terça-feira, dezembro 16, 2014

É só isto, desculpa.

Não há nenhum vazio por mais que se procure o coma. Penso, estúpida e reiteradamente no que vai acontecer. No que pode acontecer. Penso que estou a perder tempo a pensar no que não vai quase de certeza acontecer. E pensa-se. E é um aborrecimento. É só isto, desculpa.


quinta-feira, dezembro 11, 2014

Até

Não nos sabemos despedir. Tentámos vezes sem conta; e foram tantas e tão definitivas que na vez antes da próxima prometi que seria a última que o faria.
Esgotada pelo cansaço da sobrevivência ao silêncio, espero adormecer e  quero que saias dos meus sonhos.

quarta-feira, novembro 26, 2014

«Viver não é difícil, difícil é saber viver.»

«Viver não é difícil, difícil é saber viver.»

Ela não sabia nenhuma destas coisas, concluiu. Tinha sempre dúvidas. Nas aulas, antes dos testes, levantava vezes sem conta o dedo com tortuosas questões e hipotéticos cenários. «E se…?» Depois da terceira pergunta já feita com algum estrondo, os professores respondiam com evasivas ou então fingiam não ouvir as suas interrogações impertinentes.

De manhã, em frente ao espelho, questiona-se se aplica rimmel e eyeliner ou só baton ou tudo junto. Ou nada disto. Um vestido pelo joelho ou calças pretas, sapatos de salto alto, ou botas de cano alto.

Ele irá telefonar esta noite?

Não sabe interromper, para dizer que é a sua vez na fila. Que quer atenção. O volume da sua voz vai deflectindo até se transformar num lamento irreflectido e incómodo. Pede que gostem dela. 
Por favor. Obrigada, agradece sempre no final.

Ele irá telefonar esta noite?

Se o amor puder ser uma comodidade atingível, por favor, não o lho digam. A condição de o abismo ser o limite transponível é a mecânica do seu boneco.

Ele irá telefonar esta noite?


Definitivamente, não tem vocação para saber viver. 
Com a palma das mãos tapa os ouvidos até que a voz dos outros deixe de ser ruído e consiga encontrar apenas a sua. E se remende sozinha. 

sexta-feira, setembro 05, 2014

Não o fazemos todos?

Não há tempos definidos nos hotéis. Nada é definitivo. Nunca se fica o suficiente para que nasça a raiz. E são impessoais; os lençóis brancos, os sabonetes, os plásticos que envolvem os copos, a ranhura da porta.
 Ele limita-se a pedir um quarto de casal. Somente para uma noite e para uma pessoa. Ele. Não tem bagagem para além do trolley no qual guarda os documentos profissionais. Agradece e encaminha-se para o elevador.  
Ainda não acende a luz. O que sobra da luminosidade do dia permite-lhe distinguir-lhe a silhueta dos móveis e a sua disposição de forma a não tropeçar se decidir avançar. 
Depois de se despir, acende um cigarro e sente a firmeza do colchão contra as suas nádegas. Não pode fumar no quarto. Já não há quartos para fumadores. Deveria abrir a janela. Mas também duvida que dispare o alarme por causa de um cigarro. E se assim for… pior. O cartão do maço acabado serve-lhe de cinzeiro e por momentos fica indeciso quanto ao que fazer a seguir. Interromper a cadência das acções e a sequência rítmica dos verbos no pensamento é mau. É sempre mau. 
Porque há a dor é suja e velha que habita a pele do corpo que se reduziu aos olhos dos outros e se a deixar tolhe-lhe os movimentos todos.
Precisa de um banho quente e de esquecer. A água escalda-lhe as costas, porém não se importa com a temperatura. É passageira a sensação. A sensação de imundice vai voltar. Assim como a dor inquietante que o fustiga e desanima. E o faz procurar um novo hotel. E não voltar à casa, à cidade onde uma vez pertenceu. Dir-se-ia que foge, numa estúpida tentativa de se encontrar.

Não o fazemos todos?

sábado, agosto 30, 2014

Eu matei um homem

Eu matei um homem.

