Ele limita-se a pedir um quarto de casal. Somente para uma noite e para uma pessoa. Ele. Não tem bagagem para além do trolley no qual guarda os documentos profissionais. Agradece e encaminha-se para o elevador.
Ainda não acende a luz. O que sobra da luminosidade do dia permite-lhe distinguir-lhe a silhueta dos móveis e a sua disposição de forma a não tropeçar se decidir avançar.
Depois de se despir, acende um cigarro e sente a firmeza do colchão contra as suas nádegas. Não pode fumar no quarto. Já não há quartos para fumadores. Deveria abrir a janela. Mas também duvida que dispare o alarme por causa de um cigarro. E se assim for… pior. O cartão do maço acabado serve-lhe de cinzeiro e por momentos fica indeciso quanto ao que fazer a seguir. Interromper a cadência das acções e a sequência rítmica dos verbos no pensamento é mau. É sempre mau.
Porque há a dor é suja e velha que habita a pele do corpo que se reduziu aos olhos dos outros e se a deixar tolhe-lhe os movimentos todos.
Precisa de um banho quente e de esquecer. A água escalda-lhe as costas, porém não se importa com a temperatura. É passageira a sensação. A sensação de imundice vai voltar. Assim como a dor inquietante que o fustiga e desanima. E o faz procurar um novo hotel. E não voltar à casa, à cidade onde uma vez pertenceu. Dir-se-ia que foge, numa estúpida tentativa de se encontrar.
Não o fazemos todos?