quinta-feira, março 04, 2004

Morte:

Branco, tudo muito branco: velas, lágrimas e dor. Entranhada nos ossos e nos pequenos músculos do coração que o fazem bater mais lentamente, como se quisesse também ele parar. Negro, escuro. Nas roupas carregadas de mágoa.
Uma borracha branca, instantes efémeros que se escreveram a lápis num tempo e num espaço distante. Palavras ignoradas, beijos adiados e quilómetros que não se percorreram.
Tudo branco, os nossos momentos, transformados em mágoas, que nos consomem devagar, lentamente, naquela morte cinzenta de se ir acabando, entre lembranças e lágrimas.
Altar de ninguém; sítio onde não te encontro; muro que separa dois amantes que se queriam juntos e juntos se fizeram eternos, nas lágrimas de cera derretida em igrejas e capelas. Frio, que não se aquece, sombra que não se esquece. Silêncio magoado. A dor ignorada ontem, hoje tão nossa, tão minha, lembrada nos meus dedos que ainda te escrevem cartas, nos olhos que ainda te procuram nos imensos olhos do mundo, nas minhas mãos que ainda querem as tuas. Fogueira. Auto sem Fé. Chamas. Não te oiço, mas sei que me chamas, a tua voz percorre a distância dos quilómetros de estrada com sentido único. Sem mapa e sem sentido. Sinal de paragem obrigatório. Stop, no cruzamento errado. Pelas nossas contas, o sinal só deveria estar muito à frente. Quando fôssemos velhinhos e já não precisássemos de dizer nada. Seria um stop natural, para o silêncio que ficaria quando os nossos olhares se tocassem e as palavras emigrassem para longe de nós. Morte. A tua. A minha.


Julho de 2000

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