Não me perguntem o que aconteceu, não sei explicar. A arma descontrolou-se. Ou eu fui que não consegui contê-la entre as minhas mãos. Antes disso o primeiro tiro com a pequena metralhadora correra bem. Depois o homem caído no chão. O sangue misturado com a areia. Os gritos da minha mãe. O meu pai ainda com o telemóvel na mão a filmar, porque atrás da objetiva pode ser que tudo ainda seja ficção como no cinema. Alguém me pega ao colo. Os meus calções cor-de-rosa estão também manchados com sangue do homem que eu atingi com o meu tiro. Acertou-lhe na cabeça. Ninguém sabe se vai se resistir ao ferimento. 

Decido que já não quero usar mais tranças no cabelo. Quero cortá-lo curto. Não quero voltar a ser menina, nem a brincar com bonecas novamente. Também não tenho vontade de chorar. Estou num hospital, numa sala colorida entre desenhos rabiscados nas paredes e cubos no chão, há uma senhora que fala devagar comigo para que eu que também fale com ela sobre o que aconteceu. E eu não sei falar. 

Ainda que houvesse uma pequena esperança que o homem pudesse sobreviver, eu soube desde do início que o tinha matado. Por isso, não sei se há muito a dizer, senhora que falas devagar com uma voz mansinha que me enerva. Também decidi que já não quero um irmão. Ou uma irmã. Sou má. Ia acabar por lhe fazer qualquer coisa também. Não me importo se voltar a cair e a esfolar os joelhos, ou a partir de novo o queixo. Juro que não me vou queixar se doer. Vou abrir os olhos com muita força para não chorar. Como agora. 

Eu tenho nove anos. E matei um homem. 



quinta-feira, agosto 21, 2014

Anestesia

«O copo partiu-se e a água entornou-se.»
 «Não faz mal. Limpa-se e amanhã compra-se outro no chinês.»
(O som agudo do vidro a estalar e a quebrar, tão igual ao que corre cá dentro nos dias que passam.)
«A roupa ficou demasiado tempo na máquina, cheira a mofo. »
«Lavarei novamente. »
(Pudesse eu tão facilmente arrancar o que em mim se oxidou.)
«Mesmo assim eu fico cá esta noite contigo.»
«Obrigada.»




(No princípio foi o beijo, no fim também. )

sábado, agosto 16, 2014

In the end


O tempo é um lugar estranho, habitado pelas memórias que regurgitam em forma de crostas de sangue pisado. Tão pisado. 

No corpo corre sangue novo. Até amanhã. 

sexta-feira, agosto 15, 2014

Duplo Engano- O conto de um Verão

Duplo Engano

Chega cedo ao aeroporto. Não podes carregar mais do que uma mochila contigo no avião. Coloca a tua bagagem debaixo do banco em frente ao teu lugar, ou na bagageira por cima, se alguém te ajudar. Não adormeças. Ouve as instruções de segurança.

Sou outra. Provam-no as minhas calças de ganga estilo “baggy” e os ténis «All-Star» pretos. O cabelo esticado está preso por um elástico. Sem rimmel,  sombras nos olhos ou batom. Não pendem brincos das orelhas como é hábito. Há apenas uma t-shirt branca lisa e um casaco no colo para, quando aterrar, me proteger da eventual diferença de temperatura.
Tenho o cinto de segurança colocado. Pronta para a descolagem.

Não podes carregar frascos com líquidos com mais de cem mililitros. Tens que te sentar direita no avião e pôr o cinto durante a descolagem e aterragem. Não podes levar mais do que um isqueiro. Nem tesouras. Mastiga pastilha elástica por causa da pressão.  Opta pelo modo de voo no telemóvel durante a viagem. 

Estou sentada no lugar do meio. Entre dois homens. Um, entretém-se com uma revista de economia e política que folheia sem perder tempo a ler. O outro, mais velho, de calvície prematura, resmunga com as várias falhas da companhia área, primeiro pelo atraso na descolagem, depois pela temperatura do ar condicionado, e pela já costumeira  falta de espaço entre os assentos numa low-cost. «Viajamos num aviário», é a expressão utilizada. Rio-me. E ele nota. Porque há sempre razões para nos queixarmos, dou-lhe razão. A conversa acaba por acontecer, os temas surgem e prosseguem como cerejas na contagem dos minutos o nosso destino se completar.

