quarta-feira, março 10, 2004

A®dor

Doença infecto-contagiosa. Vírus letal. Prisão perpétua. Quarentena eterna, em camas impessoais, onde me deito, me esqueço de ti e me lembro que dói. Tudo. Corpo vivo a morrer em chama ardente. Memória lembrada por esquecer. Ferida que dói e se sente. Vela. Ardor, que inflama o corpo. Dói. Muito... Aqui e agora neste espaço pequenino em que as tuas mãos não tocam nas minhas. Em que estás longe, mesmo que eu te sinta perto. Tanto que parece insuportável não te poder tocar. Frases curtas com palavras grandes que não conseguem esgotar o frio que não se aquece, o ardor que não arrefece, nem com as lágrimas que congelam antes de despontarem nos meus olhos.
Fugir, esquecer, lembrar que estar viva é arrombar cofres e pilhar todos os sorrisos amarelos que se encontrarem. Perder-me para me depois me encontrar num café cheio sorrisos estranhos, onde pedir colo é tão simples como pedir um cigarro ou um gole de água. Morrer devagar, esfumando-se no sabor estranho do tabaco proibido.
Esconderijo forçado. Submundo da solidão. Onde não te encontro e por isso te choro. Pedaço de tempo retirado ao mundo, em que respiro um ar carregado de longos silêncios ,encobertos pela escuridão da noite.
Luz fraca, que não põe a descoberto a ferida e não fere os olhos. Mar imenso e fundo onde mergulho, sem querer, todas as noites. Mais uma noite. Dor. Sempre a dor. E o ardor que vence quase todos os meus sorrisos.



Abril 2001



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