Espero por ti se me concederes a honra da última dança. A última de todas. Quando todos já tiverem partido e já não haja ninguém para nos ver. para aplaudir os nossos movimentos desejeitados de tão tímidos e ternos. podes entrar à sucapa a meio do baile ou optar por me espreitar de quando em vez. saberei sempre onde estás. é lá o meu mundo. como poderia simplesmente não te reconhecer? Sente o toque suave da fita de cetim que me prende os cabelos ou do azul do veludo do meu corpete. Sei que sabes, que por debaixo da renda da minha saia se esconde a pele branca torneada das minhas pernas. sabes tanta coisa e no entanto...
Espero por ti se me concederes a honra da última dança. Não importa a idade. se calhar estaremos de bengala os dois e seremos avós. será a derradeira dança entre parufusos que prendem os ossos ao corpo e óculos a derraparem no declive do nariz. serão dois velhos tontos a descobrirem o amor. será a última dança. a mesma que não dançámos quando tínhamos vinte anos e éramos ainda mais tontos.