terça-feira, novembro 27, 2007
o amor que existe
O amor que existe. aberto num sorriso. molhado por uma lágrima. esquartejado por palavras feias. manietado por gestos impensados. o amor que existe. ouvido por dentro da sonora gargalhada, vestido de rosa plim no vestido que hoje trazes. o amor que existe. calçado de sabrinas. arrombado pela dor latejante. pirueta infinita. esse tal amor que existe. entrelinhas atrevidas. longas distâncias. e nós. quem és. quem sou. o abismo mesmo ali à beira. danças? se caíres, caímos os dois. embalados pela música encantada. desse tal amor que insiste. persiste. em existir. dentro de mim.
segunda-feira, novembro 19, 2007
E faz um frio imenso, sabias?
é um bocado de adeus. é um pedaço de outono que se desprendeu de mim. é uma pequena despedida porque foi tudo tão pouco. é a página em branco onde dantes abundavam palavras. é a ausência distante da presença ,outrora constante. é o ruído ensurdecedor do silêncio. É o grito que se ignora. é um bocado de adeus. é uma dor agudinha. é o peixe fora de água. é o cigarro fumado sem perdão. é o hábito. é a mania estúpida de se viver de sonhos. é por isso um adeus. breve como tudo o que restou de nós. E faz um frio imenso, sabias?
sábado, novembro 17, 2007
vens?
não mudo. não quero. não preciso. sou a pequena miúda. que de colchão em colchão foi redescobrindo a essência do coração. quero cair, se tiver que ser. quero voltar de novo para o baloiço para que nunca sinta medo. de voar. mesmo com as quedas que se dão pelo caminho. quero fechar-te os olhos. empurrar-te contras as nuvens. para as imediações do céu.
encontra-me num jardim. farei a tarde apetecer-te. nos resquícios de chocolate no teu rosto. na manga madura em pedaços. os meus trapos de cor encaixam-se no pequeno assento de madeira. Empurra-me. Baloiço. embalada pelas palavras que chegam do fundo do poço. lembra-te. sou a pequena feiteiceira. que vive para sentir. sente-me.
não quero ter de pensar. não preciso disso. tenho um baloiço à nossa espera.
Vens?
encontra-me num jardim. farei a tarde apetecer-te. nos resquícios de chocolate no teu rosto. na manga madura em pedaços. os meus trapos de cor encaixam-se no pequeno assento de madeira. Empurra-me. Baloiço. embalada pelas palavras que chegam do fundo do poço. lembra-te. sou a pequena feiteiceira. que vive para sentir. sente-me.
não quero ter de pensar. não preciso disso. tenho um baloiço à nossa espera.
Vens?
sexta-feira, novembro 02, 2007
O encanto
Outrora, num mundo que não era o meu, o amor tinha mais encanto ao começo. Mesmo sem fadas ou duendes. Assim rezam as histórias de amor que os meus avós me contavam. Especialmente o meu avô. Que se apaixonou, loucamente, aos dezanove anos por uma voz. "Era uma daquelas paixões irracionais, eu não sabia absolutamente nada dela, só lhe conhecia a voz. ", contava ele. Conhecia, porém, todo e qualquer estrecimento na voz dela, cada sobressalto na voz era motivo de preocupação para ele. E imaginava-a linda, esbelta e jovem. Pronta para casar com ele.
Conseguiu saber o nome dela e, mais tarde as horas a que saía da rádio. Nos primeiros dias seguiu-a apenas até à paragem do eléctrico e depois, devagarinho tentou aproximar-se dela. Da sua estrela. Da diva de voz cristalina que lhe enredava os sonhos à noitinha.
Quando conseguiu ter coragem para lhe falar, explicou-lhe quem era numa aflição doentia, de que ela se riu e teve pena, acedendo ao convite para tomar um chá rápido. Ela era a Voz. Que o desconcertava e o apaixonava. Levou-lhe flores e chocolates que pagava com o seu parco ordenado. Pedia calças vincadas e sapatos emprestados, para esses encontros. Alisava o cabelo com brilhantina e mais bonito não podia estar. Ofereceu-lhe um anel. Prometeu-lhe uma vida. Seria uma vida diferente. Não seriam pobes, apenas remediados ao princípio. Felizes, no entanto, assegurou-lhe ele. Mas ela não chegou a ser a minha avó.
No dia a seguir ao funeral do meu avô, estava depositado sob a campa dele, uma rosa vermelha. Tenho a certeza que era da minha quase quase quase avó. Ou pelo menos quero acreditar que sim.
Conseguiu saber o nome dela e, mais tarde as horas a que saía da rádio. Nos primeiros dias seguiu-a apenas até à paragem do eléctrico e depois, devagarinho tentou aproximar-se dela. Da sua estrela. Da diva de voz cristalina que lhe enredava os sonhos à noitinha.
Quando conseguiu ter coragem para lhe falar, explicou-lhe quem era numa aflição doentia, de que ela se riu e teve pena, acedendo ao convite para tomar um chá rápido. Ela era a Voz. Que o desconcertava e o apaixonava. Levou-lhe flores e chocolates que pagava com o seu parco ordenado. Pedia calças vincadas e sapatos emprestados, para esses encontros. Alisava o cabelo com brilhantina e mais bonito não podia estar. Ofereceu-lhe um anel. Prometeu-lhe uma vida. Seria uma vida diferente. Não seriam pobes, apenas remediados ao princípio. Felizes, no entanto, assegurou-lhe ele. Mas ela não chegou a ser a minha avó.
No dia a seguir ao funeral do meu avô, estava depositado sob a campa dele, uma rosa vermelha. Tenho a certeza que era da minha quase quase quase avó. Ou pelo menos quero acreditar que sim.
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