terça-feira, dezembro 29, 2009
Deste lado
Através desta janela há chuva e um rio prateado. Há um passado a ser encerrado. Amanhã nasço uma vez mais. Ainda os conto. E apago as velas. E sorrio com as conquistas. E espanto-me com as pequenas rugas que começam a despontar no meu rosto de menina. Depois acaba o ano. É o futuro pronto para ser estreado.
quinta-feira, dezembro 10, 2009
Por dentro
Por dentro. Abre-me. Sou só ferida imensa. Carne viva a sangrar. Sem tempo ou pele suficiente para cicatrizar. Abre-me. Com o metal frio do bisturi impecavelmente esterilizado. Sou apenas mais uma. Mais um corpo.
É quase bar aberto. Serve-te à vontade dos meus sonhos e vãs esperanças. Ridiculariza-os, espezinha-os. Fá-lo é de uma vez por todas.
Elimina-os de mim. Para que nunca mais ceda à tentação de acreditar.
As marcas acumulam-se no corpo. No entanto, olho-me ao espelho e incrivelmente ainda acredito. Ainda quero acreditar. Quando sei que não posso, não devo e não quero. Acreditar: no ser humano.
É quase bar aberto. Serve-te à vontade dos meus sonhos e vãs esperanças. Ridiculariza-os, espezinha-os. Fá-lo é de uma vez por todas.
Elimina-os de mim. Para que nunca mais ceda à tentação de acreditar.
As marcas acumulam-se no corpo. No entanto, olho-me ao espelho e incrivelmente ainda acredito. Ainda quero acreditar. Quando sei que não posso, não devo e não quero. Acreditar: no ser humano.
sexta-feira, novembro 27, 2009
Procurar
Claro que sim, que te procuro.
Tu, um qualquer que me desvendaste-me assim que me viste. Corrigiste o sorriso, acertaste com a lágrima, esventraste-me as memórias e derreteste fantasmas em menos de nada.
Tu, um qualquer, que me disseste que não sabia andar. Que não sabia caminhar e que por isso teimava em cair em todos os buracos que encontrava. Que insistia no desafio do abismo, mesmo sabendo o resultado final.
Tu, um qualquer, que me obrigaste a abraçar-me ao espelho. A querer gostar de mim. A querer amar-me. Como tu.
Tu, um qualquer, que soube sempre quem eu era, mesmo quando eu não fazia minima ideia onde me poderia encontrar.
Claro que te procuro. Ainda que em sonhos.
Tu, um qualquer que me desvendaste-me assim que me viste. Corrigiste o sorriso, acertaste com a lágrima, esventraste-me as memórias e derreteste fantasmas em menos de nada.
Tu, um qualquer, que me disseste que não sabia andar. Que não sabia caminhar e que por isso teimava em cair em todos os buracos que encontrava. Que insistia no desafio do abismo, mesmo sabendo o resultado final.
Tu, um qualquer, que me obrigaste a abraçar-me ao espelho. A querer gostar de mim. A querer amar-me. Como tu.
Tu, um qualquer, que soube sempre quem eu era, mesmo quando eu não fazia minima ideia onde me poderia encontrar.
Claro que te procuro. Ainda que em sonhos.
sexta-feira, novembro 20, 2009
O meu reino por um abraço
Trocava tudo hoje por um abraço. Por uns braços quentes que me acolhessem e sobretudo me segurassem. Ando com demasiado medo de cair.
Quando cresces, percebes isto. Que tens de te abraçar. Que ninguém tem a obrigação de te agarrar ou de te segurar quando insistes em bambolear-te na corda bamba.
Quando cresces, continuas a ter medo do escuro. O desconhecido continua a assustar-te e tu continuas cheia de medo de dar o passo em frente. Quando cresces, verificas que há muitas pessoas no mundo e ainda assim te sentes sozinho.