Não podes fumar. Evita comer refeições pesadas. Ou beber álcool. Não fales com estranhos.

O outro, o da revista que não lê, pede desculpa e intervém na conversa. É um miúdo novo. Talvez até mais novo do que eu. Tem a barba por fazer porque quer ser mais velho. «E rico, acrescenta sem qualquer pudor a meio da conversa.» No saco das compras do aeroporto, traz tabaco. Contrabando para os amigos ingleses, justifica-se. Rimo-nos. Os humanos são seres gregários. Precisam de partilhar experiências. Neste pedaço de espaço definido no céu, na rota de Lisboa- Londres, acima das nuvens, muito acima dos oito mil pés de altitude, fala-se de tudo. Do que une os homens e as mulheres. Os diferentes idiomas que pronunciámos ao longo das nossas três vidas, as culturas que se gravaram na pele, as pessoas que fizeram acontecer o nosso passado. No fim, o trabalho como única tábua de salvação para a loucura.
«Um dia quero ser pai», diz o mais novo dos homens.
Fecho os olhos com muita força. Despercebidamente, toco-lhe no ombro com o meu. Num mano a mano que significa que também quero ser mãe. «Serás tu um bom pai?»
 Afasto o pensamento marcadamente biológico. Vibrante e orgulhoso, afirma que apesar disso, não se dá a ninguém.
 «Ninguém me conhece.»
Sinto-lhe o luto que se sobrepõe à idade, ao cabelo despenteado e ao sorriso indeciso  de puto convencido. «E tu», pergunta-me. Respiro a mesma falta de amor, apetece-me retribuir.
 «Vou casando», respondo.
O homem mais velho ri-se da cumplicidade que se instalou nos lugares 26 do avião. A sua mente vagueia por todas as mulheres de quem recorda o cheiro da pele, como réplicas de sismos a que submeteu o corpo.
Atesta-nos, a nós, novos na idade e na vida, que a incandescência do amor permanece. Ainda sem sequer nos apresentarmos, olhamos-nos pela primeira vez nos olhos. E não acreditamos nessa qualquer coisa a que não queremos dar nome ou existência. Prende os olhos e faz suar as mãos.

Podes morrer se o avião cair. Se sentires turbulência, olha pela janela. Não desperdices o momento, as nuvens que alcançaste e o medo que superaste. 

A voz do comandante informa que o voo está prestes a terminar. Em Londres não chove. Debita ainda uma série de outras coisas que o meu cérebro não processa. Nem em português nem em inglês. Olhamos para os respetivos relógios. Eu e ele. Passaram já duas horas e meia? Garantiria, a quem mo perguntasse, que passara apenas meia-hora. Apresentamos-nos finalmente: Maria, José. No original.
No desembarque, perdemos-nos do homem mais velho de quem nunca chegámos a saber o nome. Está mais habituado a despedidas do que nós.

Conserva o teu bilhete até abandonares o aeroporto. E o teu cartão de cidadão à mão. Leva contigo as libras.
O aeroporto são quilómetros de pessoas à espera de um sonho. Passaportes e identidades que são verificadas cuidadosamente.
«Qual foi a tua maior loucura?», pergunta-me José, enquanto aguardamos na fila para que as nossas identidades sejam verificadas e possamos entrar em Londres.
Ainda não a cometi, respondo-lhe.
Sim, eu sei, a fotografia do cartão de cidadão não se parece comigo neste momento. Mas, sim sou eu, confirmo em inglês. Ainda que não tenha ficado convencido, deixou-me passar.
E tu quem és, afinal? Como me desencantaste?
Aponta-me o hotel do aeroporto.
 «Temos esta noite. Podemos ser tudo.»
Olho desconfiada para o elevador que nos levará até ao hotel do aeroporto. Ele procura a minha mão e aperta-me os dedos. Estamos parados num corredor. Esbarram contra nós dezenas de pessoas com malas coloridas, crianças e tempos que nunca iremos adivinhar. Paralisámos num abraço estranho em que o desejo se insinua  quente e desconfiado.
«Podemos ter esta noite», repete-me ao ouvido. A barba dele roça no meu rosto. Evito o beijo. Os nossos lábios quase se tocam. Quase que se pode fazer acontecer outro futuro aqui neste território neutro.
Não deixaremos raízes se trocarmos de corpo, se limparmos o sangue e expelirmos o medo, pois não?

