sexta-feira, novembro 27, 2009

Procurar

Claro que sim, que te procuro.

Tu, um qualquer que me desvendaste-me assim que me viste. Corrigiste o sorriso, acertaste com a lágrima, esventraste-me as memórias e derreteste fantasmas em menos de nada.

Tu, um qualquer, que me disseste que não sabia andar. Que não sabia caminhar e que por isso teimava em cair em todos os buracos que encontrava. Que insistia no desafio do abismo, mesmo sabendo o resultado final.

Tu, um qualquer, que me obrigaste a abraçar-me ao espelho. A querer gostar de mim. A querer amar-me. Como tu.

Tu, um qualquer, que soube sempre quem eu era, mesmo quando eu não fazia minima ideia onde me poderia encontrar.

Claro que te procuro. Ainda que em sonhos.

sexta-feira, novembro 20, 2009

O meu reino por um abraço

Trocava tudo hoje por um abraço. Por uns braços quentes que me acolhessem e sobretudo me segurassem. Ando com demasiado medo de cair.
Quando cresces, percebes isto. Que tens de te abraçar. Que ninguém tem a obrigação de te agarrar ou de te segurar quando insistes em bambolear-te na corda bamba.
Quando cresces, continuas a ter medo do escuro. O desconhecido continua a assustar-te e tu continuas cheia de medo de dar o passo em frente. Quando cresces, verificas que há muitas pessoas no mundo e ainda assim te sentes sozinho.
Quando cresces, por vezes, trocas tudo pelo calor do outro corpo. Iludes-te e pensas que do nada alguma coisa pode nascer. Que alimentar essa esperança é amor. Que viver assim te vai fazer feliz. Ou menos sozinha. Digo-te eu que não.
Quando cresceres vais ter que te abraçar muitas vezes. E aqueceres o teu corpo única e exclusivamente com a água a escaldar do duche. Pele vermelha. Ferida em fogo. Lento e para sempre.

Hoje eu trocava tudo por um abraço. Uns braços que me segurassem.

segunda-feira, novembro 16, 2009

Acaba tudo assim

Numa discussão rídicula sobre quem está encarregue de lavar os pratos. A nona esta semana e hoje ainda é quase terça, explica-me a minha Cliente, sentada à minha frente, de lágrima no olho e lenço de papel a postos. Alguém gritou primeiro, o outro a seguir. Alguém levanta a mão. Depois o hospital, as lágrimas e ela aqui à minha frente. A pedir-me explicações e soluções para o fim do amor.

Depois dos pratos, a sogra que não sai lá de casa, o cão que nunca se leva a passear a tempo e horas, um elenco de queixas, de discussões e de lágrimas.

Oiço-a e pergunto-me, acaba tudo assim? Neste mar de coisas comezinhas onde naufragavam à deriva a amizade, a cumplicidade e todas aquelas coisas que aprendemos fazer parte do contrato maior que é ou deveria ser o amor.

A Cliente fala. Diz-me que não lhe apetece voltar para casa quando sai do trabalho e pergunta-me o que pode fazer.

Hoje, quando sair do escritório só há silêncio quando chegar a casa. Parti os pratos há uns tempos atrás, era esta a solução que me apeteceu dar à Cliente. Em vez disso lá lhe dei uma mezinha legal pescrita pelo Código Civil para ela orientar a sua vida.

Porque sim, D. Celeste, às vezes acaba tudo assim.