Quando cresces, por vezes, trocas tudo pelo calor do outro corpo. Iludes-te e pensas que do nada alguma coisa pode nascer. Que alimentar essa esperança é amor. Que viver assim te vai fazer feliz. Ou menos sozinha. Digo-te eu que não.
Quando cresceres vais ter que te abraçar muitas vezes. E aqueceres o teu corpo única e exclusivamente com a água a escaldar do duche. Pele vermelha. Ferida em fogo. Lento e para sempre.
Quando cresces, percebes isto. Que tens de te abraçar. Que ninguém tem a obrigação de te agarrar ou de te segurar quando insistes em bambolear-te na corda bamba.
Quando cresces, continuas a ter medo do escuro. O desconhecido continua a assustar-te e tu continuas cheia de medo de dar o passo em frente. Quando cresces, verificas que há muitas pessoas no mundo e ainda assim te sentes sozinho.
Quando cresces, por vezes, trocas tudo pelo calor do outro corpo. Iludes-te e pensas que do nada alguma coisa pode nascer. Que alimentar essa esperança é amor. Que viver assim te vai fazer feliz. Ou menos sozinha. Digo-te eu que não.
Quando cresceres vais ter que te abraçar muitas vezes. E aqueceres o teu corpo única e exclusivamente com a água a escaldar do duche. Pele vermelha. Ferida em fogo. Lento e para sempre.
Hoje eu trocava tudo por um abraço. Uns braços que me segurassem.
segunda-feira, novembro 16, 2009
Acaba tudo assim
Numa discussão rídicula sobre quem está encarregue de lavar os pratos. A nona esta semana e hoje ainda é quase terça, explica-me a minha Cliente, sentada à minha frente, de lágrima no olho e lenço de papel a postos. Alguém gritou primeiro, o outro a seguir. Alguém levanta a mão. Depois o hospital, as lágrimas e ela aqui à minha frente. A pedir-me explicações e soluções para o fim do amor.
Depois dos pratos, a sogra que não sai lá de casa, o cão que nunca se leva a passear a tempo e horas, um elenco de queixas, de discussões e de lágrimas.
Oiço-a e pergunto-me, acaba tudo assim? Neste mar de coisas comezinhas onde naufragavam à deriva a amizade, a cumplicidade e todas aquelas coisas que aprendemos fazer parte do contrato maior que é ou deveria ser o amor.
A Cliente fala. Diz-me que não lhe apetece voltar para casa quando sai do trabalho e pergunta-me o que pode fazer.
Hoje, quando sair do escritório só há silêncio quando chegar a casa. Parti os pratos há uns tempos atrás, era esta a solução que me apeteceu dar à Cliente. Em vez disso lá lhe dei uma mezinha legal pescrita pelo Código Civil para ela orientar a sua vida.
Porque sim, D. Celeste, às vezes acaba tudo assim.
Depois dos pratos, a sogra que não sai lá de casa, o cão que nunca se leva a passear a tempo e horas, um elenco de queixas, de discussões e de lágrimas.
Oiço-a e pergunto-me, acaba tudo assim? Neste mar de coisas comezinhas onde naufragavam à deriva a amizade, a cumplicidade e todas aquelas coisas que aprendemos fazer parte do contrato maior que é ou deveria ser o amor.
A Cliente fala. Diz-me que não lhe apetece voltar para casa quando sai do trabalho e pergunta-me o que pode fazer.
Hoje, quando sair do escritório só há silêncio quando chegar a casa. Parti os pratos há uns tempos atrás, era esta a solução que me apeteceu dar à Cliente. Em vez disso lá lhe dei uma mezinha legal pescrita pelo Código Civil para ela orientar a sua vida.