Engole sempre as lágrimas. Por mais ácidas que sejam. Mente. Foge de ti e dos outros. 

Os meus dedos ultrapassam a carne do seu rosto branco e pequeno. Quero decorá-lo, sulco a sulco. Os olhos castanhos, a barba por fazer, o queixo aquilino. Preciso que tudo fique retido em mim. Fechar o cheiro e esquecer-me devagar, todos os dias, se possível. Não lhe confesso nada disto.
Por fim, deixo que me aperte a cintura com os seus braços, e sinto, por um segundo, como poderia ser possível tudo isto. Não. Gritei nunca mais, há mais tempo do que tu, desculpa.
As nuvens atravessam-me os olhos.O teu nome e o meu:  José e Maria, no original.
«Promete que vais ser feliz.» – peço-lhe, enquanto lhe beijo a mão.
«Prometo. Mas não me vou esquecer do que poderia ter sido.»
«Não poderia ter sido nada. Só o que foi. O nosso momento de fogo e engano.»
Não olho para trás. Nunca mais.



quarta-feira, julho 30, 2014

Por todos os nomes


É verão.  Apesar disso, a água quente escalda-me as costas. E quase imita um abraço. Possa ser isto o resumo desta história. A despedida concentrada em palavras nas quais falta quase tudo; a explicação, o sentido do fim, a valência dos dias por vir. 

Corrigem-me as palavras e as posição perante a câmara. Dizem-me que deveria dizer isto; para ajudar outras mães, outras famílias, que como eu, tem nomes de filhos e familiares inscritos em manifestos de voos que não chegaram aos seus destinos. Não pensar naquilo. Nas caixas negras que poderão dizer o que te aconteceu. Ou não dizer nada. E ser tudo, um silêncio impenetrável para sempre. Dizem-me que tenho de voltar a mim. Viver novamente. Aprender tudo outra vez. A gostar do sabor das coisas. Como antigamente, quando existias e eu podia esticar a mão e saber que o teu dedo mindinho ia agarrar o meu. 

 Não se esquece porque se perde alguém. São partes de nós que abandonamos na estrada. O sangue que se alimentou. As células que criámos corpo a corpo na rotina dos sonhos, das discussões e dos pormenores que não retivemos.

Não perdoo a fugacidade dos afectos. E ainda assim, isso de nada adianta ao mundo. Ele continua a girar. Impassível perante a tua morte. És só mais um. E meu, tão meu no pequeno gesto de te recordar. 
No lugar dos misseis, há o restolho de palavras de ódio que incendeiam outras explosões de guerra entre pessoas que só conheço da televisão. Dizem que o avião caiu, abatido, por um erro de cálculo. Culpabilizam países com base em evntuais teorias da conspiração para comprar armas e amealhar (ainda) mais dinheiro e poder. 

Não estás cá para documentar o rosto dos que fogem, dos que agridem e dos que mentem. Eu fiquei. E, hoje perante a tua câmara de filmar, não dizendo o teu nome, não mostrando o teu rosto, falo-lhes dos seus mísseis, dos seus erros e de um nosso «nós» que se acabou, meu filho. 

Não preciso de dizer mais nada, se disser apenas voo MH17. Amesterdão- Kuala Lumpur.



terça-feira, julho 29, 2014

Tão pouco

Guarda-se tudo, porque tudo é tão pouco. O gesto, o olhar, as palavras, o beijo. As frases curtas enviadas e recebidas que poderiam ser uma conversa de amor. Não são. Nunca são. E ela sabe.

