- Podes olhar agora. Eles estão-se a despedir. Conta-me o que vês...
Ele e ela despedem-se sempre desta forma. Assim como nós o fazemos em público. Nós somos apenas um aperto de mão mais caloroso ou quando nos permitimos um abraço com as características palmadas nas costas.
Eles são o beijo na testa. Simples. Seco e desprovido de tudo o que ela queria dele.
Nós, porque não pode mesmo ser de outra forma. Não nos podemos beijar em público. Somos dois homens. E isso ainda fica mal. Apesar de tudo.
Eles são dois amigos. E os amigos não se beijam.
Ele só beija outras mulheres na boca quando as quer levar para a cama. Ele só as toca quando as deseja.
Pergunto-me, enquanto os observo desta janela se ela se dará conta que embora falte o desejo a ele, há amor nos gestos toscos dele.
Porque raio ela simplesmente não desiste e não vai à procura de outra pessoa?- perguntas-me tu, enquanto os teus lábios acariciam a barba miúda.
Como é que ela consegue aguentar em silêncio? Como é que ela consegue amar naquele silêncio de lágrimas e sono?
A resposta é-te dada pelos meus lábios. Quentes. Exigentes. E duros como quase sempre. Ela, como nós habitou-se a amar, em silêncio, respondo-te por fim.
Num silêncio que nem ela compreende. Num silêncio imposto pelo olhar calado dele, cheio de ameaças de fim se ela por uma vez ousar dizer mais do que lhe é permitido.
É verdade, eu também te ameaço com o olhar muitas vezes. És um miúdo. Quantos anos a menos do que eu? Quantas experiências e vivências diferentes temos nós?
Ás vezes na inocência que conheço de cor, queres-te embrulhar em mim. Como se eu te pudesse cobrir e proteger. Ser o teu pai, ser o teu irmão e o teu amante. Não posso.
Eu sou apenas isto. Aqui. Dentro destas quatro paredes. Amo-te. Mas só aqui.
Olha para eles, diz-me são felizes?
3 comentários:
Estranha Mariadalua! Estranhíssima, indecifrável, complexa, «circular», labiríntica, inesgotável, surpreendente, amarga, cândida, esperançosa, esperançada, desencarnada, adolecente, 'velha', desencantada, encarnada, nada, tudo...mariadalua!
Quem és tu, Maria?
Da Lua?...
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Sou tudo isso. serei adolescente. hoje e sempre. amarga quando as lágrimas assomam aos meus olhos. cândida e ternurenta como uma criança surpresa com a beleza que um simples sorriso pode conter. sou o tudo que envolve. o nada em que se dissolve. o amor. sempre
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