Porque sim, D. Celeste, às vezes acaba tudo assim.
domingo, outubro 18, 2009
não me agarres
não me agarres: não tenho salvação. não me sei olhar ao espelho. não gosto de me tocar. nem de me abraçar. não me sei amar a esse ponto. não sei como é amar assim. como se fosse fácil gostar de mim.
não me agarres: presa, estou eu há muito tempo aqui. e sabes, e isso já é tempo demais. há tanta gente que precisava do meu tempo para viver, e eu desperdiço-o.
não me agarres: lá fora há o sol e o mar à tua espera. aqui não há nada para ninguém. um copo meio vazio que alguem se esqueceu de deitar fora.
não me agarres: presa, estou eu há muito tempo aqui. e sabes, e isso já é tempo demais. há tanta gente que precisava do meu tempo para viver, e eu desperdiço-o.
não me agarres: lá fora há o sol e o mar à tua espera. aqui não há nada para ninguém. um copo meio vazio que alguem se esqueceu de deitar fora.
não me agarres: não me sei amar assim.
quarta-feira, outubro 14, 2009
quarta-feira, outubro 07, 2009
Para o futuro
E agora, projectos para o futuro?
Esta foi o início de uma conversa que acabei antes de a mesma tomar outros rumos. Finji um ar feliz por mais esta batalha profissional ganha e agradeci os parabéns.
Consola-os ver-me feliz: os familiares e amigos aplaudem de pé, quem me paga os vicios rejubila de gozo.
Cá dentro: igual ao antes, igual ao depois. Dormente.
Projectos para o futuro: nenhuns. O futuro já passou aqui. Bateu à porta sem ser convidado e eu recusei a entrada.
Não quero nada. Não espero nada. Não luto por nada. Não vibro com nada.
"À parte disso tenho em mim todos os sonhos do mundo".
Ou não.
Esta foi o início de uma conversa que acabei antes de a mesma tomar outros rumos. Finji um ar feliz por mais esta batalha profissional ganha e agradeci os parabéns.
Consola-os ver-me feliz: os familiares e amigos aplaudem de pé, quem me paga os vicios rejubila de gozo.
Cá dentro: igual ao antes, igual ao depois. Dormente.
Projectos para o futuro: nenhuns. O futuro já passou aqui. Bateu à porta sem ser convidado e eu recusei a entrada.
Não quero nada. Não espero nada. Não luto por nada. Não vibro com nada.
"À parte disso tenho em mim todos os sonhos do mundo".
Ou não.
sábado, outubro 03, 2009
Lembra-te
Tu ficas, eu parto; através do tempo suspenso da espera.
Lembra-te: é no beijo de despedida que começo regressar.
Lembra-te: é no beijo de despedida que começo regressar.
domingo, setembro 27, 2009
De luto...
Luto para que sejas tu. Na maior parte dos dias, fecho os olhos com muita força e tento esquecer esta luta. Porque é uma luta inglória. Não podes ser tu.
Sou tua.
Mas a alguém que me ofereça um sorriso, deixo escapar um gosto de ti telenovelesco. Se me abraçarem forte, digo sim a um eventual compromisso de vestido e grinalda.
E sim, vendo-me por pouco. Afinal tens tudo o resto.
E não podes ser tu. Luto diariamente para que não o sejas. Com uma vontade férrea. Esmago desejos e beijos. Engulo soluços e palavras. Encolho-me neste lado do silêncio.
Quero que sejas feliz. Quero ser feliz.
(ainda assim luto para que que sejas tu)
sexta-feira, setembro 18, 2009
O que sei da vida
O que sei da vida: Que se acaba. Que se derrete no milésimo de segundo em que adormeceste e passaste o sinal vermelho. Eu ia morrendo e tu navegas pela morte à procura de um caminho na cama do hospital.
O que sei da vida: Que se acaba lentamente numa cadeira de rodas com um cancro a corroer-te o cérebro e coarctar-te para sempre os movimentos, a fala, a visão e a audição.
O que sei da vida: Que se acabou hoje neste cemitério.
