As roupas que caiem no chão. Atabalhoadamente. Com pressa. E sem jeito. É sempre a primeira vez, mesmo para nós, que já andamos nisto há alguns anos. Agora estamos assim: nus perante o outro. E olhamo-nos. Cessa o desejo. Pára o desatino. O tempo queda-se. Afinal é isto a intimidade. Descobres-me as cicatrizes e desvendas-me as rugas, enquanto eu em ti, procuro os primeiros cabelos brancos, uma qualquer tatuagem feita numa noite de loucura e paixão. E de repente, as mãos substituem-se aos olhos. E nesse mesmo repente já pensamos saber tudo um do outro. Pelo menos o que interessa. Que cada corpo é um corpo diferente. Que é sempre a primeira vez que as roupas caiem no chão, é sempre a primeira noite em que se sai a meio da madrugada, sem fazer barulho para não acordar o outro. É sempre mais um engano. Um prazer delimitado.
E que importam essas considerações agora? O teu corpo chama pelo meu. Pede-lhe ainda mais pele, com ainda mais ardor. E já não penso. Sou incapaz de realizar qualquer operação que não seja beijar-te ou ter-te. Ou beijar-te novamente.
E olhar-te. Cada pedaço de pele és tu. E eu quero-te. Mesmo que saias no meio de muitas madrugadas. Numa hás-de ficar. A tua roupa ficará no chão. O teu corpo enrolado no meu e os teus beijos serão os meus comprimidos para dormir, o teu ressonar será a minha canção de embalar, a tua pele será a minha almofada. Afinal, a intimidade também é isto.
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