quinta-feira, dezembro 30, 2010

Biografia

Hoje mais velha.

Antes de ser gente, queria ser pedra. Pelo som da palavra. Depois poeta. Porque também gostava do som da palavra. Poeta, era o nome de todos os meus peluches. Antes de saber escrever, quis ser escritora, porque contava estórias a mim mesma para adormecer. O jornalismo, a profissão óbvia, foi apenas uma breve passagem. Fiquei-me pelo Direito. De usar as palavras. Pelos outros.

Hoje mais velha.

Ainda quero ser pedra. Pela dureza de que são feitas. Porque não se partem. Como eu que me lasco um pouco mais em cada queda. Já não quero ser poeta. Os poetas conhecem bem demais a textura das lágrimas.

Hoje mais velha.

Talvez ainda escritora. O sonho dos sonhos. Porque ainda me conto estórias para adormecer nos dias maus.
O Direito das palavras corre-me por entre os dedos e transparece-me na voz.

terça-feira, dezembro 14, 2010

O teu nome

Nunca pude gritar o teu nome aos quatro ventos. Nem confessar a ninguém isto que me rasga o corpo e corrói  por dentro. Não posso dizer porque me gotejam os olhos, ou porque as palavras são gritos que me obrigo a calar.

sábado, dezembro 11, 2010

Despedidas

Não sei se quero uma despedida desta vez.  Já houve tantas entre nós. E sempre tão definitvas que foi  assustador beijar-te pela última vez ou amar-te pela última vez.

Não quero que me morras porque isso seria lembrar-te para sempre. Quero que te desvaneças, que as poucas coisas que ficaram de ti se esmoreçam na correnteza dos dias, para que possa despedir-me delas sem medo do amanhã.

Não quero por isso dizer-te adeus, ficamos no "amanhã ligo", no qual tantas e por tantas vezes quis acreditar. Assim, de nós ficouo cansaço da sobrevivência ao silêncio.

Quero por isso dormir. E quero que saias dos meus sonhos.

quarta-feira, novembro 17, 2010

Trocas

Eu um dia serei tão velha para ti. As borbulhas do meu rosto serão rugas vincadas. Os caracóis castanhos de fogo, serão apenas nós num cabelo branco. O tempo também vai passar por mim. E deixar marcas.

Como será se eu crescer?

Tenho medo que um dia troques de vida. Que um dia queiras começar tudo de novo com alguém mais novo. como eu sou hoje. nova para ti. Nova na juventude, no brilho que enche os olhos de brilho e acalenta o sorriso nos lábios que se prendem com os teus.

Como será se eu crescer?

Trocar as listas de livros pelas listas de supermercados, a ópera pela Hanna Montana, as nossas escapadinhas pelo mundo, por um dia num spa.

Como será se eu crescer?.

Trocas-me?

sábado, novembro 13, 2010

Em ti.

Não sei o que a dor fez de ti. Não sei se precisas do meu abraço de silêncio, ou das palavras pequenas de conforto. Sei apenas o de sempre: que te penso diaria e injustamente. Que és pensamento a cada instante.
Não sei que marcas deixam as lágrimas no teu rosto. Não sei sequer se ainda andas por cá. Sei que sobrevivo ao silêncio do que ficou. E ainda assim espero por ti.




Relatório da mensagem: Não entregue.

domingo, outubro 31, 2010

Não gostes de mim

Pedi-te sempre, não gostes de mim.


Gosta do corpo, gosta do meu riso, da minha falta de juízo, gosta do meu sorriso de menina, da voz ensonada quando acordo, do cigarro que evito, do café da manhã obrigatório, do beicinho do amuo, das unhas encarnadas, do cabelo encaracolado que passo a ferro diariamente, dos relógios que prendem ao tempo.

Gosta do que vês nas fotos e te faz lembrar de mim. Gosta do que a tua memória imagina de mim e inventa de nós como memória persistente. Gosta das cerejas sumarentas que são como palavras entre nós. Gosta dos sonhos que se descobrem nas maçãs do meu rosto. Gostas das estrelas que vislumbras no meu olhar.

Gosta do beijo de sabor intenso a desejo. Gosta da minha imunidade contra paixões e quaisquer outras atracções. Gosta de saber que me vou embora a meio da noite.