Ainda é Verão e chove. A vida acabou-se por detrás dos óculos escuros que sustém as lágrimas que não podemos chorar à frente uns dos outros. E admitir que a vida se acaba assim depois de um transplante que prometia os anos em que poderias continuar por cá. A sorrir. Tinhas um sorriso lindíssimo de manhã quando chegavas ao trabalho e dizias que era bom continuar por cá.
Neste Verão parece que o que sei da vida se resume a isto: ela acaba-se.
(E talvez tenhas razão, é bom continuar cá... mas não nestes dias em que tudo se acaba.)
O que sei da vida: Que se acaba lentamente numa cadeira de rodas com um cancro a corroer-te o cérebro e coarctar-te para sempre os movimentos, a fala, a visão e a audição.
O que sei da vida: Que se acabou hoje neste cemitério.
Ainda é Verão e chove. A vida acabou-se por detrás dos óculos escuros que sustém as lágrimas que não podemos chorar à frente uns dos outros. E admitir que a vida se acaba assim depois de um transplante que prometia os anos em que poderias continuar por cá. A sorrir. Tinhas um sorriso lindíssimo de manhã quando chegavas ao trabalho e dizias que era bom continuar por cá.
Neste Verão parece que o que sei da vida se resume a isto: ela acaba-se.
(E talvez tenhas razão, é bom continuar cá... mas não nestes dias em que tudo se acaba.)
quinta-feira, setembro 03, 2009
Vivemos a perder.
Vivemos a perder. Todos os dias abandonamos alguém à beira da estrada. Todos os dias nos despedimos de alguém que no dia seguinte não vamos ver. Dizemos adeus a um rosto, sem lhe conhecer o sorriso, dispensamos corpos sem lhes enxergar os encantos. Amordaçamos as vozes sem sequer lhes proporcionar o tempo de uma conversa banal. Escondemo-nos na gola do sobretudo para não ver a lágrima do outro cair. No silêncio de nós. Vamo-nos embora todos os dias, sem sequer reparar no esmero dos novos sapatos de quem nos impediu de morrer.
- Fica bem?- pergunta o homem de bata branca que me salvou as memórias.
- Ficarei. Fico sempre bem antes de morrer.
Ri-se. Afaga-me o cabelo despeitadamente. Podia ser meu pai. Meu professor. Meu amante.
Agora, encostada ao vidro do táxi, amachuco com força as prescrições de nomes compridos e comprimidos em linhas paralelas. Que nunca se encontram: memória do muito que se lançou ao desbarato.
Ficam as perdas inevitáveis. O tempo quase irrecuperável. Como daquela vez, em que roguei que te fosses embora, quando só queria que ficasses. Desviámo-nos do caminho um do outro. Apartámos palavras e afastámos emoções. Só para ficar longe. Para perder.
E já perdemos tanto...
- Fica bem?- pergunta o homem de bata branca que me salvou as memórias.
- Ficarei. Fico sempre bem antes de morrer.
Ri-se. Afaga-me o cabelo despeitadamente. Podia ser meu pai. Meu professor. Meu amante.
Agora, encostada ao vidro do táxi, amachuco com força as prescrições de nomes compridos e comprimidos em linhas paralelas. Que nunca se encontram: memória do muito que se lançou ao desbarato.
Ficam as perdas inevitáveis. O tempo quase irrecuperável. Como daquela vez, em que roguei que te fosses embora, quando só queria que ficasses. Desviámo-nos do caminho um do outro. Apartámos palavras e afastámos emoções. Só para ficar longe. Para perder.
E já perdemos tanto...
sexta-feira, agosto 28, 2009
Ainda vale a pena...
Releio alguns posts do blog e fica a emoção de seis anos. Os afectos, as histórias, as pessoas mascaradas por detrás das palavras filtradas sempre, para sempre, pelo subjectivismo dos meus olhos. Seis anos em seis palavras de seis emoções: amor, lágrimas, sonhos, esperanças, solidão e saudades.