Cartas-Revista Egoista-Março de 2012

Malmequeres enforcados

(Poderias ter sido tudo e foste apenas palavra. Poderias ter sido tudo e foste apenas um verão quente sem água. Sem ti. É sempre assim. Este fim do nada: no fim do mundo onde nunca nos vamos encontrar.
Tens medo do resto. Eu já não tenho medo de nada. Cresci, começando pelo fim. O sexo antes do amor. O ódio antes da paixão. Tu antes de mim. A morte antes da vida. Os livros pela última página. Mulher antes de ser menina. Pesadelos antes de sonhos. E tu... sempre antes de mim. Poderia ter-te amado se pudesse amar. Se eu conseguisse amar. Poderia ter-te amado se não começasse tudo pelo fim. Em verdade, até a nossa história começou pelo fim: a cumplicidade de dar as mãos em silêncio e saber que nesse silêncio está um amor passado e enterrado. Que nunca existiu. O fim antes do princípio. Nunca meu.
Não me abraces nunca mais.
Assim que o tempo passar sobre nós haverá com certeza realidades que se perderão, palavras a morrer nos lábios ou gritos debelados na garganta. Assim que este tempo passar. As minhas mãos já não serão uma extensão das tuas. Assim que o tempo passar sobre nós saberei que te foste embora. Sem abraços desta vez, promete.
 Assim não nos conseguiremos despedir nunca. E precisamos disso para voltar a viver. Para podermos ser dos outros. Para que o tempo passe por nós e nos apague. Lave o rosto.
Não me abraces.
Nunca mais. )