Não gostes de mim.

Não me obrigues a dizer que gosto de ti.

sábado, outubro 30, 2010

Agarro o teu braço. Procuro a carne. O que está por debaixo da carne. Agarro apenas a carne. Queria conseguir estancar a hemorragia. como se faz isso?

Aperto o braço. Estanco o sangue à custa de seres meu. Por este bocadinho esbulhado a um dia de uma chuva imensa, do lado de fora desta carrinha abandonada que ocupámos. Só hoje. Só agora. Para eu te poder apertar o braço.

Não há lágrimas. Não há adeus. Promete-se sempre que se volta um dia. Ao local do crime.

quarta-feira, outubro 27, 2010

Tão pouco de ti. Quase nada.

Tenho tão pouco de ti: As conversas ocasionais. O cheiro incorporado no corpo. O olhar suspenso num gesto terno. Tudo é tão pouco que se guarda tudo.  O primeiro beijo. O abraço quente.  As frases escritas e enviadas em mensagens curtas.Numa conversa que poderia ser de amor. É menos qualquer coisa. Porque o resto dói mais.

Tenho tão pouco de ti.Quase nada.

terça-feira, outubro 26, 2010

Preciso de ti. Ligo ao médico?

Doem me as saudades. Nos sitios mais improváveis do corpo. Nas unhas, no cabelo, que segundo o médico que me observa diz queo corpo perdeu vitalidade.

Eu continuo a achar que é só saudade.

Pois, talvez seja da idade. Fala do cálcio, de vitaminas necessárias. E que todos os dias nos esquecemos dos nutrientes essenciais ao nosso bem-estar.

Todos os dias me lembro de ti.

Pescreve-me meia dúzia de comprimidos. Num post-it amarelo, um nº de telefone, para ligar quando precisar de alguma coisa. O que for, reitera-me ele.

Preciso de ti. Ligo ao médico?

segunda-feira, outubro 25, 2010

A caminho dos 30....

A passos apressados para os tão famosos 30, alguns de n´so voltam à infância e respescam o inocente jogo das cadeiras. Ninguém quer ficar sozinho, ama-se mesmo que ou apesar de.  O arco-íris já só tem duas cores, e uma é definitivamente o cinzento. Podemos ter crescido, os anos poderão ter passado para o cartão do cidadão pronto a estrear, ainda não é desta vez que morremos, mas assustámo-nos com as fragilidades da vida, deixamo-nos flutuar na leveza morna de um dia a dia que não idealizámos, mas acabamos por escolher. Talvez mudemos. E sejamos felizes. Um dia mesmo que ou apesar de.

domingo, outubro 24, 2010

Então, quando?

Sempre quis tudo para ontem. Antes de ontem, se fosse possivél.

A pressa de sentir, de viver na curva do teu pescoço, de segurar os teus olhos nos meus, de sorrir de mãos dadas num caminho lamaçento. De te ouvir sussurar o meu nome enquanto dormias.

E o nosso nós demora tanto tempo. Não é desta, percebo ainda. Então quando?

Era para ser ontem. Ou antes de ontem. E já lá ficou tanto tempo para trás.

Permaneces nesse ontem que nunca acontece. Na névoa imensa de "ses" que não consegues enfrentar.

Deixa lá, eu fico para amanhã.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Do vazio

Reduzo e resumo tudo ao essencial. Toco onde dói. Conheço o âmago da dor. Resumo –me à estufa fria, onde nada com vida pode ser viável. Aproprio-me de palavras. De histórias e de vivências de outrem.

Invento- o mundo está cheio de pessoas vazias- reinvento-me.


Esvazio-me.

terça-feira, setembro 28, 2010

Parabéns.

Um dia, antes de ser gente, perguntei-te para onde iam as pessoas quando morriam. Tu, desenhaste-me o rosto com a ponta dos teus dedos e disseste:

- Conto-te à noite.

Tu não me desiludias, contigo aprendi que o prometido pode um dia ser devido. Assim à noitinha em vez de bebermos o leite com mel na minha cama, fomos bebê-lo para a varanda.

- Quando morrem as pessoas transformam-se em pó.
- Pó?!!
- Sim, mas não é um pó qualquer, é pó mágico feito de estrelas e que fica lá em cima no céu a brilhar.