No fim sempre os sorrisos. Os meus que hoje são apenas uma sombra. Perdem-se na transparência de algumas lágrimas que deixo cair sem querer. Releio-me. E sim, ainda faz sentido continuar. A sorrir.
No fim sempre os sorrisos. Os meus que hoje são apenas uma sombra. Perdem-se na transparência de algumas lágrimas que deixo cair sem querer. Releio-me. E sim, ainda faz sentido continuar. A sorrir.
sábado, agosto 01, 2009
pensamento, instante, meu.
Não é importante… por isso posso tê-lo só para mim.
O pensamento, instante, meu.
Aninhaste-te na curva do meu corpo. Encaixado na dobra dos meus joelhos magoados e ausentes. Queria poder-me virar. E aninhar-me em ti. Ficar com os meu peito preso às tuas costas. Penso, mas não é importante. Nem sequer pode querer ser importante, mas neste instante, meu, queria ser homem. Para poder afundar-me em ti. Entrar dentro de ti. Possuir-te assim com os meus joelhos magoados encaixados na dobra da tua perna, a respirar o teu cheiro. A minha mão pequena pousada, dentro dos teus boxers, acariciando o osso da anca. Ainda o osso mais belo do nosso corpo. Como nas aulas de anatomia em que me apaixonei por esse osso.
E que hoje é o meu limite. Debaixo dele já não há dor. Nem ardor. Em nada. Só ausência. De mim mesma. sem movimento a que possa chamar meu. Foste tu que dobraste os meus joelhos magoados e ausentes para eu poder adormecer. Fazes isso todas as noites. Antes, a minha posição preferida era assim.
No pensamento, instante, meu, queria ser homem, para poderes ser meu. Mulher, já não sei ser e tu já não precisas que o seja, nunca mais. mesmo que nunca mais seja muito tempo. E o tempo, sabemos, só é incerto e turbulento. Como quando, no acidente, me pediste para não morrer. Contas-me que abri os olhos e fiz um esgar de lábios que para ti significou um sorriso. Por isso acreditaste. E depois nesses meses de camas cinzentas, pegaste-me na mão e pediste para ter força. Aguentar tudo aquilo. Olhar para os joelhos magoados e ausentes e não desistir de os amar. Não desistir que eles fosse meus.
Deixei de querer coisas. Orientei a minha rotina pelos teus pedidos, as tuas súplicas em tom de ordens impossíveis de incumprir. Meu, pensamento, instante. Queria ser homem para te poder ter. Energica e violentamente. Primeiro na minha boca, lembrar-te-ás do seu sabor? Quero entrar em ti. ser a tua extensão natural. como se nos pudessemos por esse cordão umbilical. e dar-te prazer. todo o prazer. tremer o teu corpo contra o meu e fazer-te vir. em mim.
Aninhaste-te na curva do meu corpo. Encaixado na dobra dos meus joelhos magoados e ausentes. Queria poder-me virar. E aninhar-me em ti. Ficar com os meu peito preso às tuas costas. Penso, mas não é importante. Nem sequer pode querer ser importante, mas neste instante, meu, queria ser homem. Para poder afundar-me em ti. Entrar dentro de ti. Possuir-te assim com os meus joelhos magoados encaixados na dobra da tua perna, a respirar o teu cheiro. A minha mão pequena pousada, dentro dos teus boxers, acariciando o osso da anca. Ainda o osso mais belo do nosso corpo. Como nas aulas de anatomia em que me apaixonei por esse osso.
E que hoje é o meu limite. Debaixo dele já não há dor. Nem ardor. Em nada. Só ausência. De mim mesma. sem movimento a que possa chamar meu. Foste tu que dobraste os meus joelhos magoados e ausentes para eu poder adormecer. Fazes isso todas as noites. Antes, a minha posição preferida era assim.
