sábado, março 05, 2005
A Carta
Entregaste à Lúcia porque tinhas vergonha de me entregares directamente a mim. Ou medo da minha resposta. A uma carta que não pedia resposta. Apenas afirmava coisas. Sentimentos que me deixaram com um sorriso na cara e uns berlindes em vez de olhos. Tal era o brilho. As cartas sucederam-se umas a seguir às outras. em jeito de confissão. Como quando vinhas tarde, eu já estava a dormir e não tinhas tempo de me dizer que me amavas. Ou quando o Zé nasceu e tu embasbacado com ele nos meus braços não conseguiste dizer nada e as lágrimas caíam-te em silêncio. Nós os três. A carta. Que me deixaste em jeito de carinho quando o Zé foi pela primeira vez à escola e eu tive medo de o começar a perder. Quando ele teve a primeira namorada ou quando fomos à sua benção das fitas. Foram tantas cartas. Tantos momentos... E agora a Carta, porque estás longe. Num sítio distante em que as palavras não te alcançam e já nem sequer falas. Agora é a minha vez de ter ler e reler e por fim escrever esta carta. Em jeito de agradecimento. Por tudo.
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