Hoje no dia dos teus anos, onde quer que estejas, qualquer que seja o pó em que a morte te tenha transformado, estás comigo. Para sempre. Parabéns.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Medo

O medo é uma concentração de ar húmido que se entranha nos ossos: Tenho medo das nuvens que nascem atrás dos meus olhos.

Tenho medo de estar contigo. Tenho medo de estar sem ti.

quarta-feira, setembro 01, 2010

Vintes e alguns cometas.

Perguntaste-me primeiro a idade. (Não se pergunta a idade a uma senhora, disseste e sorriste.) Perdoa-se tudo a quem nos sorri assim. E então disse-te tenho vinte e alguns cometas. Sorriste ainda mais, num sorriso de franco de espanto. Lembro-me de pensar que o meu horizonte caberia nos teus olhos. Lembro-me de imaginar que as minhas palavras poderiam aquecer a tua boca. Lembro-me de pensar....



Este blog faz sete anos este mês. Começou assim com uma história de amor que não podia ser de amor. Foi história minha. De um amor meu.
São sete anos, muitas palavras e muitos naufrágios. Obrigada a quem continua desse lado a ler-me.

terça-feira, agosto 24, 2010

Recortes de felicidades

Procuraste-me para uma conversa breve. Querias o jogo de antigamente. No sitio de antigamente, o casino.

Calculado o risco, sempre alto contigo, feitas as apostas, entre os martinis e os teus honrosos e nada discretos olhares, para o meu decote, quiseste saber se era feliz.

- Feliz?

- Sim, feliz, assim, sozinha. És?

- Já não jogo a feijões. E no casino já não há moedas a caírem.

Apesar do ar de desilusão aparente, a cova do teu sorriso denunciou-te. Sei que ficaste feliz por não te querer desta vez.

sexta-feira, julho 30, 2010

A verdade certa.

Ainda não posso dizê-lo com a verdade certa das coisas, mas existo. E isso, por vezes, torna tudo tão perfeito. Ainda que seja coisa. E seja coisa que te baralha.

quinta-feira, julho 01, 2010

Cheguei agora a casa.

Cheguei agora a casa. Não me peçam palavras.
Há qualquer coisa em mim autorizada a nascer.

sexta-feira, abril 30, 2010

A Gaivota

Como te prometi, regressei. Perdoa o tempo que demorei. É verdade, perdi o medo, perdi o medo de regressar. Voltei. Vivo agora das memórias. Das tuas memórias e das nossas... Desço as escadas até à praia. Redescubro os nossos mil lugares. O sol mergulhou inteiro na linha do horizonte, na linha que os meus olhos alcançam. A linha que quiseste ultrapassar.

Enterro, ao caminhar, os pés na areia escaldante.
Será que foi este vento que te arrastou? Será que foi nesta espuma que te transformaste? Será que estes grãos amarelados que piso são restos teus?

Tinha de ser aqui... tudo tinha de terminar aqui. Porquê?

Fixo os olhos na areia e no mar. Em tudo que resta das minhas lembranças desta praia. Não quero, mas... soltam-se lágrimas, lágrimas que nunca chorei, lágrimas que nunca mereceste... lágrimas que só tu poderias abafar.

Mas estás longe. Longe, apenas longe. Ainda existes? E que diferença faria isso hoje? Estás longe... é apenas isso que me magoa.

Olho o céu que perdeu o calor do sol e ganhou as cores da harmonia, da perfeição. Dezenas de aves esvoaçam pelos céus, céus que um dia quiseste alcançar.

Uma gaivota pousa na duna: na nossa duna. Quieta, olha tudo o que a rodeia. Parte. Atravessa os céus. Já só a distingo pela mancha cinzenta que se confunde com a escuridão da noite. E a gaivota voa... voa... Voas...?

Volto para a antiga casa. Talvez adormeça a ouvir os sons da escuridão, talvez a lua ilumine o meu sono. Talvez amanhã te esqueça. Talvez amanhã...

É manhã. É cedo. O sol também acabou de acordar. Dormi bem, por estranho que te pareça. Hoje vou mesmo ter a certeza se perdi o medo. Vou nadar até à gruta.