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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com] 
Enviada: domingo, 23 de Outubro de 2011 01:25
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Adeus.
Hoje se pudesse, se ainda tivesse esse direito, prender-te-ia entre os meus braços. A.V
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De: Sofia Ribeiro [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira , 03 de Janeiro de 2008 14:18
Para: Sandra Cotovia
Assunto: FW: Obrigada
Reencaminho-te os e-mails trocados com o António, cheios de paternalismo e a condescendência. Senti-me ainda mais ridícula depois de ter enviado o e-mail a pedir-lhe desculpas, mas era o mínimo que podia fazer, não concordas? Beijos
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De: Sofia Ribeiro [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 03 de Janeiro de 2008 10:25
Para: António Vaz
Assunto: Obrigada.
Obrigada pela boleia na festa de fim de ano. E desculpe-me pela figurinha triste de quem não sabe beber.
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quarta-feira, 03 de Janeiro de 2008 11:18
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Obrigada.
Não pense mais nisso. Na empresa já ninguém se lembra do beijo que me deu. Dar-lhe boleia foi uma recompensa pequena por me ter feito sentir jovem novamente. Aconselho, se me permite, a não distribuir beijos por aqui. Um dia ainda alguém se apaixona por si. Juízo. AV.
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De: Sandra Cotovia [mailto:sandracotovia@com]
Enviada: quarta-feira, 03 de Janeiro de 2008 14:18
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: FW: Obrigada
Estavas bêbada, pediste desculpa, acabaste o assunto. Ele quer é conversa. Bj
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quinta-feira, 03 de Janeiro de 2008 11:18
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Obrigada.
Não pense mais nisso. Na empresa já ninguém se lembra do beijo que
me deu. Dar-lhe boleia foi a recompensa por me ter feito sentir jovem novamente.
Aconselho, se me permite, a não distribuir beijos por aqui. Um
dia ainda alguém se apaixona por si. Juízo. AV.
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De: Luísa Cotovia [mailto:luisacotovia@com]
Enviada: quinta-feira, 03 de Janeiro de 2008 14:18
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: FW: Obrigada
Estavas bêbeda na festa como todos nós aliás, pediste desculpa pelo
que fizeste, acabaste o assunto. Ele quer é conversa. Não penses mais
nisso. Almoçamos hoje aqui perto?Bj
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De: Sofia Ribeiro [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quinta-feira, 04 de Janeiro de 2008 15:14
Para: António Vaz
Assunto: Obrigada.
Bom sentido de humor pela manhã! Se não sou irresistível deverei concluir
que o António não é imune a mim? S.F.
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quinta-feira, 03 de Janeiro de 2008 16:28
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Obrigada.
Menina-mulher, já deveria ter aprendido que não se faz perguntas para
as quais não quer saber a resposta. A.V
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De: Sofia Ribeiro [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quinta-feira, 03 de Janeiro de 2008 16:28
Para: António Vaz
Assunto: Obrigada.
Devo deduzir então que gosta de mim. Beijos. S.F.
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quinta-feira, 03 de Janeiro de 2008 16:28
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Obrigada.
Se não gostasse, se não a respeitasse, ter-me-ia aproveitado do seu
beijo. Juízo. A.V.
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De: Sofia Ribeiro [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: sexta-feira, 04 de Janeiro de 2008 15:14
Para: António Vaz
Assunto: Obrigada.
Estava bêbeda. Além disso você é casado. O beijo tecnicamente não
contou, ou então foi um beijo técnico, como preferir. SF
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: sexta-feira, 04 de Janeiro de 2008 15:14
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Obrigada.
Um dia destes repetimos. Tecnicamente, é claro. Até amanhã, Sofia.
Durma bem. Beijos. AV.
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(Pedes-me segredo. Do quê, quero perguntar. Não há voz suficiente para que as palavras saiam.
Encontramo-nos neste elevador todas as manhãs, à hora do almoço e depois à tardinha ou em noites de serão de trabalho prolongado. Nada mais. Vivemos para esta troca de olhares. Festejamos os sorrisos e defrontamo-nos em toques desajeitados. As parcas palavras que trocamos podem contar uma
vida inteira.
Desta vez, por uma única vez, parámos o mundo. Dentro deste elevador. Entre o teu e o meu andar. Foi um beijo. Aconteceu. Os rostos confrontaram-se a meio de um sorriso. E não bastou. Não mitigou o desejo. Não queimou a paixão.As portas abrem-se. Não há mais nada lá fora para nós. Pedes-me segredo. Do beijo entre a
tua e a minha vida.)
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De: Luísa Cotovia [mailto:luisacotovia@com]
Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 14:12
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Dia dos Namorados
Pipocas, filmes estúpidos, lenços e álcool para hoje à noite? Noite
para mulheres solteiras? Na tua ou na minha casa? Sais daqui a que desoras?
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Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 14:27
Para: Luísa Cotovia
Assunto: Dia dos Namorados
Tenho planos, desculpa. Acho que é a primeira noite hoje. SF
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De: Luísa Cotovia [mailto:luisacotovia@com]
Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 18:52
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Dia dos Namorados
Isso ainda dura?! Vê lá no que te metes. Mereces mais do que isso,
sabias? Cuida de ti, miúda, por favor!
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 14:27
Para: Luísa Cotovia
Assunto: Dia dos Namorados
Não te espantes tanto e não se trata de merecer. É querer. Beijo
enorme.SF
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P.S- Também te adoro, como sabes.
De: Luísa Cotovia [mailto:luisacotovia@com]
Enviada: quinta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 08:55
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Dia dos Namorados
Faltaram os dois à reunião matinal. Está descansada que ninguém reparou
na coincidência. Como foi?
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 09:27
Para: Luísa Cotovia
Assunto: Dia dos Namorados.
Foi como foi, como imaginei que seria. Sem falsos pudores, romantismo
q.b e sem promessas de depois. Valeu a pena. SF.
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De: Luísa Cotovia [mailto:luisacotovia@com]
Enviada: quinta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 10:13
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Dia dos Namorados
Não sei se deva sorrir por ti. É triste, entendes? Um amor limitado.
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 09:27
Para: Luísa Cotovia
Assunto: Dia dos Namorados.
É o que dá para ser: um amor cronometrado e localizado.
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De: Luísa Cotovia [mailto:luisacotovia@com]
Enviada: quinta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 10:13
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Dia dos Namorados
E isso chega para seres feliz?
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2008 09:27
Para: Luísa Cotovia
Assunto: Dia dos Namorados.
Chega para sorrir e para viver. Não é o mais importante?

(O vento rasga os cabelos, arrepia a voz; é eco e lembra-se de nós. É a testemunha das esquinas frias onde nos despedimos a medo. Ninguém nos pode ver, ou sequer pressentir que não é o vento que me despenteia os cabelos, mas antes as tuas mãos que os puxam. São os teus dedos que se enroscamnos meus caracóis.
Torvelinho secreto de final de tarde que me sacode por dentro. Mais do que que um mero eco? Vendaval que alastra na pele. Tufão de nós)

