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Renalva Resende
D. Margarida. Já ninguém a chama por outro nome. Já ninguém na aldeia se lembra que ela tinha outro nome ou mesmo outra vida para além dos seus enormes campos em que plantava margaridas. É um negócio de sucesso. Porque as suas flores são únicas. Viçosas como nenhumas. Não precisam de aspirinas nas jarras para durarem mais tempo. Duram longe da terra quase um mês. Depois morrem, porque como D.Margarida, explica, murcham porque não aguentam as saudades. São flores famosas estas margaridas, acreditem. Até vem pessoas de fora para as verem. O segredo que não é segredo nenhum, contou ela a uma jornalista dessas revistas de domingo, o segredo é o amor. O amor com que se cuida delas, perguntou a jornalista. E D. Margarida com o seu sorriso de garota ainda cândido e ternurento, respondeu-lhe: Esse também é importante. Mas há outro amor. Bem mais forte do que esse. O amor que me levou a plantá-las. Porque o único homem que amei antes de morrer, comparou-me a uma margarida. Bela, discreta e simples, como uma margarida, disse ele. Ele partiu. Eu fiquei. Nasceram as margaridas. Em memória desse amor. Belo, discreto e simples. Como deveriam ser todos. Como uma margarida...
quarta-feira, junho 30, 2004
sábado, junho 26, 2004
atrás de ti
há um mundo de fantasmas e de sombras que são impossíveis de escrever. Há o racíocinio frio e incontestavél de quem não quer se arriscar a sair do mesmo lugar. Há o não. Sempre frio e insensivél. Há lógica derretida no momento para sempre suspenso de um beijo. Há a certeza firmada em dezenas de palavras. Há tudo isso e ainda mais aquilo atrás de ti. Á tua frente, estou eu. Ainda à tua espera...
quinta-feira, junho 24, 2004
rasgos
... rasgaste-me o sonho. Que era um sol enorme que amanhecia comigo todas as manhãs, que me afastava os caracóis dos olhos e me obrigava a ver o dia. De forma diferente. Indiferentemente da cor que o céu tivesse. Rasgaste-me o sonho, arrancaste-me a pele quando já estava seca e curtida pelo sal de anos de mar, arrasto e solidão. Esventraste caminhos e perseguiste esperanças em mim. Quando sabias que em mim havia apenas espaço para o meu céu, o meu mar e o meu chacimbo de cereja. Inevitavelmente fechaste, com a palma das tuas mãos esguias e silenciosas, os meus olhos. Deixei de me ver. Passei-me a encontrar apenas no seguimento dos teus dedos e fiquei até te ver deslizar de novo por entre as águas devolvendo-me por fim ao meu tabaco de cereja, ao meu mar e ao meu céu. No final das contas os meus companheiros de sempre.
quarta-feira, junho 23, 2004
Ontem
Hoje ou amanhã. Ontem podia ter sido num dia como outro qualquer. As olheiras e a rouquidão de hoje poderiam ser de um outro dia perdido no calendário. Foram de ontem. Das lágrimas e dos risos. Das gargalhadas e das birras. Dos amuos e dos abraços sentidos. Das palavras que se disseram entre todos nós. Do muito que se viveu e sentiu.
Vida. Sonho. Adolescência. Somos imortais. Temos a vida na mão.Adiamos tudo. Tudo aquilo que deveria ser importante. Seremos irresponsáveis, sem dúvida. Porque ontem era tudo ainda mais possivél do que nos outros dias normais. Ontem éramos todos mais nós. Sem máscaras ou defesas. Com sono, com fome, com frio e ressaca de tabaco. Ontem fomos nós. Fomos o sonho de uma vida em que parece que já se viveu tanto e quando damos por nós numa varanda qualquer a rir de madrugada, percebemos que ainda não vivemos nada. Apesar de tudo. É bom sentir que sim. Que ainda é possivél sonhar. Ontem. Hoje ou amanhã. Fazem sentido estas olheiras e esta rouquidão. Porque faz sentido sonhar e sentirmo-nos imortais.
Vida. Sonho. Adolescência. Somos imortais. Temos a vida na mão.Adiamos tudo. Tudo aquilo que deveria ser importante. Seremos irresponsáveis, sem dúvida. Porque ontem era tudo ainda mais possivél do que nos outros dias normais. Ontem éramos todos mais nós. Sem máscaras ou defesas. Com sono, com fome, com frio e ressaca de tabaco. Ontem fomos nós. Fomos o sonho de uma vida em que parece que já se viveu tanto e quando damos por nós numa varanda qualquer a rir de madrugada, percebemos que ainda não vivemos nada. Apesar de tudo. É bom sentir que sim. Que ainda é possivél sonhar. Ontem. Hoje ou amanhã. Fazem sentido estas olheiras e esta rouquidão. Porque faz sentido sonhar e sentirmo-nos imortais.
sábado, junho 19, 2004
Incompletos e suspensos
Ainda continuamos assim. Talvez ainda mais do que dantes. Quando tudo era ainda um sonho por acontecer. Descoberta, novidade, paixão. Ainda és tudo isso. E já passou tanto tempo. És talvez mais. És tudo. O sonho de ontem, o acontece de hoje e um futuro demasiado imprevisivél de amanhã.
