quarta-feira, junho 30, 2004

Margaridas

by
Renalva Resende


D. Margarida. Já ninguém a chama por outro nome. Já ninguém na aldeia se lembra que ela tinha outro nome ou mesmo outra vida para além dos seus enormes campos em que plantava margaridas. É um negócio de sucesso. Porque as suas flores são únicas. Viçosas como nenhumas. Não precisam de aspirinas nas jarras para durarem mais tempo. Duram longe da terra quase um mês. Depois morrem, porque como D.Margarida, explica, murcham porque não aguentam as saudades. São flores famosas estas margaridas, acreditem. Até vem pessoas de fora para as verem. O segredo que não é segredo nenhum, contou ela a uma jornalista dessas revistas de domingo, o segredo é o amor. O amor com que se cuida delas, perguntou a jornalista. E D. Margarida com o seu sorriso de garota ainda cândido e ternurento, respondeu-lhe: Esse também é importante. Mas há outro amor. Bem mais forte do que esse. O amor que me levou a plantá-las. Porque o único homem que amei antes de morrer, comparou-me a uma margarida. Bela, discreta e simples, como uma margarida, disse ele. Ele partiu. Eu fiquei. Nasceram as margaridas. Em memória desse amor. Belo, discreto e simples. Como deveriam ser todos. Como uma margarida...

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