De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: segunda-feira, 28 de Abril de 2008 17:34
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Olá
Sorrisos para a troca? AV.
De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quinta-feira, 28 de Abril de 2008 14:39
Para: Antonio Vaz
Assunto: Re: Olá
Lábios selados com gloss brilhante. Reunião geral. Encontramo-nos
por lá?
Não sorrio, não falo. Emprestas-me a tua gravata?
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quinta-feira, 28 de Abril de 2008 15:01
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Olá
Para compor a tua toilette, Dra ? Ou para ajudar ao enforcamento colectivo?
Boa sorte para ti, miúda. Os gráficos serão rosa-choque, presumo?
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: terça-feira, 28 de Abril de 2008 20:15
Para: Antonio Vaz
Assunto:Olá
Fui terrível, não fui?
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: terça-feira, 28 de Abril de 2008 20:36
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Olá
Adoravelmente terrível, infelizmente! Correu tudo tão bem que serás
nomeada sócia deste escritório de advogados. Uns destes dias casamos. É
bigamia, eu sei, mas não faz mal, amiga!
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: terça-feira, 28 de Abril de 2008 21:15
Para: Antonio Vaz
Assunto: Re: Olá
Adorei o “amiga” da última frase.
(Esta não podia deixar cair no vazio!)
Bons sonhos.
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: terça-feira, 28 de Abril de 2008 21:39
Para: Sofia Ribeiro
Os sonhos fazem sentido, porque existe esperança.
Eu não sonho, amiga.
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 29 de Abril de 2008 10:15
Para: Antonio Vaz
E isso é tão triste…
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(Nunca pude gritar o teu nome aos quatro ventos. Nem confessar a ninguém isto que me rasga o corpo e corrói por dentro. Não posso dizer porque me gotejam os olhos, ou porque as palavras são gritos que me obrigo a calar.)
(Gosta do corpo, gosta do meu riso, da minha falta de juízo, gosta do meu sorriso de menina, da voz ensonada quando acordo, do cigarro que evito, do café da manhã obrigatório, do beicinho do amuo, das unhas encarnadas, do cabelo encaracolado que passo a ferro diariamente, dos relógios que prendem ao tempo. Gosta do que vês nas fotografias e te faz lembrar de mim. Gosta do que a tua memória imagina de mim e inventa de nós como memória persistente. Gosta das cerejas sumarentas que são como palavras
entre nós. Gosta dos sonhos que se descobrem nas maçãs do meu rosto. Gosta das estrelas que vislumbras no meu olhar.
Gosta do beijo de sabor intenso a desejo. Gosta da minha imunidade contra paixões e quaisquer outras atracções. Gosta de saber que me vou embora a meio da noite. Não gostes de mim. Não me obrigues a dizer que gosto de ti.)

