terça-feira, julho 10, 2007

às vezes bastava um beijo, sabias?

Escondo as lágrimas, passo a água pelo rosto, olho-me no espelho mal iluminado e penso que tenho de estar apresentavél.
não tenho tempo para chorar. ou para ter pena de mim. ou para sentir. É melhor mesmo nem sentir o que se passa cá dentro. o que mói e o que me esventra por dentro. às vezes bastava um beijo, sabias?
Ajeito as calças e componho o blaser azul escuro. Com a escova, estico os cabelos com força, para matar os caracóis. Eliminar os vestígios de mim na mulher que se reflecte no espelho. nunca se nasce outra vez. Eu queria nascer de novo. Para te tirar de dentro de mim.
Passo o batom nos lábios, em jeito de toque final. Estou pronta.

às vezes bastava um bejo, sabias?

4 comentários:

Anónimo disse...

Um beijo sabe sempre a pouco. O segundo beijo é sempre melhor que o primeiro e os seguintes melhores que os anteriores. Nunca nos devemos dar por satisfeitos com um beijo. Um beijo não basta. Uma festa sim, um beijo não.

Anónimo disse...

"O tempo tem mais olhos que barriga"...
Julgo que não terás tempo para o resto se não te deres ao tempo e resgatares os pedaços que são teus.
Nem tu prória, Maria da Lua, acreditas que esse beijo de bastaria.
Sabes o que procuras e que o bastante nunca te satisfaz quer sob a forma de beijo, palavras...
Alimenta o sonho de cada dia.
Adoro-te!

Anónimo disse...

Incrivel, como o que escreves e' tao profundo... por vezes ate arrepia!!! adoro os teus textos... =) bj

Anónimo disse...

É realmente impressionante o património de vivências que os textos desta sempre surpreendente "Maria" contêm e/ou pressupõem!
É uma "Maria" onde há Teresas Hortas (dos bons tempos e descontados os fatais 'excessos'...), mas também o rigor de uma Isabel da Nóbrega, os "desplantes" e as sempre, de um modo ou de outro, estimulantes 'provocações' da Natália Correia (e--porque não?--da Beauvoir...); a verve da Fernanda Botelho ou da Margueritte Yourcenar; o sentido quase perfeito das dissolução da Duras e até uns "cheirinhos" da nossa boa, "velha", Maria Lamas, hoje-por-hoje tão esquecida!...
Parece-me inevitável concluir que, no dia em que esta "Maria" "arrumar de vez a casa" e começar ela mesma a "depositar-se firmemente no fundo estável de si" pode ser efectivamente um "caso sério" da escrita feminina!
Força, teimosa, persistente, talentosíssima "Maria"!...