quarta-feira, setembro 10, 2003

As minhas memórias no presente imperfeito

Vivo

na esplanada do café,
em que as nossas mãos,
se podem entrelaçar,
sem que te apercebas,
do quanto te quero,
aqui, junto, o mais perto possível de mim.

Respiro

O ar da cidade,
Das ruas quentes,
E das esquinas frias,
Dos lugares estranhos,
Onde me perco,
E dos outros onde finalmente te encontro.

Amo

Neste quarto escuro,
Onde as sombras,
São pedaços dos meus dias.
Onde viver é morrer,
Amar é apenas chorar.
Choro sempre, e sempre sozinha.

Lembro

Outras esplanadas,
Onde não existia o muro
Em que devagar lias,
O futuro na minha mão.
Inventavas a verdade
Enquanto eu tremia ao ouvir o fim.

Esqueço

Aqueles outros tempos,
Em que os nossos momentos,
Eram cinco segundos.
Habilidosamente roubados
E deliciosamente saboreados
Em silêncios profundos.


Dói

A mágoa que não se esvai,
O silêncio que ficou.
Os pequenos vidros,
Que se espetaram
Como pequenos punhais.
Vindo desse quase nada, que dói para sempre.

Queimo

As tuas malditas cartas,
Em fogueiras imensas,
Que ardem, ardem, ardem,
Se calhar para sempre.
Afinal se és o fogo
Eu sou a lenha que não pára de se queimar.

Olho

O meu reflexo absurdo,
No grande espelho.
De costas tensas,
Perco-me entre o azul do meu olhar,
E a pretidão das tranças fartas
Que enfeitam o meu rosto.

Acabo

Por fim, a minha história
Enquanto me beijas os dedos das mãos
E dizes que não gostas de dramas ou infelicidades
O final é assim só meu nesta esplanada de café.


(Este poema pertence ao baú das recordações, mas hoje deu-me para nostalgias e retirei-o do meu baú. Fiz bem?)

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