"E foi assim...- começou ela a história. Interrompi-a mesmo na primeira frase, antevendo mais um drama lamechas e novelesco. Quis quebrar-lhe a cadência do pensamento e suster nos meus olhos, o brilho dos olhos dela. Porque no final da história iriam haver lágrimas. Haveriam sempre. Em cada história o final era sempre igual. Ela sozinha. Com lágrimas nos olhos, com um cigarro na mão e com a noite por companheira fiel.
Desta vez ela não me fez a vontade e continuou a narrativa e eu desisti de a interromper. Ouvi-a em silêncio. Entre o comovido e o desesperado. Mas sempre em silêncio. Porque a música branca das palavras e dos sentimentos que ela tão bem descrevia era tudo. E foi assim....
"Na nossa história houve de tudo. Sorrisos de um só instante, sem mais nada, sem pensar no que nesse outro e necessário depois. Depois de amanhã quando quissémos encerrar o último capítulo e esquecer. Apagar a nossa memória e reiniciar o jogo. Esquecer simplesmente. Como se fosse possivél. Ele queria que fosse. Ele queria que eu o olhasse e não o visse. Mas vi-o. Porque há olhares que brilham sem que o saibas. Há vazios que não se podem solucionar assim, sem mais nada. Há carinhos e ternuras que não se nomeiam e há ou houve, já não sei, beijos que se pedem e perdem na memória de momentos que se querem para ser repetir.
Mas, sabes, amigo... eu procurei-o. Durante muito tempo. Mesmo depois de me ter dado conta que ele já tinha partido para longe de mim. Persegui os cheiros que deixara na minha pele, os sonhos que deixara na minha almofada. E depois... O espaço vazio da minha cama tomou conta de mim. E depois... apercebi-me que estava de novo só. Ele não queria ser encontrado, nem perseguido. Ele não queria o meu amor"
- Como vês estou de novo sozinha- disse-me assim que terminou a sua história.
A história que adivinhei ser a última pelas feridas que causara e pelas esperanças que ela depositara nela. Não sei se será. Ela é ainda tão nova. Tão cheia de vida, tão adepta de desafios e de lutas interminváveis, mas tão frágil, abnegada e voluntariosa nas suas entregas que um dia tenho medo... Medo que desta vez a dor não a faça mover, mas a engula.
Esta foi mais uma história. Quem sabe a última?
Mas como ela própria diz com os olhos a brilhar de contentamento: "Estou viva. E se vivo, sofro e se sofro amo, nem que seja a única a amar. Esse é o meu privilégio: amar sempre. Porque os outros os que não sofrem, também não amam e também não se entregam. Mas também não vivem"
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