que cair. as que forem necessárias para poder sentir sempre o que é voar. desafiar a vida em cada beijo que damos. sem medo de morrer. porque garantiram-me que já não se morre de amor.

quarta-feira, janeiro 03, 2007

a preto e branco.

porque quero recordar para sempre este instante. seguro o teu rosto entre as minhas mãos suadas e fixo o teu olhar dentro do meu. é assim que te quero. para sempre. dentro de mim. seguras o meu cabelo com a força de uma paixão que não podemos viver e que existe só aqui. nas paredes deste quarto alugado entre a tua hora de almoço e a minha. na cabeceira os telemoveis fazem as vezes de despertadores de sonhos. o nosso. que podia ser de amor. mas é disto. dos corpos que se agarram desesperadamente. dos lábios que se devoram. das mãos que não se desprendem. destes olhos nos olhos que quero guardar para sempre. como prova de que um dia amei. de que um dia te amei.
Na cabeceira as sandes de plástico que mordemos nos intervalos de trincarmos a pele um do outro. com cuidado. as marcas são perigosas e podem revelar a outros olhares a nossa história. as roupas no chão despidas em contra relógio. tu dentro de mim. desejando-me e querendo-me como se só tivéssemos o hoje. este presente quase envenenado com que nos brindamos entre a tua hora de almoço e a minha por entre mensagens ardentes e declarações românticas. a preto e banco. seguro o teu rosto. quero decorar-te. dentro de mim. por dentro de mim. para que não saias daqui. beijo-te. prova-me que existes. és meu. e estás aqui.