Serás tudo isso. Somos o que somos. Incompletos e suspensos. Como sempre. Para sempre?
Serás tudo isso. Somos o que somos. Incompletos e suspensos. Como sempre. Para sempre?
quinta-feira, junho 17, 2004
A ti
que sabes sempre quem sou. Que não me perdes mesmo que me ache perdida. Que me encontras em qualquer lugar. Que não te esqueces de procurar em mim os sorrisos. Os olhares de cumplicidade. Que despertas o riso num dia triste. Que me ouves mesmo quando não temos nada para falar. A ti... porque quase nunca há palavras para te agradecer. A ti... porque sim.
quarta-feira, junho 16, 2004
o calor
que me aquece. me enlouquece. me faz querer-te. hoje. cada vez mais. numa noite como esta. o sumo de limão. ácido e frio. a azia de uma despedida. antes o sorriso e a promessa que me forço a adivinhar. voltas? sem me arrefecer. porque agora quero definitivamente o calor. o teu. não me importo a que preço. já paguei tanto. não me importo de pagar tudo. o que ainda resta. para ti. sempre. com calor.
quarta-feira, junho 09, 2004
cansaço
cansaço. muito. um peso incomensuravél nas costas que se curvam perante mais uma rua sem saída. porque sim. porque é preciso pôr-nos de novo em movimento. porque é preciso esquecer ou tentar pelo menos ignorar o cansaço e fazer marcha atrás. regressar ao ponto de partida. a mim. e voltar de novo a olhar em frente. talvez não hoje. porque tudo ainda foi agora. porque as lágrimas cansam quando assomam aos meus olhos e se estendem pelo meu rosto. ainda de menina. ainda cheio de sonhos. de fé no futuro. nesse mesmo que pode ser bem pior do presente que me deixa tão cansada. mas pode ser melhor. bem melhor. é essa a fé. é esse o futuro que procuro em mim. e depois só tão depois em ti.
hoje ainda não. dá-me tempo. deixa que as lágrimas caiam. dá-me o teu ombro. preciso de fechar os olhos. descansar e acreditar. em mim.
hoje ainda não. dá-me tempo. deixa que as lágrimas caiam. dá-me o teu ombro. preciso de fechar os olhos. descansar e acreditar. em mim.
segunda-feira, junho 07, 2004
lembras-te?
Lembras-te do sabor dos meus lábios, da curva do meu pescoço onde descansavas depois de tudo, lembras-te do cheiro a laranja e a chocolate que os meus sentidos absorviam encantados enquanto os teus lábios se demoravam nos meus? Lembras-te das noites de verão em que não conseguíamos dormir e nos deliciávamos com as cervejas geladas bebidas na janela da cozinha, enquanto o mundo acontecia à nossa volta. Lembras-te do resto. Dos ombros que se despiam rapidamente quando a urgência era o nosso único ritmo ou lembras-te das conversas que pareciam sempre diálogos intermináveis dignos de um livro de poesia. Porque afinal de contas escrevíamos nessas conversas a nossa história. Passaram anos. Apetece-me perguntar-te: ainda te lembras?
quinta-feira, junho 03, 2004
do meu quarto
do meu pequeno mundo onde me escondo. me abrigo das injustiças, das desilusões e de todas aquelas outras tristezas que conhecemos de cor todos os dias. do meu quarto onde lisboa à noite parece uma cidade incrivelmente calma. deserta. onde me perco de olhos fechados. e me encontro nas ruelas e travessas. num jogo. às escondidas contigo. que me procuras. me foges. e nunca me achas. do meu quarto. onde os cheiros se misturam com as músicas que enchem o ar. do meu quarto onde o profano do teu corpo seduz o sagrado de um amor. do meu quarto onde nos inventamos e fazemos de conta mais uma vez. prometo que é a última. a última antes da outra. do meu quarto, onde escrevo e sorrio. do meu quarto onde é a tua imagem que permanece fechada em mim.
terça-feira, junho 01, 2004
Encantamentos
encantei-me. encantaram. o sorriso delas. que me seduziu assim que as vi. pequenas e curiosas a pedirem um instante de atenção exclusivo para elas. são crianças. iguais a tantas outras. que me fizeram deixar de olhar ao espelho. de me ver e rever continuamente. o riso delas despertou o meu. o sorriso delas renovou o meu. e o olhar pequeno e terno encantou o meu. agora sei. foi pouco tempo. apenas uma tarde em que lhes falei da magia das letras. em que tentei lhes enfeitiçar o espiríto com livros e estórias. nalgumas sei que consegui. a paixão por ouvir e contar estórias foi despertada. agora só espero que continue nelas. e em mim...
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