quinta-feira, fevereiro 21, 2008

ensaio

Vamos viver juntos?
Assim sem mais nada. Sem beijos. Sem declarações de amor. Sem projectos para o futuro. Sem palavras bonitas. Só tu e eu. Numa loja de decoração.
Disse que sim.
Afinal sempre era mais alguém para partilhar as despesas fixas da casa. Eu estava desempregada.
Trouxeste quatro malas. Duas cheias de livros, uma com o teu insperavél portátil e apenas uma com roupa. Chegaste ao teu futuro quarto, pousaste as malas no chão e atiraste-te para a cama. Esticaste-me a mão, convidando-me também.
As cócegas, as lutas de almofadas e o risos acabaram num beijo. Acariciaste-me o rosto e levaste-me até ao meu quarto. escolheste um lado da cama e nessa primeira noite dormiste como uma criança. Eu fiquei acordada a pensar, no porque não, disto tudo. Erámos amigos. Os melhores amigos. Porque não, quando tudo parecia dizer, porque sim?
A partir dessa noite dormirmos sempre juntos. o meu corpo acostomou-se ao teu. Os teus braços encaixavam-se em mim serenamente. e o meu sono era feito de sonhos quentes.
Nunca aconteceu. Não sei se precisava realmente de acontecer. erámos tão felizes assim. mas não nos tocávamos daquela maneira. não havia o desejo. havia a cumplicidade das mãos dadas. dos pensamentos e das frases completadas um pelo outro. havia a paz insurrecta do branco. havia as pantufas ao fim do dia.
Erámos dois e bastavamo-nos para o que fazíamos do nosso dia a dia. Ou talvez não, porque todos os outros porque sim, pareciam-me agora sem nexo e os porque não aglomeravam-se nos meus olhos tristes.
E um dia disseste-me:
- Somos uma espécie de ensaio
E eu respondi-te.
- Porque não.

3 comentários:

delusions disse...

Que dizer deste ensaio?

..

Toda a vida é um ensaio... Nós somos um ensaio... Porque não?


Adorei.


Bjinho*

Anónimo disse...

Escreves maravilhosamente bem, mas pressinto nas tuas palavras e manifestações subtis que existe por ai um amor não consumado!Desejo- te que consigas concretizar!

Anónimo disse...

Misógina, a "Maria da Lua"?...
Possivelmente (e porque não?) mas com um domínio cada vez mais impressionante do discurso.