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... rasgaste-me o sonho. Que era um sol enorme que amanhecia comigo todas as manhãs, que me afastava os caracóis dos olhos e me obrigava a ver o dia. De forma diferente. Indiferentemente da cor que o céu tivesse. Rasgaste-me o sonho, arrancaste-me a pele quando já estava seca e curtida pelo sal de anos de mar, arrasto e solidão. Esventraste caminhos e perseguiste esperanças em mim. Quando sabias que em mim havia apenas espaço para o meu céu, o meu mar e o meu chacimbo de cereja. Inevitavelmente fechaste, com a palma das tuas mãos esguias e silenciosas, os meus olhos. Deixei de me ver. Passei-me a encontrar apenas no seguimento dos teus dedos e fiquei até te ver deslizar de novo por entre as águas devolvendo-me por fim ao meu tabaco de cereja, ao meu mar e ao meu céu. No final das contas os meus companheiros de sempre.
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