No pensamento, instante, meu, queria ser homem, para poderes ser meu. Mulher, já não sei ser e tu já não precisas que o seja, nunca mais. mesmo que nunca mais seja muito tempo. E o tempo, sabemos, só é incerto e turbulento. Como quando, no acidente, me pediste para não morrer. Contas-me que abri os olhos e fiz um esgar de lábios que para ti significou um sorriso. Por isso acreditaste. E depois nesses meses de camas cinzentas, pegaste-me na mão e pediste para ter força. Aguentar tudo aquilo. Olhar para os joelhos magoados e ausentes e não desistir de os amar. Não desistir que eles fosse meus.
Deixei de querer coisas. Orientei a minha rotina pelos teus pedidos, as tuas súplicas em tom de ordens impossíveis de incumprir. Meu, pensamento, instante. Queria ser homem para te poder ter. Energica e violentamente. Primeiro na minha boca, lembrar-te-ás do seu sabor? Quero entrar em ti. ser a tua extensão natural. como se nos pudessemos por esse cordão umbilical. e dar-te prazer. todo o prazer. tremer o teu corpo contra o meu e fazer-te vir. em mim.
não é importante. pensamento, instante, meu.
terça-feira, julho 07, 2009
Se existes
Se existes... é porque te inventei. Colori uma história e fi-la acontecer em mim. Personagem de ficção cozinhada no vapor acelerado das novas tecnologias. Algures, distrai-me contigo e enganei-me na receita. Deixei-me queimar.
Apago-te. Não darias uma boa história.
Apago-te. Não darias uma boa história.
domingo, julho 05, 2009
porque...
Porque os teus beijos não são promessas. porque os teus olhos brilhantes não são contratos irrevogáveis. porque as tuas mãos entrelaçadas com as minhas são um mapa de estradas confuso.
porque és ainda um sorriso.
espero.... até seres um barco a chegar.
porque és ainda um sorriso.
espero.... até seres um barco a chegar.
terça-feira, junho 16, 2009
I- Carta
Instruções
Tens de me ler até ao fim. Sem hesitações. Podes parar para sacar do cigarro ou beber um gole de água, porque isto vai demorar muito e tu vais ter sede ao fim de uns minutos, já te conheço, afinal já se passou algum tempo entre nós. Se te apetecer, podes também petiscar umas pipocas ou uns cajus com sal para aligeirar o ambiente intimista e melancólico. Peço-te apenas que não te disperses demasiado e sobretudo não a leias em voz alta. A tua voz distorce tudo...
Podemos começar assim pelo princípio das cartas, a indicação do dia de hoje. Hoje, um dia como outro qualquer, é apenas quarta-feira, a data verdadeiramente dita e explicada como vem no calendário até poderia ter importância, mas hoje é um dia como outro qualquer.
Agora situo-te no local onde estou, no meio da serra de Sintra ou monte da lua, como sempre preferi chamar. Estacionei o carro, a alguns metros daqui, encontrei um tronco toscamente partido e sentei-me com o portátil no colo. Escrevo-te, portanto daqui, rodeada desta folhagem verde, desta humidade que arrefece o corpo, tornando-o tão frio por fora, como eu própria já o sinto.
E depois o resto, o essencial de tudo isto e o motivo óbvio pelo qual te escrevo, mas que custa tanto descrever.
Seria tudo tão mais fácil sem estas coisas dos sentimentos que atrapalham os pensamentos, aquecem corpos e fazem acontecer desejos.
Disse-te não regresses, como te poderia ter dito “não partas”. Qualquer uma dessas opções teria as mesmas lágrimas a final. E nós já conhecemos tão bem esse final fadado a nós.
