quarta-feira, dezembro 24, 2003

Para sempre

- “Se te tive, não dei fé. Se me tiveste, foi um engano. Conclusão: não existes para mim”
Foi assim, só assim com esta frase, numa esplanada a abarrotar de pessoas que te despediste de mim. Lembro-me bem: Algarve; nós os dois sozinhos, nas nossas férias de sonho, uma lua-de-mel antecipada porque casar era ainda cedo demais, primeiro o curso, depois o casamento e mais tarde os filhos. Estava tudo planeado até que de repente, entre um beijo e outro....
- “Se te tive, não dei fé. Se me tiveste, foi um engano. Conclusão: não existes para mim”
Pedi-te explicações, motivos. Estavas doida só podias estar! Sete anos de namoro para que me dissesses essa maldita frase sem qualquer sentido, mas na qual se lia claramente a palavra Fim. Perguntei-te se querias tempo para pensares melhor, afinal eram sete anos de planos, de sonhos, de descobertas. Nada. Só aquela maldita frase. Depois o silêncio. Voltaste para Lisboa nessa mesma tarde, de comboio, presumo eu, porque o carro era meu e tu não sabias conduzir.
No caminho, que fiz a toda a velocidade, sem sequer pensar nos perigos que estava a correr, só pensava no único perigo óbvio que se estendia à minha frente: ficar sem ti. Tentei arranjar desculpas para o indesculpável, a pressão dos exames que se aproximavam, o Diogo que andava sempre à tua roda, tentando-te seduzir com as manias de menino rico ou ainda quem sabe o período! Aventurei-me até pensar numa gravidez não desejada. Sem respostas. Só a maldita frase que até hoje ainda sei de cor, embora continue sem saber o seu significado.
Não respondeste aos emails e mensagens escritas, recusaste-me as chamadas, até que eu por fim desisti.
Anos mais tarde, voltei ao Algarve, àquela mesma esplanada e vi-te a despachar um homem (quem sabe se com a mesma frase?!). Tomado por uma súbita curiosidade, aproximei-me de ti e segredei-te ao ouvido...
- “Se te tive, não dei fé. Se me tiveste, foi um engano. Conclusão: não existes para mim”
Soltaste uma sonante gargalhada e obrigaste-me a sentar ao pé de ti. Falámos dos velhos tempos da faculdade e não chegámos sequer a tocar nessa enigmática frase até que à despedida tu...
Tive-te. Tiveste-me. Como nunca. Como ninguém. Para sempre.
Fechaste os olhos e beijaste-me os lábios. O sabor dos teus lábios era ainda o mesmo. Tenho-te. Tens-me. Para sempre.

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