De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 12:05
Para: Antonio Vaz
Assunto: Crescer
Crescer não é mau, princesa. Decidir coisas que inevitavelmente estragam
vidas é que custa. A.V
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 14:26
Para: Antonio Vaz
Assunto: RE: Crescer
Por vezes sinto que não tenho o direito de estar na tua vida. Que não
há espaço para existir. E que sou qualquer coisa como uma bolsa de oxigénio
que precisas para poderes voltar a respirar e submergires de novo na tua
rotina familiar. S.F
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 15:05
Para: Antonio Vaz
Assunto: Crescer
Uma bolsa de oxigénio da Dior, presumo.A.V
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 15:18
Para: Antonio Vaz
Assunto: RE: Crescer
;)  Era a sério o que escrevi. S.F
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 15:05
Para: Antonio Vaz
Assunto: Crescer
É ainda mais sério do que eu e olha o que nos separa. A.V
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 18:18
Para: Antonio Vaz
Assunto: RE: Crescer
15 anos de diferença, uma mulher e uma filha. Não sei se tenho o direito
de existir na tua vida.
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 19:08
Para: Antonio Vaz
Assunto: Crescer
Menina-mulher, não posso dar-te o que queres. Não estarei aqui
sempre para ti.
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 19:38
Para: Antonio Vaz
Assunto: Re: Olá
Corrijo-te: não preciso de ti disponível sempre. Nem para sempre.
Preciso de ti enquanto estiveres aqui. E estás há mais de um ano, devo recordar-
te.
(Ainda sem perguntas, talvez pela serenidade dos 30 que se aproximam
a passos largos.)
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 19:44
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Olá
Puxa, esta frase é um pouquito frio e dura.
Ps. Que direi eu dos meus quarenta e muitos. Muitíssimos quarenta,
se for rigoroso.
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 20:08
Para: Antonio Vaz
Assunto: Re: Olá
A mesma temperatura do teu casamento.
De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada: quarta-feira, 04 de Março de 2009 20:12
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Re: Olá
Nada é assim tão simples, lembra-te disso.
(Deixa que exista um pedaço de qualquer coisa onde eu possa apenas ficar quieta, no qual as minhas lágrimas não perturbem o remoer dos dias. Onde o meu silêncio não signifique gritos magoados e filtrados pela incoerência do dia-a-dia. Deixa a minha almofada, o lado esquerdo do colchão. O resto da casa é tua. Deixa-me as horas mortas da madrugada e o resto do dia será teu. Terei o mesmo sorriso de sempre, a comida à tua espera no prato e o maço de tabaco preto na mesa da sala, o chá quente para engolires os comprimidos. Mas, deixa-me o quadro preto para que eu possa riscar o giz branco e ensurdecer-me com o ruído absurdo. Assim não terei que me ouvir. Deixa-me o espelho da
casa de banho e o batom vermelho, para que, pela última vez, eu possa escrever “amo-te”. Deixa-me um recanto de história para sentir saudades e voltar sempre que o mundo lá fora me magoe demais.
Faz-me ser de outros homens, liberta-me do ensejo de ser tua e larga-me a mão.)
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De: antóniovaz [mailto:antoniovaz@com]
Enviada:
Para: Sofia Ribeiro
Assunto: Adeus.
Hoje se pudesse, se ainda tivesse esse direito, prender-te-ia entre
os meus braços. AV
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De: sofiaribeiro@com [mailto:sofiaribeiro@com]
Enviada:
Para: Antonio Vaz
Assunto: Re: Adeus.
Deveria amar todos os homens do planeta mas... existes tu. E isso
muda tudo. Não deveria. SF.
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(É um bocado de adeus. É um pedaço do Verão tardio que se desprendeu de mim. é uma despedida porque foi tudo tão pouco. É a página em branco onde dantes abundavam as palavras. É a ausência distante da presença. É o ruído ensurdecedor do silêncio. É o grito que se ignora. É um bocado de adeus. É uma dor agudinha. É o cigarro fumado sem perdão. É o hábito. É por isso um adeus. Breve como tudo o que restou de nós.
E faz um frio imenso, sabias?)

domingo, julho 20, 2014

Por favor. Hoje e sempre. Obrigada

"Ela pediu por favor. Como lhe ensinaram em casa e depois na escola. Por favor. Iria agradecer, se possível. Por favor, gosta de mim. Sou loura, dizem que sou bonita, tenho os olhos claros, um corpo que algumas mulheres invejam e os homens reparam quando passam. Ela torna a pedir, por favor gosta de mim. Tenta desviar a alça do vestido para que se note a curva do ombro, como viu num filme que lhe parecera ser sensual e acabara bem. Neste fim, abrupto, finalizado com um “não quero” seco, uma pancada que soa oca no corpo pequeno, não pode dizer obrigada. Repete angustiada o por favor. Não encara isto como uma humilhação, é antes uma condição, de ser mulher, de ser ela, de ser gente. Sabe lá ser diferente. Não tem outro nome, outra identidade para oferecer. O “não quero, que poderiam ser um sem número de razões pérfidas escondidas, um “não” que poderia ser um sim, no mínimo “um talvez”, um amanhã, daqui a um mês o que achas posso voltar a tentar? Por favor. Se se sente um tapete, menos importante do que as outras mulheres, menos importante do que o homem que tem à sua frente e que nunca irá mudar de opinião. Não, não sente. Ela quer apenas dizer obrigada. É a sua esperança. Por favor gosta de mim."

domingo, julho 13, 2014

Por este mundo acima.

Quando for mais velha não vou ter filhos nem casar. Mesmo se me apaixonar, não terei a química que as mulheres sentem pelos homens. Aquela coisa das borboletas no estômago, do suor a escorrer, uma espécie de adrenalina. Não será como é suposto porque estarei sempre numa outra dimensão. Terei esta cicatriz invisível e o silêncio dentro de mim." Patricia Reis- Por este mundo acima.Pág. 55.