Tenho medo de não conseguir, da dor ser mais forte. As lágrimas podem vencer as vagas do mar? Tenho medo, medo, medo de ter medo. Mas devo-te isso. Os medos ultrapassam-se... sempre?

Aproximo-me do mar. Tenho medo. Sempre o medo. Medo.

O contacto com a água provocou um arrepio que, rapidamente, se estendeu ao corpo todo. Mas não é o momento de recuar. Não agora. Nadei, passei os rochedos, ou o “Adamastor”, como lhe chamávamos. Tive, pela primeira vez, medo do mar. Engoli muita água, tanta que a garganta secou com o sal. Ali, também não havia necessidade de falar.

Alcancei a gruta depois de muito esforço. Senti-me extenuada e com muito medo. Muito medo do que iria encontrar. Fatigada, deixei-me cair nas réstias de algas secas e areia, que ali se encontravam. Fechei os olhos e, mais uma vez, tive medo. Medo de me perder. Encontrei o cofre. E agora...? Tenho medo...

Uma gaivota atravessa a gruta e pousa em cima do cofre. Quieta, olha tudo o que a rodeia. Parte, é livre de partir. É livre de voar. Como tu.

Durante instantes fixei o cofre. Não valia a pena abri-lo. Nem mesmo levá-lo. Era teu... era do mar. Ele que o levasse.

Abro o cofre. Choro. O búzio, a vieira preta, a estrela do mar e uma folha de caderno dobrada em dois. Ao aproximar o búzio do ouvido oiço vozes. Vozes indefinidas... a tua ou a do mar? Talvez apenas oiça a do meu coração. Talvez...

Cuidadosamente, pego na vieira preta. Foi a primeira relíquia do nosso cofre. A primeira concha que achei quando vim para aqui morar. Tem meses, séculos de memórias e histórias por contar.

A estrela do mar foi uma prenda tua, no primeiro aniversário da nossa amizade. Antes guardávamos também aqui as cartas que escrevíamos. Mas essas rasgaste-as ao vento...

Deixa-me ser cobarde uma vez mais e confessar-te que tenho medo. Medo de ver a folha do caderno. Medo, medo de me perder. A gaivota voltou...

Pousa mesmo a meu lado. É linda: cinzenta, com um bico longo. Envolve-a uma atmosfera de mistério. Parece que reconhece tudo isto, eu, as lágrimas, o cofre e este lugar.

Aproxima-se mais, toco-lhe medo. Não foge, não pica. Acaricio-lhe as penas com movimentos suaves com que ela se delicia. Afasta-se. Quieta, olha tudo o que a rodeia. Parte. Sempre.

Desdobrei a folha. Um desenho: o teu rosto, cortado por uma gaivota cinzenta... e uma pequeno texto, que li a medo:

“Matilde, se um dia conseguires, perdoa-me. E tenta... tenta ser feliz. Concretizarás esse sonho. Tua, para sempre...”

Ela descobrira a gaivota. Ela era a gaivota. Era a gaivota que, livremente, atravessava os céus. Era a gaivota que voava. Era livre.

Pertencia ao paraíso ambicionado, ao mar e ao vento. Pertencia à liberdade.

A gaivota pousara mais vez junto ao cofre. Fora o seu último voo. Deixou que eu lhe fizesse uma última carícia e fechou, para sempre, os olhos.

Morrera. Abandonei-a nas ondas do mar... juntar-se-à a ti, quando o sol mergulhar inteiro, na linha do horizonte...
 
(Tinha 15 anos. Sonhos faziam a vez de olhos, a liberdade pulsava-me nas veias e os sorrisos alimentavam-me a alma. 
Hoje passaram muito anos desde que este conto aconteceu por entre os meus dedos. Não mudei muito.)

quarta-feira, abril 21, 2010

Há quanto tempo é que não estás aqui?

Ele está sentado na cama. Costas encostas à cabeceira. Nu. Ela entra no quarto, fechando atrás de si a porta da casa de banho. Por debaixo do roupão branco não há mais nenhuma peça de roupa. O ar condicionado está ligado. Dentro dela um frio seco. Não é permitida quaisquer gotas de água por aqui.


-É isto que queres, não é?

