Escrever sobre ti é uma traição. A ti. E é uma violação mil vezes repetida e consentida a mim mesma. Porque consumo todos os silêncios que habitam as nossas palavras, exorcizo fantasmas, confidencio medos e sentimentos que jamais admitirei sentir por ti. Exponho a realidade. Mas uma realidade diferente. Que nem sequer é a nossa. É minha. Para qual acrescento cenas que nunca chegaram a acontecer e noutras vezes ainda filtro a verdadeira realidade conferindo-lhe outra dimensão.
Escrever sobre ti, sobre nós é falsear a nossa história. É por isso mesmo uma necessidade. Porque não sei viver com ela e tento padronizá-la, defini-la e nunca consigo. Escrevendo-a é mais fácil de compreender o que nos prende e o que nos separa. Sem definições ou padrões. E isso basta-me alimentar essa minha realidade que escrevo e descrevo vezes sem conta, à procura de um sentido, de um rumo, que não encontro e por isso continuo a escrever, à procura, num ritmo circular do qual já não consigo e já nem sei se quero fugir. Paro. Beijo-te. Sorrio. Enquanto durar estes nossos sorrisos somos um do outro. Essa é única certeza, bem como a única realidade.
Maria da Lua
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