Talvez isso torne tudo mais fácil de viver. Se soubermos como vai acabar. E nós sempre soubemos que o nosso amor era um processo urgente. Que não podíamos suspender. Nem parar o tempo. Nem estrangular o que nos corre nas veias. Sempre soubemos que iríamos ser vencidos. E ainda assim…
quinta-feira, maio 07, 2009
Pensamentos
Apetece-me escrever num outro idioma. Borrifar-me para o fogo que arde sem se ver. Para a melancolia do xaile preto que cobre os ombros, para o orgulho que faz acenar as filigranas douradas.
Tudo isto para me esquecer de mim.
Tudo isto para me esquecer de mim.
segunda-feira, março 30, 2009
Espelho d' água.
Colhe-se a luz nas imagens que te enfastiam a memória. Não te escondas nos buracos negros das lembranças. Existimos mesmo um dia. Ainda que por uma noite. Fomos banco de madeira, veludo de cinema e cetim numa qualquer cama. Existimos porque estávamos sozinhos e precisávamos de nós mesmos. De nos ver reflectidos em alguém. As tuas lágrimas a final, não são por mais do que um espelho d’água. Onde me vejo e me encontro. Ainda mais negra do que antes. Antes de te ferir.
Lanço pequenas pedrinhas ao charco para que possas emergir dessa dor excruciante. Provoco-te. Faço-te à viva força lembrar que existo. E que existimos. E que tens que me esquecer.
Espelho d’água em pequenos rodopios de dores. Ainda assim um sorriso. Como eu te lembro.
Nessas nossas noites que ninguém há-de nos roubar.
Nem nós de esquecer.
Provoco-te. Porque me obrigo a esquecer-te. Sem querer.
Lanço pequenas pedrinhas ao charco para que possas emergir dessa dor excruciante. Provoco-te. Faço-te à viva força lembrar que existo. E que existimos. E que tens que me esquecer.
Espelho d’água em pequenos rodopios de dores. Ainda assim um sorriso. Como eu te lembro.
Nessas nossas noites que ninguém há-de nos roubar.
Nem nós de esquecer.
Provoco-te. Porque me obrigo a esquecer-te. Sem querer.
sexta-feira, março 13, 2009
Tão perto e tão longe
Se esticar o braço, toco-te. Se te tocar, ferves por dentro. Mas não mostras. Nunca.Quase nunca, por vezes, nessas mesmas vezes em que te enganas e me permites apanhar-te em falso. Nessas vezes arrisco tudo. O mundo, o sonho, a dor do depois. Quase tudo. Mas estás mesmo aqui ao lado. No toque quente que aquece o frio deste Inverno. No carinho da comida pronta quando se chega a casa tarde. Na felicidade insurrecta de fazer de uma fatia de bolo-rei dura, um delicioso bolo de anos. Na ternura primitiva que permite o aconchego das tuas mãos aos meus seios. Tão longe e tão demasiado perto.
Deixa que me confesse:
Nao mudaste apenas um ano no calendário do amor. Mudaste o amor. A forma e a textura do amor. Mudaste tudo. No fim e imperetivelmente, mudaste-me a mim.
Tão perto de mim, tão longe de seres meu...
Deixa que me confesse:
Nao mudaste apenas um ano no calendário do amor. Mudaste o amor. A forma e a textura do amor. Mudaste tudo. No fim e imperetivelmente, mudaste-me a mim.
Tão perto de mim, tão longe de seres meu...
quarta-feira, março 04, 2009
Faz um frio imenso, sabias?
é um bocado de adeus. é um pedaço do Verão tardio que se desprendeu de mim. é uma pequena despedida porque foi tudo tão pouco. é a página em branco onde dantes abundavam as palavras. é a ausência distante da presença. é o ruído ensurdecedor do silêncio. É o grito que se ignora. é um bocado de adeus. é uma dor agudinha. é o cigarro fumado sem perdão. é o hábito. é por isso um adeus. breve como tudo o que restou de nós. E faz um frio imenso, sabias?
aqui, dentro de mim. onde tu já não podes estar...
aqui, dentro de mim. onde tu já não podes estar...
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