O roupão abre-se. O corpo voluptuoso acontece aos olhos dele.

Nem sequer responde. Levanta-se de um pulo e agarra-a pela cintura depositando o corpo dela na cama por debaixo dele.

Ela odeia o corpo. As curvas da pele que ele vai tocando com a língua, os desniveis nos quais ele se perde com os dentes. Odeia o olhar dele que a aquece. Odeia as mãos dele que esboçam contornos no seu corpo. Devagar.
Demorando a tortura. Dentro de si. Pensa que está quase a acabar. Não foi desta. Alarme falso, ainda, a língua dele explorando os cantos e recantos da boca dela, pergunta-se se isto não acaba. Nunca mais.

Ela já não está ali. Há quanto tempo?

segunda-feira, abril 12, 2010

De vermelho.

As unhas vermelhas quebram-se na pele: abrem valas comuns. onde tu também podes morrer. se quiseres. se souberes morrer. entre um osso que se falsificou em titânio e um pedaço de carne ao qual já se tentou retirar todas as gorduras visiveis e invisiveis ao espelho da mente.

As unhas vermelhas quebram-se na pele: numa coreografia milimetricamente desenhada.  que nunca se perdem no seu longo percurso. abrir feridas é um trabalho até árduo e exige coordenação de movimentos.

Urdem-se chagas assim. De unhas pintadas de vermelho.


 ( Tinhas medo. Eu tenho a vida numa mão. )

quarta-feira, abril 07, 2010

Funeral blues - W.H Auden

Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,

Silence the pianos and with muffled drum

Bring out the coffin, let the mourners come.


Let aeroplanes circle moaning overhead

Scribbling on the sky the message He Is Dead,

Put crepe bows round the white necks of the public doves,

Let the traffic policemen wear black cotton gloves.



He was my North, my South, my East and West,

My working week and my Sunday rest,

My noon, my midnight, my talk, my song;

I thought that love would last for ever: I was wrong.



The stars are not wanted now: put out every one;

Pack up the moon and dismantle the sun;

Pour away the ocean and sweep up the wood.

For nothing now can ever come to any good.

 
Porque resume tudo o que senti quando tive que me despedir de ti.

domingo, março 07, 2010

a minha resposta

Leio. Volto a reler. Uma e outra vez. As tuas palavras inscritas em papel de rascunho. E continuo sem saber o que te dizer. Não me canso de as ler. Tenho medo do avesso das palavras. Dos silêncios que as intervalam e que eu conheço de cor. São os mesmos silêncios das nossas conversas, os silêncios que ficam quando o resto é demais e basta um sorriso, um olhar, um gesto.
 Tenho obrigação de as comentar, de lhes dar uma resposta. Continuar de um depois que se irá entranhar em nós.  Não consigo dizer mais do que o meu olhar já diz. E ele não mente. Não a ti. Saberás a resposta?

quarta-feira, março 03, 2010

Beijo-te

Por vezes meia-dúzia de palavras têm o condão de mudar destinos. As tuas invariavelmente mudaram para sempre o meu. Se não me tivesses respondido àquela ousadia de menina, se não tivessemos mantido aqueles telefonemas, o vinho, a lasanha, etc. Se tudo isso tivesse sido apenas uma fantasia de garota a descobrir a vida para além da casa, do bairro e da escola e tivesse ficado guardado e selado no cofre da adolescencia inquieta.

Nas palavras que vingaram e alcançaram o presente, continuas a existir. Como sempre. Com talvez ainda mais força, porque és presença na memória, nas paredes que seguram o meu ser e nas palavras, as amigas íntimas que me impedem de esquecer quem sou.

Beijo-te na distância imensa, que nos separa fisicamente. Beijo-te na intimade partilhada, que nunca se esquece. Beijo-te por entre as palavras ensaiadas frente ao espelho.


Beijo-te.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Escrever é uma forma de ouvir o silêncio.

Escrever é uma forma de ouvir o silêncio. Eu tenho demasiado ruido ao meu redor.


Volto mais tarde.

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Só corpo.

Sem alma, sem coração. Só corpo. O resto emigrou de mim.

Sou cada vez mais só corpo.


Não me peçam mais, não há mais.

Janeiro de 2010